Crime em Salvaterra. “O meu neto vai levar o castigo que merece”

Crime em Salvaterra. “O meu neto vai levar o castigo que merece”


Daniel terá morto Filipe com uma barra de ferro. O homicídio que envolve jovens de menor idade chocou Salvaterra.


É um assunto sem explicação. Um imponderável que ninguém ousa teorizar. Um acontecimento que chocou uma terra potencialmente pacata.

Daniel José Pereira Neves, 17 anos, nascido em Vila Franca de Xira, é suspeito de ter morto Filipe Alexandre da Costa Coelho, de 14 anos, com uma barra de ferro, a sangue-frio. Sem contemplações. Terá cometido o homicídio no 4.o andar da Rua António Paulo Cordeiro e, segundo os relatos, transportado o cadáver para a arrecadação no 5.o andar do mesmo prédio. Daniel, a mãe e dois irmãos chegaram a viver no mesmo local mas, depois de se mudarem, o suspeito do homicídio terá ficado com as chaves do apartamento.

O avô, José Alberto Neves de Oliveira, foi quem acabou por fazer o papel de pai, já que o verdadeiro pai, o seu filho, viria a morrer de embolia cerebral quando Daniel tinha apenas seis anos.

José Oliveira é conhecido em Samora Correia como “Zé Nabo”. Tem 74 anos, fugiu à tropa antes do 25 de Abril de 1974 e resolveu emigrar para a Venezuela. Regressado a Samora Correia há mais de 30 anos, a uma dúzia de quilómetros de Salvaterra de Magos, desde cedo que assumiu o papel de pai: “Daniel viu o pai, o meu filho, morrer ao pé dele. Morreu de uma embolia cerebral quando o Daniel tinha seis anos”, recorda, “viu-o morrer em casa e, passados seis meses, assistiu à morte da avó.” Zé Nabo não tem dúvidas em apontar estes momentos como os dois grandes traumas na vida de Daniel. “Não o desculpa de nada, mas foram efectivamente dois momentos dolorosos”, recorda.

Zé Nabo é conhecido em Samora Correia por ter tido uma oficina de bicicletas e motorizadas que entregou a um dos filhos. O outro, pai de Daniel, “fazia uns biscates mas, como não se dava bem com o irmão, resolvi separá-los”. “Um ficou com a minha oficina, outro com outra vida”, avança. Zé Nabo recorda que Daniel foi institucionalizado depois de se ter descoberto que roubava telemóveis na escola. Passou por vários centros educativos, entre os quais Caxias e Lisboa, e “também arranjou lá muitos problemas”, conta. “Uma vez ladrão, é difícil deixar”, lamenta Zé Nabo.

A mãe, Susana Pereira, e o pai de Daniel conheceram-se nas festas ribatejanas e tiveram dois filhos:Daniel e outro filho, actualmente com 11 anos. Diz o avô que o miúdo mais novo vê as notícias na televisão e na internet e, por isso, sabe o que se passou com o irmão. Não abre a boca. Está triste, mas não se pronuncia. “É o reverso da medalha, o oposto”, refere o avô.

Zé Nabo não perdoa o neto, assim como a mãe, Susana Nabais, que no Facebook renegou o filho e chegou mesmo a dizer que preferia ter visto o seu filho Daniel no lugar de Filipe. “Compreendo-a e dou-lhe todo o apoio”, sustenta Zé Nabo. “Ele andava com más companhias, era má rês, isso não haja dúvida e, por isso, vai levar o castigo que merece”, atira. O avô ainda não se conforma com o sucedido e adianta que lhe parece “um sonho”. Está à espera que a Polícia Judiciária o venha interrogar, mas garante que conta tudo. Por exemplo, perguntou à mãe do seu neto se Daniel estaria a tomar a medicação. Susana respondeu que o filho não queria. “Pode ter sido um factor importante”, avança.

Da vítima, Filipe Coelho, a vila de Salvaterra não quer falar, mas antes recordar. Amigas da mesma idade vieram de Samora para o funeral e descreveram o amigo como “pacato, bonito, simpático”. Ana, Juliana e Catarina conversavam sobre a tragédia junto à casa onde morava Filipe. Depois do funeral, na passada segunda-feira, não lhes apetecia recordar os acontecimentos, antes as boas memórias que tinham dele. Uma prima do miúdo de 14 anos, que passava junto ao local do crime, parou para explicar que tinha visto o suposto assassino com as roupas do primo, mas nunca imaginou o desfecho macabro. Não hesita em classificar o suspeito como ligado ao tráfico de droga e garante que o crime terá de ter sido cometido por mais do que um, mas deixa as conclusões para a polícia. Um caso em aberto.