Faz alguns anos que foi criada a mais global das redes sociais: o Facebook! Nela se estabelecem contactos virtuais, seja com pessoas que conhecemos, seja com pessoas com quem apenas nessa plataforma nos cruzamos. Sabe-se lá porquê as pessoas “ligadas” nessa rede têm a designação de “amigos”.
Embora dificilmente seja admitido, a maioria das pessoas aceita ligar-se a todos quantos lhe solicitam conexão nessa rede, i.e., todos quantos lhes solicitam “amizade”… sobre esta designação de “solicitação de amizade” algo mais fundo podia dizer-se. Mas voltemos ao que sejam os amigos do Facebook.
É que ser amigo do Facebook não significa verdadeiramente que se seja amigo. Nem significa que se seja conhecido. Significa tão-só e apenas que aquelas duas pessoas fazem parte, reciprocamente, do subgrupo que cada uma delas tem na rede social em questão.
Perguntar-se-á: se nem sequer fisicamente se conhecem, porque diabos estão “ligados” na rede social. A resposta é simples: por uma infinidade de razões. Desde logo porque, não se conhecendo, podem ter interesse conhecer-se. Ou, ainda mais plausível, porque uma das pessoas achou interessante aproximar-se virtualmente da outra, seja por que motivo for, e esta última não teve coragem de recusar a aproximação. O que nos remete para a primeira questão.
É que muitas pessoas, para não dizer todas, sente constrangimento em recusar um pedido de amizade, e que mais não é do que um pedido de conexão na rede… Chama-se amizade, mas poderia chamar-se “xywz”. Esse constrangimento é perfeitamente compreensível: ninguém quer ser visto como antipático, como distante ou presumido, ou pura e simplesmente não quer que o solicitante fique ofendido com a recusa. Tal contribuiria para a criação de uma má imagem daquele que recusa. E isto é explicado por qualquer manual de psicologia de cozinha… ninguém gosta de manifestar aos outros uma má imagem de si mesmo. Por tudo isso, qualquer pessoa pode acabar por ter como amigos de Facebook pessoas que conhece, que conhece mal, ou que nem sequer conhece. Pessoas com quem, por um ou outro motivo, acabou por virtualmente se cruzar no seu caminho.
Voltemos então à questão em aberto: o que é ser-se amigo do Facebook?
A designação “amigo” é a que automaticamente a rede social atribui a quem se encontra ligado através da plataforma. E como digo muitas vezes, sendo a inércia a maior força motriz da humanidade, se a aplicação informática atribui tal designação, poucos se lembram de criar dois círculos na sua página de Facebook: a dos amigos (que serão aqueles que realmente conhece), e a dos conhecidos (que sendo chamados de amigos, só acedem a parte dos conteúdos da página).
O que significa então ser-se amigo de Facebook? Significa nada! Ou pode significar nada.
E sempre caberia perguntar: conhecemos mesmo todos os amigos, amigos? Sabemos o que fazem? Que vida têm? Mas isto são outros quintos.
Em todo o caso, até os Tribunais internacionais garantem a protecção de tal “mundo íntimo virtual”… Por isso aos empregadores está vedado invadir essa esfera de privacidade! Estranhamente, o Estado não se coíbe de fazer uso dessas ligações de amizade virtual e de delas retirar toda a sorte de suspeitas! Até criminais…
Advogado, escreve à sexta-feira