O Domingo Desportivo fazia a eleição do golo do jornada a cada semana que passava. Havia discussão, claro, porque os critérios eram difíceis de definir – fosse a importância do jogo, uma jogada individual ou colectiva ou a bola a entrar no ângulo – e as conversas de café, trabalho e escola rodavam em torno disso. Maior discussão só mesmo sobre as arbitragens. Qualquer que seja o campeonato, há sempre um manto de polémica sobre decisões que favoreceram o primeiro classificado. Seja o FC Porto de Mourinho, o Sporting de Bölöni ou o Benfica de Trapattoni, as arbitragens estiveram sempre na linha de mira.
Esta época não está a ser diferente e Julen Lopetegui tem sido a voz mais activa no ataque às decisões, que na sua opinião não só têm prejudicado os azuis como beneficiado os encarnados. Nas redes sociais, os adeptos acusam o Benfica de estar a ser “levado ao colo”, de ter “colinho”. As palavras do treinador espanhol doFC Porto no último fim-de-semana reiteraram as ideias: “É um facto que o Benfica é líder. Tem três pontos de avanço na tabela. Mas houve erros, seguramente que não voluntários, mas erros que influenciaram resultados.”
Duelos entre vitorianos e encarnados têm sido recheados de episódios, desde a morte de Fehér à suspensão de Jesus
O departamento de marketing do Benfica lançou uma campanha para inverter o sentido da acusação e garantir que quem leva o clube ao colo são os adeptos. Há cachecóis com a inscrição “#colinho” à venda e houve uma promoção especial para a recepção à Académica em que “colinho” era na bancada família, com imagens de pais com filhos nos braços. Mas não se ficou por aí, visando indirectamente o treinador do FCPorto de 48 anos num anúncio. Ouve-se alguém a chorar e uma outra voz a perguntar o que se passa, direccionada a alguém chamado Julinho. Na resposta, em castelhano, ouve-se: “Eles têm colinho e eu não.” “Mas que conversa é essa, tu tens quase 50 anos”, contra-atacam. Teimosa, a voz insiste:“Eu também quero colinho!”
A liga continuou e, ironicamente, o clube do #colinho pode ser agora campeão no berço da nação. Em Guimarães, a equipa de Jorge Jesus pode alcançar um bicampeonato que foge desde 1984, numa altura em que ainda há outra jornada ainda para disputar. Para o conseguir, precisará apenas de imitar o resultado do FCPorto no Restelo.
Os duelos entre Vitória e Benfica em Guimarães no século xxi têm sido recheados de episódios. Foi no D. Afonso Henriques que Miklos Fehér morreu em 2004 e, mais tarde, que os adeptos do Guimarães fizeram um cordão humano na viagem de autocarro da equipa para apoiar em 2006, época em que estavam a lutar para não descer de divisão – que acabou mesmo por acontecer. Mais recentemente, em 2010, o Benfica perdeu 2-1 num jogo marcado pelas fortes críticas à arbitragem de Olegário Benquerença e a partida do ano passado ficou marcada pelos incidentes entre Jorge Jesus e a polícia durante a invasão de alguns adeptos. Como resultado, o técnico foi suspenso por 30 dias e multado em 5355 euros.
A possibilidade de o Benfica ser campeão em Guimarães está a mexer com a cidade e o presidente da mesa da assembleia geral do clube minhoto, José Isidro Lobo, aconselhou os encarnados a celebrarem noutras paragens, deixando o Toural, largo associado aos festejos doVitória.
O FC Porto continua a alimentar a possibilidade de ser campeão e Julen Lopetegui recusou dar-se por vencido na conferência de imprensa de ontem. “Estamos a pensar no que temos de fazer e não no que pode acontecer”, afirmou, garantindo que não vai perder energia a pensar nos outros jogos, referindo-se ao V. Guimarães-Benfica. A explosão após o jogo com o GilVicente e a resposta de João Gabriel – director de comunicação do Benfica – também foram discutidas, embora o técnico não tenha alimentado mais o assunto: “Não tenho nada para dizer a respeito disso. O clube já tomou posição. O que interessa é o jogo de domingo, um jogo que exigirá de nós o máximo de aplicação e intensidade.”
Lopetegui garante que não vai perder energia a pensar nos outros jogos e recusa discurso derrotista
Os jogos estão todos marcados para as 18h00 de domingo e haverá mais do que o título nacional em jogo. No fundo da tabela, o Penafiel já desceu mas o GilVicente continua a alimentar o sonho de se manter entre a elite. Para isso, torna-se imprescindível vencer precisamente em Penafiel. O V. Setúbal-Arouca junta duas equipas em perigo e poderá haver festa no final dos 90 minutos. Finalmente, na luta pelos lugares europeus, a confusão ainda é muita. Sp. Braga e V. Guimarães têm as vagas garantidas mas a sexta posição ainda está em aberto com cinco equipas com aspirações legítimas para o conseguirem: P.Ferreira, Belenenses, Rio Ave, Marítimo e Nacional. Em Alvalade, Sporting e Sp. Braga vão fazer o ensaio geral para a final da Taça de Portugal, marcada para 31 de Maio.
Decisões na II Liga A penúltima jornada (45.a) do segundo escalão nacional também promete muito, especialmente com o Tondela-Desp. Chaves de domingo (11h15 na Sport TV1). A equipa da casa somou duas derrotas consecutivas em jornadas em que a subida era possível mas continua a estar numa posição muito favorável. Lidera a tabela com 79 pontos, com três de vantagem sobre os flavienses e cinco sobre um trio composto por Sp.Covilhã, União da Madeira e Sporting B.
A vitória garante a subida mas o empate só servirá desde logo se a equipa de Covilhã perder pontos na recepção ao Farense – com o União da Madeira a questão não se coloca porque tem vantagem no confronto directo. O Desp. Chaves também pode subir já mas a conjuntura de resultados é mais difícil: implica ganhar emTondela e esperar que serranos e insulares percam pontos. O União recebe o Santa Clara.