Quando pais e filhos viram as costas para sempre ou é por dinheiro ou por poder

Quando pais e filhos viram as costas para sempre ou é por dinheiro ou por poder


Foi nos EUA que o público conheceu as atribuladas relações, mas Portugal também já assistiu a estas batalhas sem fim


Em França, a presidente do partido de extrema-direita Frente Nacional proibiu o pai, Jean-Marie Le Pen, de falar em nome do partido. “Traído e furioso”, prometeu não ficar calado e até desejou a derrota da filha nas presidenciais em 2017 (ver página 18). A zanga correu mundo, mas está longe de ser original. Conflitos entre pais e filhos famosos há em abundância e os motivos são os mais variados: abandono precoce, falta de apoio e acusações de maus-tratos fazem parte do rol de acusações que vêem a luz do dia assim que a fama bate à porta.

A celebridade, contudo, não os torna mais especiais que outras famílias. “Não existe nenhuma relação entre a fama e as situações de ruptura familiar. A fama pode adiar ou camuflar este tipo de problemas”, explica o psicólogo forense Mauro Paulino. Mas os casos vindos a público  têm contrariado isso mesmo.

O mundo parou quando soube da morte de Michael Jackson, em 2009, de ataque cardíaco. Já se sabia que o rei da pop tinha uma relação atribulada com o pai, Joe Jackson, mas foi só no ano seguinte que o também manager dos Jackson 5 admitiu pela primeira vez no programa de Oprah Winfrey que usava um cinto com os seus filhos – dez ao todo –, e ainda com a mulher, Katherine Jackson – para evitar que “fossem parar a um gangue ou à prisão”.

A intensidade dos ensaios e a sua disciplina começaram a ser conhecidas quando, em 1979, Michael Jackson despediu o pai e continuou a sua carreira sozinho. Exemplo seguido anos mais tarde, em 1983, pelos restantes irmãos. Na sua autobiografia, “Moonwalk”, lançada em 1988, o cantor revelou que o seu pai “era um homem misterioso”. A relação viu um novo capítulo nascer no ano em que Michael Jackson morreu, deixando o seu pai fora do testamento e a sua mãe com a guarda legal dos seus três filhos.

Na grande indústria que é a música não é só a vida do homem “moonwalk” a despertar a atenção do público. Adele, a cantora londrina de êxitos como “Someone Like You”, ficou conhecida entre 2008 e 2009, depois de uma actuação no programa “Saturday Night Live” – pelo meio ainda lançou o álbum “19”, com pouco êxito, e conquistou o prémio para Best New Artist na cerimónia dos Grammy no mesmo ano.

A sua carreira foi crescendo a passos largos com o novo disco “21” e mais seis Grammys nas prateleiras em 2012. Mas esse sucesso não seguiu a mesma trajectória que a relação com o pai. Aos três anos, Adele viu Mark Evans sair de casa e em 2011 o pai vendeu ao tablóide britânico “The Sun” uma história em que falava abertamente da relação com a filha. Na edição em que foi capa da revista “Rolling Stone”, Adele contou “nunca ter conhecido o pai”, e por isso não teria nenhum direito de falar sobre sua vida. Em 2013 o pai da voz do filme “Skyfall” (2012) revelou ter o “coração despedaçado” por não manter contacto com a filha, ou com o neto, recém-nascido na altura. A resposta? “Se o voltar a ver, cuspo-lhe na cara”, avisou Adele.

“But regardless I don’t hate you’cause, Ma//You’re still beautiful to me, ‘cause you’re my mom.” Foi assim queEminem tornou público um pedido desculpa à mãe,Deborah Mathers, na música “Headlights”, lançada no Dia da Mãe, em 2013. A sua carreira tem sido marcada por criticar e insultar a sua mãe em músicas como“My Mom” (2009) ou “Cleaning Out My Closet”(2002).Orapper de cabelo loiro rapado viveu uma adolescência conturbada sob a custódia de uma mãe agarrada ao álcool, como contou nas suas letras. As tentativas de reconciliação foram surgindo ao longo de uma década, mas sofreram um pequeno percalço no século passado: um processo de difamação da mãe a Marshall de Bruce Mathers III – o seu verdadeiro nome, segundo ela – em 1999, que culminou dois anos depois, com cerca de 2 mil euros (inicialmente eram 11 milhões) entregues à principal protagonista dos CD de Eminem. É caso para dizer “I’m sorry mama I never meant to hurt you…”

 No mundo do cinema, Angelina Jolie também não tem tido uma relação fácil com o pai, Jon Voight. Na origem dos problemas está o divórcio dos pais, quando Jolie tinha apenas um ano. Embora sempre tenham tido uma relação tumultuosa, em 2010 reconciliaram-se em público. No entanto, a relação dos dois acabaria por se deteriorar quando o pai de Jolie afirmou que a filha tinha “graves problemas mentais”, sugerindo-lhe que procurasse ajuda. Angelina, irritada, fez uma comunicado em que dizia que não achava “saudável” manter-se perto do pai.

E Portugal? No futebol existe um caso, porém, menos dramático:entre MiguelVeloso e o pai, antigo futebolista do Benfica,António Veloso. Agora como jogador do Dínamo de Kiev, Veloso (filho) apresentou uma queixa no Tribunal deOeiras em 2013, por uma dívida de 200 mil euros, associada a um imóvel de Veloso (pai) que “terá posto indevidamente em seu nome, usando uma procuração do filho”, segundo noticiado pelo “Correio da Manhã”. Ojogador rematou a questão nesse ano afirmando na sua página pessoal de Facebook que “neste momento não tinha pai”. Comprovado está que o bom filho a estas casas famosas já não torna.

Com Melissa Lopes