Os 13 piores erros de quem tem alergias

Os 13 piores erros de quem tem alergias


Tem mesmo de ser assim todos os anos?


Está na altura delas e os próximos dois meses vão ser os mais difíceis para quem é mais sensível aos pólenes. Comichão, nariz a pingar, tosse e, frequentemente, até asma ou reacções na pele. Tem mesmo de ser assim todos os anos? Mário Morais de Almeida, coordenador do Centro de Alergia dos Hospitais CUF Descobertas e Infante Santo e autor do estudo mais completo até à data sobre as doenças alérgicas nas crianças portuguesas – venceu recentemente o Prémio Sociedade das Ciências Médicas de Lisboa / MSD em Epidemiologia Clínica –, identificou ao i os principais obstáculos que impedem muitas pessoas de gozar a vida com menos crises. O segredo, já se sabe, está em perceber os sintomas e não falhar a prevenção.

1 Confundir alergias com constipações 

Mário Morais de Almeida explica que é um equívoco muito comum. Antes do mais, é preciso esclarecer: sintomas iguais podem ter causas diferentes, que é o que acontece com as constipações e as doenças alérgicas (as mais comuns são a rinite, a conjuntivite, a asma e o eczema). “Espirrar, nariz tapado e tosse são sintomas conhecidos da constipação. São sinais de que o corpo está a lutar contra um vírus, mas também podem ser o resultado de uma defesa excessiva desencadeada por uma alergia”, diz Mário Morais de Almeida. Ou seja, se no primeiro caso resultam de o organismo estar focado em combater o inimigo, numa alergia ao pólen, por exemplo, o nariz pinga para limpar as partículas. Depois, tapa-se para elas não entrarem. Na prática, como distinguir? Se os sintomas duram várias semanas, se se repetem sempre na mesma altura do ano – na Primavera com os pólenes, no Outono com os ácaros ou, por exemplo, quando vai a casa de um amigo com gatos –, marque uma consulta de despiste, recomenda o médico.

2 Tratar-se com os medicamentos errados

Se as doenças alérgicas são diferentes de constipações, não vai chegar usar a sua sabedoria de algibeira para se medicar (o que, aliás, pode ser perigoso, mas já lá vamos). Se numa constipação usa medicação para baixar a febre ou analgésicos para as dores como o paracetamol ou, se tiver uma dor de garganta que resulte de uma amigdalite bacteriana, toma um antibiótico, no caso das doenças alérgicas são precisos anti--inflamatórios e/ou anti-histamínicos, tudo substâncias que ajudam a diminuir a inflamação. Por isso, se usar os remédios de quando tem gripe, não vai resolver nada.

3 Tomar o anti-histamínico amigo

E eis outro erro comum: se tiver uma pequena crise de espirros e nariz a pingar e tomar uma ou duas vezes um anti-histamínico emprestado por um amigo que já foi ao médico, poderá não haver problema. Mas Mário Morais de Almeida avisa que a automedicação nas doenças alérgicas, como nas outras áreas, pode ser muito perigosa. Os anti–inflamatórios e anti-histamínicos podem interagir com outros medicamentos que possa estar a tomar, como antibióticos ou antifúngicos, e fazer mais mal do que bem. E pessoas com doença cardíaca, renal ou hepática precisarão sempre de medicação receitada para o seu caso.

4 – Não ligar aos efeitos sedativos

Em alguns casos, os médicos poderão prescrever anti-histamínicos com efeito sedativo, o que na maioria dos casos não devia ser feito. A informação sobre o modo de toma e os perigos da sonolência são sempre para levar a sério, alerta o médico. “Todos os anos temos casos de acidentes na estrada e de trabalho, como quedas de andaimes ou pessoas que cortam os dedos, por causa desse efeito.”

5 Abusar das gotinhas para o nariz  

Este é mais um dos casos em que a medicação pode fazer mais mal que bem. “Os vasoconstritores devem usar–se, no máximo, dois ou três dias, pois, após esse período, as gotas podem causar reacções graves na mucosa do nariz e até rinite química.” A solução para o nariz tapado são sprays corticóides ou anti-histamínicos. “A água do mar pode ajudar a limpar, mas não desentope o nariz”, explica o médico. Outro produto que desaconselha são os cremes ou geles com propriedades anti-histamínicas, usados, por exemplo, em picadas de insecto. “Está demonstrado que podem fazer reacções ainda piores e não têm eficácia, pelo que só devem ser.

Só ligar às alergias quando elas atacam

Se tiver uma reacção ligeira, a medicação de alívio (os tais anti--histamínicos) poderá tornar-lhe a vida mais fácil. Mas, muito provavelmente, vai piorar com o tempo. Mário Morais de Almeida explica que outro grande erro continua a ser só ligar às alergias quando já se está esmagado pelos sintomas. Para um controlo adequado, a prevenção deve começar semanas ou meses antes, quando se pode perceber exactamente a que é que a pessoa é alérgica e fazer uma vacina para dessensibilizar o organismo. No caso dos pólenes, se anda com sintomas e já nem é a primeira vez, o ideal é marcar uma consulta com um especialista no Outono para que, se for necessária a vacina, esta possa ter efeito na Primavera. Se o seu problema forem os ácaros, que tendem a atacar mais no Outono, poderá fazer a vacina em qualquer altura do ano.

7 Desvalorizar as queixas das crianças

Este é outro erro bastante comum que pode sair caro. Muitas vezes, os primeiros sinais de asma surgem em crianças pequenas, por vezes, ainda antes dos dois ou três anos, e os pais, com a ideia errada de que passa com a idade, deixam andar sem consultar um médico. “As famílias acabam por não ter noites tranquilas por causa da tosse, os pais têm de faltar ao trabalho, e os filhos à escola”, diz Mário Morais de Almeida. Os pólenes, tal como outros alergénios, podem desencadear crises asmáticas. Por isso, se notar cansaço fácil, tosse, olhos a lacrimejar e a respiração típica do asmático, que parece um gato a miar, procure um médico. “Em Portugal, um terço das crianças asmáticas já estiveram internadas e isto só acontece porque há atraso no diagnóstico e controlo da doença.”

8 Arejar a casa é que é preciso

Se sofre de alergia aos pólenes e já não aguenta os espirros, não deve ter as janelas da casa todas abertas nesta altura do ano. Só deverá arejar a casa por volta da hora do almoço ou durante a noite. De manhã e ao fim do dia é quando há mais pólenes a circular com o vento.

9 Fazer a cama ainda quente

Mais uma vez, trata-se de ignorar, pela sua saúde, todos os conselhos domésticos que possam ter-lhe dado, como não sair de casa com a cama por fazer. Se sofre ou suspeita de alergia a ácaros, ela deve ficar aberta para arrefecer pelo menos duas horas. Se não tem hipótese, mais vale fazê-la só ao fim do dia, diz Mário Morais de Almeida.

10 Não ligar à alimentação 

Muitas vezes pensa-se que só quando se tem uma alergia a um determinado alimento é que é preciso ter cuidado. Mário Morais de Almeida sublinha que, hoje, vários estudos mostram que a dieta mediterrânica tem um efeito protector, enquanto uma dieta à base de fast food e excesso de sal favorece as doenças alérgicas. A explicação é simples: “Quando o nosso sistema imunitário tem de lidar com essas agressões e produtos processados, ficamos mais inflamados e com problemas metabólicos que depois agravam a inflamação causada pelas alergias.” 

11 Fugir do desporto 

Sejam doentes com asma ou casos mais ligeiros de reacção aos pólenes, ficar sossegado em casa para evitar chatices está longe de ser a solução. A actividade física melhora a progressão da doença e o sedentarismo e a obesidade são factores de risco, explica o especialista. Assim, numa altura de maior actividade polínica, deve é haver mais cuidados antes de ir correr ou fazer uma caminhada. Deve evitar as horas com mais pico de pólenes (manhã e fim do dia), optar por zonas mais junto ao mar se tiver hipótese disso e poderá fazer a medicação de alívio como prevenção, tomando os anti--histamínicos e outros medicamentos receitados pelo médico uma ou duas horas antes da actividade.

12 E fugir das flores e dos pólens errados 

Se ainda não souber exactamente a que é alérgico, poderá já tirar algumas coisas da ideia. “Flores bonitas, como margaridas ou rosas, não provocam alergias, pois a sua polinização é feita por insectos. Geralmente, o problema está nas plantas mais discretas, em que a polinização é feita pelo vento”, explica o médico. Em Portugal, os pólenes que afectam mais pessoas são os das oliveiras, dos fenos (gramíneas) e da erva parietária, a erva dos muros, também conhecida por alfavaca-de--cobra. Outro erro comum é pensar que o mal está nas bolinhas de algodão que por esta altura do ano cobrem os carros. “Esses algodões brancos e, geralmente, todas as partículas visíveis não causam alergia, porque já são as sementes das árvores.” São os pólenes que não vemos e que, por serem mais pequenos, entram mais facilmente em contacto com os olhos ou a mucosa do nariz que podem ser mais agressivos.

13 O campo não é pior que a cidade

“No Alentejo há níveis mais elevados de pólenes, mas em Lisboa temos mais doença alérgica”, diz Mário Morais de Almeida. Parece um paradoxo, mas está bem estudado. Nas cidades, os pólenes reagem com a poluição e as partículas – em particular, da queima do gasóleo – alteram a sua configuração. “Ficam mais pequeninos e mais agressivos em termos imunológicos, penetrando mais na via aérea”, explica o médico. Por isso, se sofre de alergias, viver numa cidade não deve ser razão para ignorar.