Esta semana foi profícua em matéria de defesa para os Estados Unidos e os seis países do Golfo Pérsico. Entre quarta e sexta-feira, Barack Obama recebeu representantes dos aliados do Conselho de Cooperação do Golfo (GCC) para garantir apoios contra o Irão e o seu programa nuclear. E entre conversas “cândidas” sobre “as actividades destabilizadoras [do Irão] na região”, sobre o autoproclamado Estado Islâmico que continua a avançar no Iraque e na Síria e sobre outros assuntos de segurança, o presidente norte-americano tentou ignorar a “afronta”, nas palavras de alguns, que foi a recusa do rei Salman da Arábia Saudita em participar na cimeira – sob o argumento de que tinha de continuar a monitorizar as actuais operações militares que Riade tem em curso no Iémen. (O rei do Qatar também não esteve presente.)
“Fui bastante explícito a garantir que os Estados Unidos vão ficar ao lado dos parceiros do GCC contra quaisquer ataques externos”, declarou Obama no encerramento das reuniões com delegações do Qatar, Kuwait, Omã, Bahrein, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos. E no documento final dos acordos que os EUA e as seis nações do Golfo Pérsico firmaram, lê-se que Washington aceitou fornecer apoios “para garantir a independência política e a integridade territorial [dos aliados] e mantê-los a salvo de agressões externas”.
No seu primeiro mandato, Obama deu 64 mil milhões de dólares em armas ao Golfo
Por outras palavras, referia William D. Hartung num artigo publicado na “Foreign Policy”, o que esteve sobre a mesa não foi o reforço das meras relações diplomáticas entre os países, mas um acordo em que os EUA se comprometem a armar os seis aliados da região em troca de apoios contra o Irão.
“Qual é a melhor forma de mostrar aos amigos que os vamos proteger?”, questionava retoricamente nesse texto o director do Projecto de Armas e Segurança do Centro para Políticas Internacionais. “É vender-lhes armas em avanço no valor de milhares de milhões de dólares. Na realidade”, acrescenta Hartung, “acordos de armas têm sido o instrumento de eleição da administração Obama por estes dias para lidar com tudo, desde operações de contraterrorismo à economia atrasada.”
Durante o primeiro mandato de Obama, iniciado em 2008, a sua administração assinou acordos formais com o GCC para transferências que totalizam 64 mil milhões de dólares em armas e serviços de defesa. Cerca de três quartos desse valor foram exclusivamente atribuídos à Arábia Saudita, aos quais se juntaram mais 15 mil milhões em armas oferecidas a Riade entre 2014 e 2015. Talvez por isso os analistas tenham classificado de “afronta” o facto de o rei saudita não se ter deslocado até Camp David.
Num paralelismo entre Obama e a guerra do Iraque e Nixon e a guerra do Vietname, Hartung sublinha que a actual administração democrata devia fazer melhor do que limitar-se às “feiras de armamento” que têm como convidados regimes do Médio Oriente como o saudita, que usa os investimentos dos EUAhá várias décadas para financiar escolas de wahabismo em várias partes do mundo; essa corrente extremista do Islão é tida como combustível de terroristas como os do autoproclamado Estado Islâmico. “A estratégia [de oferecer armas a estes regimes] já se provou desastrosa”, sublinha o especialista. “Só nos resta tremer quando tentarmos imaginar o que virá a seguir” a este novo acordo de armas.