As breves sinopses de cada um dos episódios são esclarecedoras, ou quase, dependendo da sua capacidade para filtrar a ironia. “Amy entrevista uma stripper”, “Amy abandona o seu emprego na pornografia”, “Amy é molestada”, “Amy acaba com o seu namorado”, “Amy joga jogos violentos e come a cara de um homem”. Etc, etc, etc. “Inside Amy Schumer” vai na terceira temporada, e pouco mudou desde 2013, quando a série de comédia da Comedy Central se estreou, e o público teve acesso às entranhas da apresentadora. A bandeira feminista continua a esvoçar com vigor, e questões como a sexualidade, os estereótipos de género, ou a imagem do corpo são tratadas pela actriz e comediante sem cerimónias.
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Bom, algumas coisas mudaram. Schumer, uma das actuais it girls do ecrã, chegou a ser acusada de ser pouco sexy para conduzir um programa só seu – acreditamos que ainda haja por aí muito boa gente que continua a pensar isso sobre a senhora “tamanho 6” (qualquer coisa como um 38). Daí que uma paródia como a que assinou recentemente, baseada em “12 Homens em Fúria”, pareça mais oportuna que nunca, com Amy, de 33 anos, a dar à volta ao enredo sobre o sistema judicial americano e a pôr o dedo na ferida da cultura obcecada com o aspecto físico dos actrizes.
“Nunca esquecerei o dia em que percebi que não era propriamente o modelo Ford que pensava ser”, confessa Schumer, que semanas antes assistiu ao efeito viral da sua revisão da música dos One Directon “What Makes You Beautiful”, numa crítica aos padrões de beleza ocidentais. Sem medo de passos em falso, Amy tratou mesmo de se atirar para o chão, aos pés do casal Kim Kardashian e Kanye West, durante o desfile na passadeira vermelha da gala da revista “Time”, em Nova Iorque, a 21 de Abril. Uma partida que a dupla mais conhecida como Kimye não terá levado a mal, apesar do desvio de atenções. Uma vez no interior, Kim terá mesmo manifestado preocupação com o estado de Schumer, depois de mais um episódio igual a ela própria.
Na TV, convidados como Paul Giamati, ou figurações recentes como as de Julia Louis-Dreyfus Tina Fey e Patricia Arquette reforçam o relevo da miúda nascida em Nova Iorque, e que no liceu acumulou rótulos como “Palhaço da turma” ou “O pior pesadelo dos professores”. A primeira experiência na representação aconteceu aos 12 anos, como um extra no drama musical “Newsies”. Formou-se em teatro na Universidade Townson, em 2003, e frequentou o William Esper Studio na sua cidade. No ano seguinte, dava os primeiros passos no stand up. O anonimato terminava com a gravação de um episódio para a Comedy Central, na série “Live At Gotham”. Mais tarde apareceria na temporada de 2007 de “Last Comic Standing”. Seguiram-se aparições televisivas pontuais e a participação em séries como “30 Rock”, “Louie”, “Delocated”, “Curb Your Enthusiasm” e “Girls”.
Pelo meio, recordações da primeira audição, aos 21 anos, quando Amy, descreve a “Elle”, foi encorajada a alterar os valores na balança. “Disseram-me para perder ou ganhar muito peso. Assim daria para fazer de amiga gorda, ou de protagonista romântica. Dá para acreditar nisto?”
Apesar do sucesso, do reconhecimento na rua, mantém os amigos de sempre, continua a frequentar os restaurantes onde sempre foi, e veste-se sem preocupações de vedeta. “Os meus agentes querem matar-me porque ando como se fosse uma sem-abrigo”, admite Amy, que insiste na cruzada feminista, arrisca sem pruridos piadas sobre temas melindrosos (sim, não estranhe se ela se pronunciar sobre violação), e continua a acreditar que uma boa história tem tanto de lúdico como de pedagógico. “Já fui promíscua, e quero que as mulheres se sintam menos solitárias e menos estranhas por terem comportamentos sujos”. É fácil interpretá-la mal, claro, e é por isso que à “Esquire” reafirma o incómodo com esse cartão de visita de “comedidante do sexo”. “Se for um homem a subir ao palco e baixar as calças, toda a gente vai dizer: é um pensador.”
No final de Agosto, será a apresentadora dos MTV Music Awards. O ano de 2015 traz-lhe também “Trainwreck”, filme escrito por Schumer, sobre os dilemas da monogamia, com Bill Hader e a estrela da NBA Le Bron James no elenco, e direcção de Judd Apatow.