Quem visitou o Jardim Zoológico de Lisboa até ao final dos anos 90 habituou-se a parar em frente à instalação dos elefantes para assistir a um pequeno espectáculo. Em troca de uma moeda, o tratador dava um amendoim e o elefante tocava o sino. O processo é simples, mas quem trabalha no zoo há tempo suficiente para perceber diferenças entre as últimas décadas garante que era um dos preferidos dos mais novos.
Manuel Silva, que trata de animais há 28 anos e de elefantes há 20, explica ao B.I. que a nova política do zoo aposta em mostrar ao público os comportamentos naturais, evitando tudo aquilo que é provocado pelo homem. Além disso, a obsessão com a comida que recebia em troca desviava todas as atenções do macho. “Não ligava nenhuma às fêmeas. Desde que isso acabou que ele voltou a procriar”, e os resultados estão à vista. Pelo recinto circulam as fêmeas Nina, Luna e Jane e as crias Primavera e Assunção.
“Para mim são como filhos, não consigo escolher um preferido”, confessa Manuel, lembrando os tempos em que políticas menos restritas do zoo permitiam um convívio maior entre os tratadores e os animais. “Limpávamos o recinto com eles ao nosso lado. Enchiam a tromba de água e davam-nos com cada banho…” Agora, por questões de segurança, os animais já estão habituados a entrar na instalação quando é preciso limpar o exterior, e a sair quando os tratadores têm de limpar lá dentro. Apesar da imprevisibilidade do seu comportamento – “basta trovejar para eles ficarem agitados”, garante o tratador –, não deixam de reconhecer aqueles que tratam deles.
“Basta chamá-los que eles aproximam-se logo”, mas com cuidado, porque logo à nascença são animais para pesar 90 quilos, chegando facilmente aos 4500 quilos na idade adulta.
Apesar de já não tocarem o sino em troca de amendoins, o dia-a-dia destes animais não deixa de ser desafiante. O enriquecimento ambiental promovido pelos tratadores passa por colocar caixas de fruta em locais altos para que o acesso ao alimento seja mais difícil e eles se sintam estimulados. Ok, o sino era mais engraçado, mas comer sem esperar nada em troca é bem mais natural.