Ótimo!


Claro que, para uma certa seita erudita, isso é crime de lesa-majestade


Este acordo ortográfico dá primazia à fonética sobre a etimologia: interessa-lhe mais como as palavras se dizem do que de onde elas vêm. Director, que ninguém diz direquetor, é simplificado para diretor sem c. O mesmo para actual, redacção, tecto e muitas outras palavras que passam agora a escrever-se como se dizem. É uma convenção como qualquer outra. Afinal, o português é uma língua com oito séculos de vida e que já conheceu muitas grafias. Acho que todos ainda se lembram das “pharmacias” e de “Cintra”. Mas este critério tem uma vantagem simplificadora: basta conhecer os sons que formam uma palavra para as saber escrever, evitando explicações linguísticas que remetem para a arqueologia da língua portuguesa.

Claro que, para uma certa seita erudita, isso é crime de lesa-majestade. De que lhes serviu aprender latim se ele já não serve para explicar as consoantes mudas que recheiam as nossas palavrinhas? E para os marialvas, este acordo é também mais uma machadada sobre o império colonial português e uma usurpação indígena das nossas respeitáveis tradições – hoje levam-nos as consoantes mudas, amanhã acabam com as touradas e, no domingo, ainda proíbem as procissões. Há ainda aqueles que, habituados pela idade e costume, se mostram agora confusos quando são convidados a prescindir das consoantes mudas. E depois toda aquela gente que escreve com erros ortográficos e gramaticais de bradar aos céus, mas que, quando lhes mexem nas consoantes mudas, agarra-se à sua inutilidade como se não houvesse amanhã. Eu, então, acho ótimo.

 

Ótimo!


Claro que, para uma certa seita erudita, isso é crime de lesa-majestade


Este acordo ortográfico dá primazia à fonética sobre a etimologia: interessa-lhe mais como as palavras se dizem do que de onde elas vêm. Director, que ninguém diz direquetor, é simplificado para diretor sem c. O mesmo para actual, redacção, tecto e muitas outras palavras que passam agora a escrever-se como se dizem. É uma convenção como qualquer outra. Afinal, o português é uma língua com oito séculos de vida e que já conheceu muitas grafias. Acho que todos ainda se lembram das “pharmacias” e de “Cintra”. Mas este critério tem uma vantagem simplificadora: basta conhecer os sons que formam uma palavra para as saber escrever, evitando explicações linguísticas que remetem para a arqueologia da língua portuguesa.

Claro que, para uma certa seita erudita, isso é crime de lesa-majestade. De que lhes serviu aprender latim se ele já não serve para explicar as consoantes mudas que recheiam as nossas palavrinhas? E para os marialvas, este acordo é também mais uma machadada sobre o império colonial português e uma usurpação indígena das nossas respeitáveis tradições – hoje levam-nos as consoantes mudas, amanhã acabam com as touradas e, no domingo, ainda proíbem as procissões. Há ainda aqueles que, habituados pela idade e costume, se mostram agora confusos quando são convidados a prescindir das consoantes mudas. E depois toda aquela gente que escreve com erros ortográficos e gramaticais de bradar aos céus, mas que, quando lhes mexem nas consoantes mudas, agarra-se à sua inutilidade como se não houvesse amanhã. Eu, então, acho ótimo.