Reino Unido. David Cameron repete maioria absoluta  de 1992 e provoca terramoto político

Reino Unido. David Cameron repete maioria absoluta de 1992 e provoca terramoto político


As sondagens apontavam para um empate técnico, mas os conservadores limparam a noite eleitoral.


O Partido Conservador conquistou a maioria absoluta nas eleições legislativas de 2015. A força liderada pelo primeiro-ministro David Cameron obteve 36,9% dos votos correspondentes a 331 deputados. A projecções divulgadas às 22 horas apontavam para uma vitória dos conservadores com 316 deputados. No princípio da noite os analistas consideraram que a actual maioria parlamentar que suportava o governo cessante iria se manter porque os Liberais-Democratas tinham dez deputados. No entanto, uma projecção da Sky News às 07h30 garantia a maioria absoluta aos conservadores e uma descida do Partido Trabalhista, Liberais-Democratas, UKIP e Verdes. 

Os trabalhistas ficaram em segundo lugar com 30,4%, tendo conquistado 232 deputados para a próxima legislatura. O United Kingdom Independence Party (UKIP) foi a terceira força mais votada com 12,6%, mas só elegeram um parlamentar. O único representante dos eurocépticos em Westminster será Douglas Carswell, já que o líder Nigel Farage falhou a sua eleição em South Thanet para os conservadores. Os Verdes também ficaram com um deputado e 3.8% nas intenções de voto. Caroline Lucas reconquistou o seu lugar em Brighton Pavilion, mas a líder Nathalie Bennett ficou pelo caminho. O partido liderado por Nick Clegg conquistou oito deputados resultantes dos 7,9% a nível nacional. Por fim, o Partido Nacional Escocês foi o grande vencedor das eleições na Escócia, mas não conseguiram alcançar a totalidade dos 59 deputados. 

O Partido Trabalhista Escocês, os conservadores e os Liberais-Demcratas têm um representante contra os 56 da formação liderada por Nicola Sturgeon. Os trabalhistas perderam 40 lugares para os escoceses. Na Irlanda do Norte, o partido mais votado foi o DUP e o Sinn Fein ficou em segundo lugar. O melhor resultado do Partido Trabalhista foi no País de Gales, embora tenha perdido um parlamentar. Os conservadores ficaram em segundo, mas recuperaram três lugares em relação às legislativas de 2010. 

CATÁSTROFE O resultado eleitoral deixou marcas nas lideranças dos partidos da oposição, mas não só. As grandes figuras partidárias não conseguiram almejar o seu objectivo. Ed Miliband anunciou a demissão após uma noite eleitoral “difícil e desapontante”. As baixas nos trabalhistas não se ficaram por aqui. O líder do partido na Escócia, Jim Murphy, não foi eleito, mas garante que não se vai demitir. Os ministros sombra Ed Balls e Douglas Alexander também não conseguiram entrar na Câmara dos Comuns.  O professor da Universidade do Exeter, Richard Toye, afirmou ao i que “Ed Miliband não foi um líder entusiasmante porque a estratégia devia ter sido apelar ao voto na Escócia e não na classe média”. Yvette Cooper pode estar na calha para suceder ao actual líder trabalhista. 

Os Liberais-Democratas sofreram uma razia eleitoral. Os maus resultados não atingiram o líder eleito. Contudo, Nick Clegg decidiu colocar o seu lugar à disposição. O problema é que a oposição interna liderada por Vince Cable não tem palco em Westminster. O docente britânico disse que “a demissão de Nick Clegg foi necessária devido à derrota catastrófica, mas não vejo ninguém no parlamento que pode assumir a liderança no partido”. Os dois partidos que partilharam o governo britânico nos últimos cinco anos não vão efectuar acordos parlamentares. O antigo secretário principal das Finanças, Danny Alexander, foi mais um derrotado. O jornal “The Guardian” avançou com a hipótese de Nigel Farage se recandidatar à liderança do partido. O mau resultado não é motivo para o UKIP se afastar da política. Richard Toye considera que “em termos de votos estiveram melhores e vão continuar a ter apoio”. A entrada em cena de Nicola Sturgeon garante “a discussão sobre um novo referendo sobre a autonomia da Escócia no longo prazo”. O académico entende que “não haverá cooperação com os trabalhistas”. No primeiro dia depois do acto eleitoral, Nicola Sturgeon pediu ao primeiro-ministro reeleito para conceder poderes ao parlamento escocês para legislar sobre “os impostos, salário mínimo nacional e o endividamento”. 

maioria absoluta O primeiro-ministro britânico, David Cameron, prometeu liderar um governo que coloque “o Reino Unido no topo”, pedindo união a todos os cidadãos. O chefe de governo acredita que “estamos a construir algo de grandioso”. Após a vitória eleitoral, David Cameron teve um dia preenchido com visitas ao Bukingham Palace para falar com a Rainha Isabel II e uma recepção no Número 10 em Downing Street. No discurso prometeu o reforço dos poderes parlamentares no País de Gales, Irlanda do Norte e Escócia. 

O “The Guardian” revelou que Theresa May, George Osborne e Phillip Hammond iriam manter as mesmas pastas no novo governo britânico. Richard Toye considera que “os conservadores vão ter um governo estável e David Cameron vai calar os críticos, que não lhe deram os méritos nas legislativas anteriores”. O professor garante que “um referendo sobre a manutenção do Reino Unido na União Europeia é inevitável”. O presidente da Comissão Europeia, Jean Claude-Juncker, enviou uma mensagem de felicitações a David Cameron. O responsável europeu pretende “trabalhar em conjunto com o novo governo britânico para propor ideias construtivas”. Barack Obama e o primeiro-ministro português também manifestaram satisfação pela eleição de David Cameron. Pedro Passos Coelho afirmou que “as sondagens indicavam uma penalização muito maior”. 

diferente As sondagens divulgadas nos últimos dias não coincidiram com o resultado final. Os especialistas e imprensa fizeram inúmeras análises sobre o futuro político devido ao empate técnico que se registava na véspera das eleições. Richard Toye entende que se trata de “um argumento exagerado porque os resultados estão dentro da margem de erro”.