E se um desconhecido lhe enviar, não flores, mas um SMS? Não, não se trata do Impulse, é o novo modo como o líder de um partido, candidato a primeiro-ministro, responde a quem, no exercício da sua actividade profissional, avalia a sua prática política.
Admitindo, embora, o recurso a esta forma, poderia ela ser redigida de forma elegante, mostrando discordância, mágoa até.
Não foi o caso.
A história conta-se em poucas linhas. O dr. António Costa, no recato do Dia da Liberdade, resolveu retaliar com uma mensagem ameaçadora, enviando-a ao director-adjunto do “Expresso” (especialista em assuntos económicos cuja carreira passou pelo “Jornal de Negócios”, “Exame” e “Semanário Económico”), a um artigo de opinião que este escrevera sobre o programa económico apresentado pelos 12 economistas do Largo do Rato.
Sendo certo que se trata de um líder de continuidade, o facto é que o eng.o Sócrates era muito mais evoluído. Se uma televisão incomodava, tentava–se adquirir o seu domínio. Se uma jornalista incomodava, perseguia-se.
Ou, de um modo mais frontal que occipital, resolvia, com coragem e frontalidade, assuntos desta natureza pelo telefone. Falava com o visado, gritava, discutia, fosse ele director de um jornal ou jornalista em início de carreira.
É certo que o eng.o Sócrates dispunha de algo que o dr. Costa ainda não tem: o poder.
Adivinha-se o pior…
Por enquanto, o SMS é a sua arma, e o futuro que lhe é anunciado o poder da munição.
O dr. Costa é o novo Lucky Luke da política portuguesa: em vez de armas no coldre, saca de telemóveis no bolso disparando mais rápido do que a própria sombra.
Fez ricochete este tiro, atingiu-o. Onde? Na sua imagem.
O democrata tolerante, o político bem-disposto, o homem sorridente, no preciso dia em a liberdade se comemorava em Portugal, caía por terra.
Ora, uma das mais significativas conquistas de Abril é a liberdade de opinião, a possibilidade de confrontar os outros quando deles discordamos, o acto de expressar o nosso livre pensamento.
Ridiculamente, o dr. Costa tentou, pela calada do telemóvel, atingir o dr. Vieira Pereira como se se tratasse de um jornalista do “Charlie Hebdo”. Não mata, este SMS, mas desmoraliza…
“Desqualificado incapaz”, dizia a mensagem assassina.
O dr. Costa, reconhecido jurista, avalia um perito em assuntos económicos, economista, e, ao mesmo tempo, defende que a baixa da TSU para os trabalhadores e para as empresas em 4% não terá qualquer impacto no Orçamento do Estado. Estamos conversados.
O dr. Costa nunca pensou, há uns meses atrás, que alguém nos jornais ousaria criticar o homem que se proclamava como salvador.
O que é facto é que, passados poucos meses, jornalistas, directores de jornal, comentadores e analistas percebem que as grandes ideias do dr. Costa e que as contas que apresenta para prometer tudo a todos têm pés de barro.
Para se apresentarem cenários económicos sérios e credíveis, as contas têm de bater certo, dr. António Costa; não basta ter fé, acreditarmos nos bons ventos ou fiarmo-nos na Europa.
E é, de facto, esta a incapacidade crónica deste Partido Socialista e do outro do reinado do eng.o Sócrates. É tudo demasiado igual.
Podem os protagonistas ser outros, mas o modo de fazerem contas, ou o vício de as não fazerem, é exactamente o mesmo.
Foi com estes pensamentos que entrei na Aula Magna, no aniversário dos 40 anos do PSD.
Fui confrontado com o modo de fazer política.
Francisco Pinto Balsemão exaltava a diferença e dizia que o líder do PSD era, sobretudo, um homem educado.
É ele como o foi Sá Carneiro, ou Mota Pinto, ou outros tantos líderes do PSD.
É bom ter consciência disto.
Esta nova esquerda socialista não é a de Fernando Vale ou Almeida Santos, senhores da política com quem várias vezes tive o privilégio de privar no meu distrito de Coimbra, em tertúlias várias. É uma esquerda que se entende superior, dona da sabedoria inteira, genial entre os génios.
No PSD somos mais modestos e, principalmente, insistimos em saber respeitar a opinião dos outros, em saber conviver com a divergência, com a crítica, em evitar o ataque pessoal.
A uns trouxe Abril a liberdade e a igualdade.
A outros – ao dr. Costa, concretamente –, a possibilidade de qualificar o escrito de um jornalista como “o insulto reles e cobarde para preencher as colunas que lhe estão reservadas”.
É o reconhecimento do pluralismo. Ou eu, ou eu.
Deputado do PSD
Escreve à sexta-feira