A tensão entre as polícias e a ministra da Administração Interna é cada vez mais difícil de esconder. Anabela Rodrigues tem até sexta-feira para decidir o que fazer com as propostas de alteração ao novo estatuto da PSP que lhe foram enviadas, no último mês, pelos sindicatos.
Se não quebrar o silêncio e não convocar os polícias nos próximos dias para discutir o diploma, terá de enfrentar a contestação dos homens da PSP. Ontem, contou ao i o presidente do Sindicato Unificado da Polícia (SUP), os vários sindicatos iniciaram contactos para marcar uma reunião conjunta – que, segundo Peixoto Rodrigues, deverá ter lugar no início da próxima semana. Paulo Rodrigues, da Associação Sindical dos Profissionais da Polícia (ASPP), espera que até sexta-feira o MAI comece a enviar as convocatórias às estruturas sindicais. “Se até ao final desta semana não houver um retomar das negociações, partiremos do princípio de que o processo negocial morreu”, avisa o presidente do sindicato mais representativo da PSP.
{relacionados}
O descontentamento dos polícias – partilhado pelos militares da GNR, cujo estatuto está ainda mais atrasado que o da PSP – está a preocupar o governo. Passos Coelho já disse a Anabela Rodrigues que não quer uma manifestação das forças de segurança em vésperas de eleições e terá mesmo dado instruções para que o processo negocial seja levado a bom porto. Ainda assim, a ministra – que já recebeu as propostas de todos os sindicatos há mais de duas semanas – continua sem falar com os polícias.
Problemas de comunicação As dificuldades de comunicação não não se restringem aos sindicatos. Várias fontes do MAI confirmaram ao i que Anabela Rodrigues também não colhe a simpatia das cúpulas da GNR e da PSP. As reuniões de ponto de situação que acontecem no ministério todas as quartas-feiras – com o comandante-geral da GNR e o director-nacional da PSP – mantêm-se, mas têm sido “atribuladas” devido ao suposto “desinteresse” da ministra.
Os problemas, confirmam as mesmas fontes, estendem-se ao próprio MAI. Desde que tomou conta da pasta da Administração Interna, a seguir à demissão de Miguel Macedo, Anabela Rodrigues imprimiu um novo estilo de liderança. Não convive com os funcionários e raramente fala com os assessores e secretário de Estado. Foram esses problemas de comunicação que estiveram, aliás, na origem da demissão recente de Fernando Alexandre, que foi secretário de Estado-adjunto até ao mês passado.
A promoção Anabela Rodrigues estará cada vez mais isolada e afastada das cúpulas das forças de segurança, dos polícias e até da sua equipa no MAI. Trabalha até muito tarde, não responde a pedidos de reunião – vindos de dentro ou de fora do universo das polícias – e só convive com o chefe de gabinete, Fernando Soares. De tal forma que, a seguir à demissão do secretário de Estado-adjunto, terá proposto o seu nome para ocupar o cargo. A escolha foi, no entanto, chumbada pelo governo.
Dias depois, Anabela Rodrigues anunciava publicamente que ninguém iria substituir Fernando Alexandre e que as suas antigas pastas seriam distribuídas por “equipas de trabalho criadas” dentro do MAI. Na prática, os assuntos foram divididos entre si, o secretário de Estado João Almeida e o chefe de gabinete.