Esta foi uma semana marcada por mais um caso de agressão gratuita entre jovens, que acabou gravada em vídeo e difundida nas redes sociais, televisões e sites dos jornais. É o poder da imagem a potenciar a humilhação de um rapaz que não teve sequer argumentos para reagir a um indeterminável esbofeteamento por um grupo de meninas de discurso arrogante.
Todos nós, jornalistas, fomos levados no impulso de denunciar e de mostrar um acto que nos chocou, algumas vezes esquecendo um dever elementar plasmado no nosso código deontológico, de não exibir o rosto destes menores nas nossas reportagens. Na quarta-feira, no “Jornal 2”, uma psicóloga do Instituto de Apoio à Criança alertava mesmo para os efeitos no tempo destes vídeos que são colocados na internet e que estarão por lá, vagueando no tempo, mas voltando sempre a lembrar a estes “meninos” o que se passou naquele Verão na Figueira da Foz.
A mesma psicóloga voltou a lembrar a falta de acompanhamento, por parte da família, de muitos destes jovens, que também na escola acabam por não ter o apoio atempado para evitar os erros de que todos vão arrepender-seum dia. O pai de uma das jovens agressoras, ainda em choque, confessava que a filha estar agora em pânico já era um bom sinal. Porventura sim, mas não me imagino nesse papel de pai, a perceber que a minha missão poderia ter falhado de forma demasiado grave ao deixar crescer ao meu lado alguém capaz de uma “brincadeira” deste calibre.
As famílias vivem dias de grandes desafios, com o desemprego; a falta de dinheiro para colocar pão na mesa; muitas vezes, as separações violentas de pai e mãe; a falta de tempo e de tacto para chegar ao fim do dia e falar com os filhos, que se perdem noutros desafios, com outros destinos. Cabe aos jornalistas parar e pensar antes de publicar cada notícia. O poder que temos na mão em cada imagem é brutal e pode ter um efeito devastador na mais básica das unidades de cada sociedade: a família e a dignidade de cada um dos seus membros.
Jornalista RTP
Coordenador “Jornal 2” – RTP2
Escreve à sexta-feira