Jackson Martínez. O lance que fez lembrar Sepak Takraw

Jackson Martínez. O lance que fez lembrar Sepak Takraw


Segundo golo do avançado colombiano contra o Gil Vicente não se limitou a levantar o estádio. 


O gesto técnico de Jackson e a oposição do cabo-verdiano transportaram-nos para uma modalidade tipicamente asiática.

O FCPorto vencia o Gil Vicente por 1-0 e o jogo aproximava-se do fim. O segundo lugar estava garantido – Sporting ficava fora da corrida mesmo com um empate – e o título mantinha-se em equação. Mais do que isso, Jackson Martínez já tinha marcado e recuperara a vantagem de um golo para Jonas na lista de melhores marcadores. Mas o melhor ainda estava para vir, aos 85 minutos.

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Explicar o lance de forma digna consegue ser quase tão difícil como o sentido da vida. O cruzamento da direita foi atrasado e Jackson recebeu a bola com o pé direito, fazendo-a a levantar acima do nível da cabeça. De costas para a baliza, não pensou duas vezes na forma mais eficaz e rápida de visar a baliza de Adriano Facchini. Um pontapé de bicicleta. Perante a proximidade do central cabo-verdiano Pecks, o colombiano fez o melhor golo da jornada e candidato a melhor do ano, seja em Portugal ou na Europa.

Na repetição, há outro pormenor que fica na retina. Pecks não tentou cortar a bola com a cabeça, mas sim com o pé direito, elevando a perna a uma altura impressionante. Se o frame for o mais correcto, parece que um dos lances mais bonitos do futebol foi transformado num momento banal de uma modalidade asiática conhecida por Sepak Takraw. Que, traduzido do malaio, não é mais do que “pontapé” e “bola de tecido”.

Tailândia domina modalidade mas Vietname, Malásia e Coreia do Sul também já venceram títulos

Há formas e formas de explicar a modalidade. A mais redutora passa por dizer que é uma espécie de fute-vólei mas mais profissional. Há uma rede, colocada a 1,52 metros, e três jogadores de cada lado. Tocar com a mão não é permitido, excepto na assistência para o serviço, e o resto exige uma capacidade única de impulsão e pontaria. Pontapés de bicicleta ou de moinho são dos gestos mais banais da modalidade mas o mais impressionante é que os adversários, para recorrerem ao bloco, fazem algo muito parecido e acrobático. Ou, em casos em que o ataque é mais esperado, podem optar por uma resistência de três jogadores na rede mas virados de costas. Os pontos são quase sempre muito curtos mas nem por isso perdem brilho.

Se o hóquei em patins é praticamente um pequeno feudo da Península Ibérica, o Sepak Takraw tem fortes raízes no Sudeste asiático e tem muita dificuldade em conseguir saltar as fronteiras continentais. A prova mais importante a nível mundial é a Taça do Rei, criada em homenagem ao rei da Tailândia e desde 1992 não houve uma única excepção nos pódios. A Tailândia, como não poderia deixar de ser, é a maior potência, mas Vietname, Malásia e Coreia do Sul também já venceram medalhas de ouro. Na edição deste ano, no entanto, as vitórias foram sempre para a selecção favorita.

A Federação Internacional de Sepak Takraw (ISTAF) decidiu criar recentemente outra prova de carácter global que permite a competição entre as maiores potências asiáticas com os restantes países que começam a dar passos mais sólidos na modalidade. A edição deste ano seria a segunda mas para já foi adiada para evitar que entrasse em conflito com a Taça doRei. Em 2011, a Tailândia venceu tanto em masculinos como femininos. Na competição masculina, EUA e Alemanha alcançaram os oitavos-de-final.

A propagação do Sepak Takraw para outros continentes e países tem-se dado especialmente através de emigrantes, da mesma forma que muitos portugueses criaram clubes de futebol no Brasil e italianos na Argentina. NoCanadá, o aparecimento da modalidade na década de 70 está relacionada com refugiados oriundos do Laos mas encontrou forma de evoluir pelo próprio pé. O fenómeno nos Estados Unidos foi semelhante e em todos os países acaba por ser sempre a curiosidade – ou falta dela – que determina a taxa de sucesso da modalidade.