Novos grupos hospitalares vão aliviar sobrecarga na Grande Lisboa

Novos grupos hospitalares vão aliviar sobrecarga na Grande Lisboa


Saiba que hospital a consultora entende que deve crescer e quais os planos do presidente da ARS, Luís Cunha Ribeiro


O i teve acesso ao estudo encomendado em 2013 pela ARS de Lisboa e Vale do Tejo à Antares Consulting sobre a reorganização da oferta hospitalar da região. 

Mais de três em cada dez doentes que precisam de ser internados na zona Oeste, de concelhos como Mafra, Torres Vedras ou Lourinhã, são encaminhados para a Grande Lisboa por falta de resposta nos hospitais perto de casa. O mesmo acontece com 17% dos doentes da península de Setúbal e 14% do Ribatejo. De acordo com o mais recente estudo sobre a reorganização da oferta hospitalar na Região de Lisboa e Vale do Tejo, a que o i teve acesso, esta é uma das realidades que sobrecarregam a resposta e atrasam os atendimentos.

Na sequência desta análise, revelou ao i o presidente da ARS de Lisboa e Vale do Tejo, Luís Cunha Ribeiro, está a ser ultimada uma proposta ao governo para agrupar os hospitais da Lezíria e da península de Setúbal, para que possam criar sinergias e dar resposta a doentes que acabam por estar a vir para Lisboa quando poderiam ter um atendimento mais confortável perto de casa. Outro objectivo é tornar mais viáveis do ponto de vista financeiro os hospitais da região, tanto os locais como os centrais.

“A ideia é criar um tampão à entrada em Lisboa”, resume Cunha Ribeiro. Nesse sentido, o relatório da Antares Consulting propõe também o reforço da oferta no Centro Hospitalar do Oeste, nomeadamente a criação de uma unidade de cuidados intensivos, consultas de endocrinologia e a abertura de 75 camas até 2025. Já na Grande Lisboa estuda-se a alteração da área de influência do Amadora-Sintra – um hospital “no limite” segundo Cunha Ribeiro –, desviando doentes de freguesias de Sintra para o Hospital de Cascais.

O estudo encomendado em 2013 à consultora pela ARS custou 90 mil euros. O i solicitou o acesso ao trabalho o início do ano passado, tendo recebido o mesmo após parecer positivo da Comissão de Acesso aos Documentos Administrativos, já que a ARS alegava ser um documento de trabalho. A última versão foi actualizada em Abril de 2014 com as projecções populacionais do INE.

Cunha Ribeiro justifica a contratação externa deste trabalho em pleno processo nacional de reforma hospitalar – medida por cumprir do Memorando de Entendimento – com não haver um gabinete de estudos na ARS. Diz que o estudo ficará e vai permitir decisões menos “instintivas”. Muitas propostas, por exemplo no que diz respeito à oferta de especialidades, não serão, porém, aplicadas por ordem superior, garante o responsável. Caberá às administrações dos centros hospitalares mas também dos futuros grupos hospitalares apresentar soluções para as suas carteiras de serviços – processo que Cunha Ribeiro diz estar em curso. O responsável admite ainda assim que a constituição dos tais grupos hospitalares produza alterações mais imediatas que as que têm sido observadas nos centros hospitalares da capital, cuja reorganização está dependente da abertura do Hospital Oriental de Lisboa. Está previsto que este novo hospital, em Chelas, absorva hospitais antigos, como
S. José ou Santa Marta, e abra em 2017.

Setúbal e Ribatejo Numa altura em que tem sido questionado se haverá novidades na reforma hospitalar do SNS até ao final da legislatura – e em que o governo não esclarece se mantém intenção de rever as redes de referenciação até Junho, como previsto –, é então para a península de Setúbal e o Ribatejo que se projectam mais mudanças. Até aqui apenas os IPO constituíram um grupo hospitalar, também no sentido de criar sinergias, o que, até ver, teve efeito em alguma centralização de compras mas não alterou a resposta clínica no dia-a-dia. Os grupos hospitalares da península de Setúbal e da Lezíria têm um objectivo mais ambicioso: rever a carteira de valências das unidades, fechando ou abrindo especialidades. Está também previsto – aliás, como no diploma que em 2014 definiu quatro patamares de diferenciação para os hospitais do SNS e que ainda não teve implementação prática – que doentes e médicos se desloquem entre hospitais, e Cunha Ribeiro adianta que, neste caso, a deslocação terá de ser paga pelo hospital.

Em termos práticos, a intenção da ARS é a seguinte: os hospitais de Setúbal, o Centro Hospitalar Barreiro Montijo e o Hospital Garcia da Orta passam a estar juntos no grupo hospitalar da península. Já o Centro Hospitalar do Médio Tejo (CHMT)_e o Hospital de Santarém unem–se no grupo hospitalar da Lezíria. Mantêm gestões autónomas mas passam a trabalhar em conjunto, podendo fechar ou abrir serviços entre si, seguindo ou não as propostas da Antares (ler ao lado), garante Cunha Ribeiro. Os consultores propõem que o CHMT tenha dermatologia, só sendo encaminhados para a capital os casos mais complexos. E tanto este centro (que inclui os hospitais de Abrantes, Tomar e Torres Novas) como o Hospital de Santarém deverão ter oferta de endocrinologia.