Luís Figo é um ícone do futebol mundial. Ao todo, 167 golos em 922 jogos entre Sporting, Barcelona, Real Madrid, Inter e, claro, selecção. Sim, Real e Barça. O homem não teme o mundo. Nem sequer os catalães. O clique dá-se no Verão de 2000._Quando toda uma cidade se apoia no 7 (ainda por cima como capitão) e este assina pelo arqui-rival está o caldo entornado. A pressão é imensa._Colossal. Ninguém a imagina na sua plenitude._E poucos a suportam. Figo aguenta. E é campeão espanhol na primeira época de branco vestido. É uma vitória do Real e sobretudo pessoal. Olé.
{relacionados}
Passam-se uns anos e já estamos em 2009. Figo pendura as chuteiras com 25 títulos, dois deles na selecção (Euro sub-17 e Mundial sub-20), mas não se despede do futebol. Vira dirigente do Inter._E de repente, num passe de magia, anuncia a candidatura à presidência da FIFA. É o primeiro português a fazê-lo. A sua coragem é aplaudida por todos os sectores da nossa sociedade. Só há um que torce (amigavelmente) o nariz. É ele Johan Cruijff, o homem que o treina nos primeiros tempos em Barcelona.
“A candidatura de Figo é excelente, mas precisa de ajuda. Por isso seria positivo que Figo pudesse apoiar Van Praag”, numa alusão ao outro candidato europeu, de origem holandesa como Cruijff, autor deste artigo no diário “De Telegraaf” no dia 2 de Fevereiro. Três meses depois, Figo desiste da candidatura._Que não do futebol. Não tem é paciência para andar mais nos bastidores da bola (que ele bem conhece) e ver aquilo que toda a gente sente quando junta as palavras Qatar e Mundial.
Num texto publicado no Facebook, o português deixa claramente explícito o descontentamento com a falta de força para mudar o rumo da FIFA, assente em dinheiro mais favores elevados a uma potência infinita. “Viajei e conheci gente extraordinária, que reconhecendo o valor de muitas das coisas que foram feitas também se identifica com esta necessidade de mudança, que limpe a FIFA do selo de organização obscura e tantas vezes olhada como espaço de corrupção.” Começa bem.
Há mais? Vamos nessa. “Nestes meses assisti a episódios consecutivos, em diversos pontos do planeta, que devem envergonhar quem deseja um futebol livre, limpo e democrático. Vi eu presidentes de federação que num dia comparavam os líderes da FIFA ao Diabo e no outro subiam ao palco a comparar as mesmas pessoas com Jesus Cristo. Ninguém me contou. Fui eu que presenciei.”
Outra dica. “Não houve um único debate público sobre os programas de cada um. Haverá alguém que ache normal uma eleição para uma das mais relevantes organizações do planeta decorrer sem um debate público? Haverá alguém que ache normal que um candidato não apresente sequer um programa eleitoral para ser sufragado no dia 29 de Maio? Não deveria ser obrigatória a apresentação desse programa para que os presidentes de federações conheçam aquilo que vão votar? Seria normal, mas este processo eleitoral é tudo menos isso, uma eleição. Este processo é um plebiscito de entrega do poder absoluto a um só homem.” Está a falar de Sepp Blatter, o presidente desde 8 de Junho de 1998. O suíço está amarrado ao lugar há 17 anos. Ou será 22? No dia 29, só o jordano Al bin Al-Hussein tem poder para impedir o quinto mandato de Blatter, o tal que chama um figo à FIFA.