Amnistia denuncia abusos a imigrantes na Líbia e pede resposta internacional

Amnistia denuncia abusos a imigrantes na Líbia e pede resposta internacional


A Líbia é dominada por grupos armados praticamente desde o fim do regime de Muammar Kadhafi


A Amnistia Internacional (AI) denunciou hoje os “abusos horríveis” de que são vítimas os migrantes na Líbia e exigiu à comunidade internacional que assuma as suas responsabilidades e disponibilize mais navios de resgate no Mediterrâneo.

Num relatório intitulado “A Líbia está cheia de crueldade: histórias de raptos, violência sexual e abusos contadas por migrantes e refugiados”, divulgada nas páginas internet da organização internacional de direitos humanos, a AI frisa que a violência na Líbia é uma das causas que leva muitos migrantes a arriscarem a vida no mar para chegar à Europa.

“A Líbia é há anos tanto um destino como um país de trânsito para migrantes e refugiados que fogem da pobreza, dos conflitos ou da perseguição na África subsaariana e no Médio Oriente. Mas o aumento da violência (…) exacerbou os riscos que enfrentam, levando até comunidades de migrantes já bem integradas, que vivem e trabalham naquele país há anos, a fugirem para a Europa por barco”, afirmou, em comunicado, o director da AI para África e Médio Oriente, Philip Luther.

O relatório denuncia, com base em testemunhos, os “abusos ao longo das rotas dos traficantes”, que incluem raptos, extorsão e violência sexual, assim como as “condições horríveis” dos centros de reclusão de imigrantes.

A organização lamenta como a comunidade internacional “ficou impávida” perante a degradação da situação e insta os dirigentes mundiais a “assumirem as suas responsabilidades e, em particular, o fluxo de refugiados que fogem do conflito e das violações endémicas dos direitos humanos na Líbia”.

A União Europeia (UE), sustenta a AI, deve disponibilizar mais navios de salvamento para o Mediterrâneo e o Egipto e a Tunísia devem “manter as suas fronteiras abertas para garantir que qualquer pessoa em fuga da violência ou de perseguição na Líbia tem um refúgio seguro”.

“A Amnistia Internacional insta também os países ricos a aumentarem o número de vagas de reinstalação para os refugiados vulneráveis, e a comunidade internacional a adoptar medidas concretas para dar resposta urgente aos abusos de direitos humanos e graves violações da lei internacional humanitária que estão a ser cometidas por todas as partes envolvidas no conflito na Líbia”, afirma.

A Líbia é dominada por grupos armados praticamente desde o fim do regime de Muammar Kadhafi, em 2011, afastado do poder com o apoio de uma operação internacional da NATO. O país é dirigido por dois parlamentos e dois governos, um reconhecido pela comunidade internacional e o outro próximo das milícias islamitas, que disputam o poder.

País de trânsito de migrantes e refugiados há vários anos, a inexistência de lei e ordem fizeram aumentar o número dos que tentam alcançar a Europa partindo de diferentes pontos dos seus 1.770 quilómetros de costa, situada a apenas cerca de 300 quilómetros da ilha italiana de Lampedusa.

Nas últimas semanas, mais de 5.000 imigrantes ilegais foram resgatados no Mediterrâneo, cerca de 1.000 morreram no mar e mais de 600 foram detidos na Líbia quando se preparavam para embarcar.