As quotas dos emigrantes


Mas se o problema existe e com ele somos confrontados constantemente, como ultrapassá-lo?


A emigração, os deslocados, os refugiados políticos são, sem margem para dúvidas, um problema a que ninguém humanamente correcto pode ser alheio. Viver num mundo em que milhões de pessoas sofrem e morrem diariamente não pode ser um modo de vida aceitável para quem ergue a voz em defesa dos direitos humanos e permanentemente subscreve declarações proclamando a paz, a dignidade e a solidariedade. Não duvido, pois, que nenhum ser humano rectamente formado e de mentalidade sã, cristão ou ateu, deixe de se inquietar com as imagens quotidianas do desespero dos refugiados, da aflição dos sobreviventes dos naufrágios, da tristeza de quem perdeu filhos e familiares. Sucede, porém, que entre a consciência do problema e a consciência para a sua resolução vai uma imensa distância.

Não é por acaso que o Papa Francisco tem chamado a atenção para a actual globalização da indiferença, numa mensagem que, em muitos aspectos, segue de perto o que já tinha sido dito pelo Papa Pio XII, em 1952, e pelo Papa João XXIII, na sua encíclica Pacem in Terris.

Mas se o problema existe e com ele somos confrontados constantemente, como ultrapassá-lo? Impondo quotas, como agora pretende a Comissão Europeia, aos países da UE? Decidindo administrativamente quem deve receber quem?

Sugerindo talvez, caso a medida seja aprovada, que cada governo nacional siga idêntico caminho para os seus concelhos, os seus distritos e as suas regiões? Não creio que seja esse o caminho. Segui-lo não só não resolverá o problema como criará outro de graves consequências. Uma solidariedade que apenas existe pela imposição e pelo decreto não é solidariedade, é apenas o abrir portas à revolta. E uma solidariedade que é imposta às nações da Europa, quando muitas destas atravessam graves crises económicas e sociais, só terá o efeito contrário do pretendido. Uma vez mais, Bruxelas não percebe o que se passa na Europa, pela simples razão de que continua cega e surda para a realidade e está radicalmente entrincheirada nas certezas de um imenso vazio.

Professor da Universidade Lusíada
Escreve quinzenalmente à quarta-feira

As quotas dos emigrantes


Mas se o problema existe e com ele somos confrontados constantemente, como ultrapassá-lo?


A emigração, os deslocados, os refugiados políticos são, sem margem para dúvidas, um problema a que ninguém humanamente correcto pode ser alheio. Viver num mundo em que milhões de pessoas sofrem e morrem diariamente não pode ser um modo de vida aceitável para quem ergue a voz em defesa dos direitos humanos e permanentemente subscreve declarações proclamando a paz, a dignidade e a solidariedade. Não duvido, pois, que nenhum ser humano rectamente formado e de mentalidade sã, cristão ou ateu, deixe de se inquietar com as imagens quotidianas do desespero dos refugiados, da aflição dos sobreviventes dos naufrágios, da tristeza de quem perdeu filhos e familiares. Sucede, porém, que entre a consciência do problema e a consciência para a sua resolução vai uma imensa distância.

Não é por acaso que o Papa Francisco tem chamado a atenção para a actual globalização da indiferença, numa mensagem que, em muitos aspectos, segue de perto o que já tinha sido dito pelo Papa Pio XII, em 1952, e pelo Papa João XXIII, na sua encíclica Pacem in Terris.

Mas se o problema existe e com ele somos confrontados constantemente, como ultrapassá-lo? Impondo quotas, como agora pretende a Comissão Europeia, aos países da UE? Decidindo administrativamente quem deve receber quem?

Sugerindo talvez, caso a medida seja aprovada, que cada governo nacional siga idêntico caminho para os seus concelhos, os seus distritos e as suas regiões? Não creio que seja esse o caminho. Segui-lo não só não resolverá o problema como criará outro de graves consequências. Uma solidariedade que apenas existe pela imposição e pelo decreto não é solidariedade, é apenas o abrir portas à revolta. E uma solidariedade que é imposta às nações da Europa, quando muitas destas atravessam graves crises económicas e sociais, só terá o efeito contrário do pretendido. Uma vez mais, Bruxelas não percebe o que se passa na Europa, pela simples razão de que continua cega e surda para a realidade e está radicalmente entrincheirada nas certezas de um imenso vazio.

Professor da Universidade Lusíada
Escreve quinzenalmente à quarta-feira