Relatos. Atacados com martelos e facas

Relatos. Atacados com martelos e facas


Rohingya descrevem horrores quando não morrem em alto mar.


Depois de um pedido do secretário de Estado norte-americano, John Kerry, a junta da Tailândia – um dos vários países do Sudeste Asiático que continuam a declarar que os migrantes a morrer no mar de Andamão não são problema seu – aceitou há uma semana criar centros improvisados de acolhimento de muçulmanos da minoria Rohingya que alcançam a sua costa. No entanto, segundo jornalistas no terreno, a situação nesses centros, na Tailândia como na Malásia e na Indonésia, é tão negra como as mortíferas travessias que os refugiados têm enfrentado.

“Há muito medo e muito ódio baseado em sentimentos nacionalistas e xenofobia”, disse à Reuters Kaewmala, uma blogger e activista tailandesa que não assume a sua identidade com medo de represálias. “É uma desilusão.”

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Mohammad Rafique, de 21 anos, contava ontem ao “The Guardian” que, na semana passada, foram as autoridades indonésias que primeiro alcançou o bote onde ele viajava com centenas de outros muçulmanos Rohingya e os mandou seguir caminho em condições desumanas até à costa malaia. Lá chegados, os homens são alinhados e espancados pelas autoridades. “Batem-nos com marte-los, usam facas para nos cortar”, declara Rafique, lembrando a violência dentro dos próprios botes entre pessoas de diferentes etnias e religiões. O único documento que Rafique conseguiu salvar antes de fugir da Birmânia é um cartão do alto comissariado da ONU para os refugiados, emitido no Bangladesh.

“Ogoverno [birmanês] está a torturar-nos”, disse ao mesmo jornal Zukura Khotun, mãe de três filhos que fugiu no Norte da Birmânia na esperança de reencontrar o marido refugiado na Malásia. Os refugiados falam de pilhagens e matanças em aldeias pelas autoridades da Birmânia.