Não parecia muito entusiasmante o tema “eleições no Reino Unido”.
Ou, se referido aqui e ali, era para dar conta da perspectiva das sondagens, do empate, da ingovernabilidade previsível.
A opinião pública não foi convidada a estar particularmente atenta. As análises foram sempre muito superficiais.
Não foi assim, tempos atrás, quanto à Grécia.
Nesse caso, todos vibravam com o anúncio dos amanhãs que cantavam. O Syriza, a esquerda da esquerda, o supra-sumo da contestação, o mundo novo estava aí, ao virar da esquina.
Talvez por isso, a surpresa e o choque foram maiores.
Anos antes, no auge da crise, os habituais profetas anunciavam a inevitável mudança na Europa.
A esquerda unida jamais seria vencida. Previa-se o triunfo, com todos quantos defendiam o papel omnipresente do Estado a receberem coroas de louros no monte Olimpo.
A direita e o centro, esmagados, assistiriam a tudo de olhos entreabertos.
O Estado que pagava, que financiava, que cuidava, que abonava tudo e todos era o futuro próximo.
O Estado da grande festa, quer das construções escolares quer do “Avante”, reuniria as esquerdas à mesa do Orçamento até à última das migalhas.
Como o slogan escolhido o indica para a Atalaia, “Não há Festa como esta!”.
Era o momento da vingança da França, da Itália, da Grécia. E depois do Reino Unido, da Espanha, de Portugal.
Uma epidemia, um ébola bom, imparável.
De França veio o primeiro aviso. As coisas começaram a não correr como se esperava.
Na Grécia, os gregos votaram em promessas que hoje não regem o país.
Agora, em Inglaterra, foi o princípio do fim.
Os derrotados anunciados obtiveram uma esmagadora vitória. Sozinhos, sem coligação, conseguiram uma absoluta maioria. Os conservadores ganharam, como num desafio de futebol, por três a zero. Os três líderes dos demais partidos concorrentes pediram a demissão por indecente e má figura.
Salvaram-se os nacionalistas escoceses. As virtudes do whisky.
Mas, entre a esquerda, a terra tremeu.
Sempre de coração ao pé da boca, Alegre não se conteve e fez-se triste admitindo que “a vida está difícil para os socialistas”.
Ele não ignora que, aqui ao lado, em Espanha, Rajoy anuncia uma inversão de expectativas.
A Espanha dos mais de 20 por cento de desemprego, da crise profunda, dos escândalos mesmo, parece ser um país em franca e acelerada recuperação económica. O Podemos passou a não podemos. O partido socialista espanhol treme como castanholas.
Ao mesmo tempo em que o ébola mau é declarado vencido, o outro, o alegadamente bom, pára o seu avanço.
E agora, se em Portugal a moda pega?
É que são muitos os sinais de preocupação e insatisfação à esquerda, até de falta de convicção e de esperança.
Uma candidatura presidencial que é uma nóvoa, um Partido Socialista a prometer refazer o futuro à medida do passado, a promessa dos milhares de empregos.
Não há dia que nasça sem uma nova reposição anunciada.
E, muito naturalmente, considera-se inevitável a amortização da dívida, o crescimento das exportações, a reposição gradual de salários e de pensões, o aumento do consumo.
É isto o que o governo tem a dizer?, pergunta o PS. Pois não é mais do que a sua obrigação, acrescenta.
O facto é que o país recuperou o país. O governo foi firme e determinado no único caminho possível. Os empresários arregaçaram as mangas, o primeiro-ministro nunca abandonou o país e hoje estão à vista os resultados da sua determinação.
E, ao arrepio dos profetas, o país escolherá o país no silêncio do voto.
Moral da história: nem tudo o que parece vir a ser acontece como se imaginou.
A surpresa é possível também por aqui.
Deputado do PSD
Escreve à sexta-feira