Portugueses têm menos acesso a programas de reabilitação cardíaca

Portugueses têm menos acesso a programas de reabilitação cardíaca


Apenas 8% dos doentes com enfarte têm acesso a programas de reabilitação cardíaca.


Apenas 8% dos doentes portugueses com enfarte têm acesso a programas de reabilitação cardíaca, importantes para reduzir a mortalidade, ficando bem abaixo da média europeia, que se situa entre 30 a 50%.

As desigualdades na saúde cardiovascular nos países europeus são precisamente o tema central de um congresso que junta a partir desta quinta-feira em Lisboa cerca de 1.500 especialistas de vários países.

Em entrevista à agência Lusa, o presidente da Sociedade Portuguesa de Cardiologia, Miguel Mendes, explicou que Portugal está, ao nível da mortalidade cardiovascular, “a meio da tabela” entre os países europeus.

Os países mais ricos são os que têm melhores resultados em termos de sobrevivência, os da bacia mediterrânea gozam de uma certa protecção pelo estilo de vida e dieta, enquanto os países da Europa de Leste apresentam a mortalidade mais elevada.

Relativamente a Portugal, a mortalidade cardiovascular tem-se reduzido nos últimos anos, embora o cardiologista sublinhe que só há estatísticas conhecidas até 2012.

Apesar desta redução da mortalidade ser positiva, Miguel Mendes considera que o país ainda precisa de se organizar melhor para “dar respostas mais corretas”, sendo também necessário melhorar a educação da população quanto à doença cardiovascular e à correta forma de entrada no sistema – que deve ser feita através do 112 e não por deslocação por meios próprios às urgências.

Quanto ao que é necessário melhorar no sistema de saúde, o presidente da Sociedade de Cardiologia defende uma aposta na reabilitação cardíaca, só cumprida em Portugal por 8% dos doentes, quando há países europeus que chegam a atingir os 90%.

“O tratamento do enfarte agudo do miocárdio é, de facto, muito importante nas primeiras horas e aqui os serviços estão relativamente organizados e temos um sistema que funciona bastante bem. No internamento temos respostas boas. À saída do internamento é que já não estamos em padrões europeus, que tem a ver com a reabilitação cardíaca, um programa de acompanhamento e educação dos doentes”, afirmou Miguel Mendes à Lusa.

A reabilitação cardíaca permite reduzir a mortalidade em cerca de 25%, dado que no primeiro ano após um enfarte tratado há ainda risco de problemas ou complicações.

A reabilitação é um programa de dois a três meses que integra exercício físico e educação do doente e da família em relação aos factores de risco: como controlo do stress, alimentação, eventual adaptação da vida profissional ou retoma da actividade sexual.

No Serviço Nacional de Saúde, apenas existem programas de reabilitação cardíaca nos grandes hospitais do Porto, em Faro e um outro de dimensão reduzida no hospital de Santa Marta, em Lisboa.

“Precisamos de montar uma resposta, sobretudo na zona sul do país”, refere Miguel Mendes, embora reconheça que no Minho e na zona das Beiras não há também qualquer resposta hospitalar ao nível da reabilitação.

Os cerca de 1.500 especialistas que estão reunidos até sábado em Lisboa, no encontro promovido pela Associação Europeia de Prevenção e Reabilitação Cardiovascular, vão debater instrumentos para reduzir a incidência da doença cardiovascular, que ainda é a principal causa de morte no mundo Ocidental, bem como discutir estratégias para fomentar na população um estilo de vida saudável e formas de cada país reduzir os fatores de risco para a doença coronária.

Lusa