Os arquivos de notícias na internet não são muito favoráveis a Luís Filipe Vieira e os adeptos, do Benfica ou não, não perdoam. Estar num cargo tão mediático como o da presidência do clube da Luz aumenta o escrutínio e qualquer declaração sem fundamento – ou que não venha a concretizar-se – é relembrada mais tarde para atacar a credibilidade do discurso de quem lidera o clube.
Os exemplos são mais que muitos. De afirmar que o clube tinha a coluna vertebral do futuro campeão europeu (2002) a ameaçar que se demitia se não atingisse os 300 mil sócios nos meses seguintes (2005), passando pela garantia de que Fariña tinha lugar garantido no plantel em 2014/15 (2013), são muitos os casos em que o que foi dito foi muito diferente daquilo que aconteceu. Por isso mesmo, as promessas que fez durante o período eleitoral para a ida a votos em Outubro de 2012 foram vistas de forma prudente. O presidente e candidato recorreu a uma equação simples que incluía a soma 3+1+50. Pormenorizando, prometia que durante o mandato seguinte o Benfica conquistaria três campeonatos nacionais, chegaria a uma final europeia e ganharia 50 troféus nas modalidades. Tudo isto em quatro anos.
O contexto não era simples. Prometer é fácil, cumprir torna-se mais complicado. O passado recente não deixava grandes indicações, com apenas dois títulos nacionais nos dez anos anteriores (2005 e 2010) e o fim da primeira época foi trágico. O Benfica perdeu o campeonato – dizendo adeus à liderança no Dragão frente ao FCPorto nos descontos – a Taça de Portugal e a Liga Europa, mais uma vez nos descontos. O lugar de Jorge Jesus foi contestado, Vieira foi pressionado para o demitir, mas aguentou a aposta. E dois anos depois o cenário de promessas está muito próximo do sucesso total.
A primeira a ser garantida foi a final europeia. Em 2013, em Amesterdão frente ao Chelsea, o Benfica não ganhou, é certo, mas disputou pela primeira vez um jogo que decidia um título europeu desde a derrota na Taça dos Campeões Europeus em 1990. E, bem vistas as coisas, Vieira não prometeu a vitória mas sim uma presença. E até podia ter prometido a dobrar, já que no ano seguinte a equipa repetiu a presença, desta vez em Turim, perdida para o Sevilha nas grandes penalidades.
O sector da promessa mais fundamental e aquele a que os adeptos dão mais importância é o dos títulos nacionais. E aí é que os três campeonatos em quatro anos pareciam uma miragem. Primeiro, seria sempre necessário conseguir um bicampeonato, algo que fugia desde 1984. Depois, mudar o equilíbrio da balança contra o FC Porto, vencedor de seis títulos em oito anos. Quando o pecúlio aumentou à custa do Benfica em 2013, a margem de erro ficou ainda mais reduzida. Até porque era preciso recuar até 1977 para encontrar o último tricampeonato. Agora o cenário é diferente. OBenfica acaba de festejar o segundo título consecutivo e vai tentar o tri, naquele que será o quarto ano do mandato de Luís Filipe Vieira. Mesmo a tempo, portanto.
Não vai ser fácil. O futuro da equipa da Luz ainda é muito incerto – Jorge Jesus ainda não renovou e é muito cobiçado, tal como algumas das principais referências do plantel – e o FC Porto está sujeito a cada vez mais pressão depois de dois anos em que só venceu a Supertaça portuguesa.
Mundo das modalidades Não há presidências que caiam pelos maus resultados das modalidades, mas não se pode ignorar o carinho dos adeptos pelo eclectismo dos seus clubes. Durante os seus mandatos, Luís Filipe Vieira tem apostado de forma sustentada neste ramo e os resultados estão a aparecer.
Analisando só esta temporada, o clube já ganhou os campeonatos de hóquei em patins e voleibol e mantém em aberto a possibilidade de conquistar os de futsal e basquetebol. Nos restantes troféus, as conquistas também surgem com a mesma frequência, e até já existiram bónus, como a presença na final europeia da Taça Challenge de voleibol. Antes disso, há dois anos, o Benfica conquistou pela primeira vez a Liga Europeia de hóquei em patins.
As contas são positivas. Só no ano de civil de 2015 já foram celebradas 15 conquistas – espalhadas entre atletismo, basquetebol, voleibol, hóquei em patins e futsal, tanto nas competições masculinas como femininas. Nos anos anteriores do mandato, juntam-se também troféus no rugby. Entre as modalidades com mais apoiantes em Portugal, o andebol resiste como aquela em que os encarnados ainda não conseguiram festejar qualquer título durante o actual mandato de Luís Filipe Vieira. O último diz respeito à Supertaça, conquistada a 2 de Setembro de 2012, no mês anterior às eleições.
O número total ascende aos 56 títulos, e também aqui a promessa está cumprida e ainda tem um ano para ser aumentada. Ainda assim, para que a equação atinja a solução desejada por Luís Filipe Vieira em 2012, a prioridade é outra: voltar a vencer o campeonato de futebol. Depois disso sim, a missão estará completamente cumprida.