A primeira semana de Maio começou como tinha acabado a última de Abril: com as negociações a marcar passo em Bruxelas, Atenas a pedir aos credores dinheiro urgente para pagar os seus compromissos e diversos responsáveis europeus a repetirem à exaustão que o acordo com a Grécia não estará concluído a tempo de ser analisado na reunião do Eurogrupo de 11 de Maio.
Enquanto Varoufakis agradece os elogios que vai recebendo dos Estados Unidos, com a administração Obama preocupada com a situação em Atenas e as aproximações de Tsipras a Moscovo, onde estará no sábado, dia 9, nas comemorações da vitória soviética na II Grande Guerra, o ministro alemão das Finanças fez ontem o ponto de situação sobre o estado das relações entre Bruxelas e o cada vez mais aflito governo do Syriza. Wolfgang Schäuble não acredita na hipótese de um acordo entre a Grécia e os credores ser fechado nos próximos dias. “Não é por causa das instituições” que as negociações não avançam, considerou o ministro, lamentando que se tenha perdido tanto tempo. Mas nos últimos dias foram alcançados alguns progressos. “De acordo com os relatos, a atmosfera tornou-se mais construtiva”, disse Schäuble em declarações aos jornalistas estrangeiros.
A dedução errada de Atenas O ministro repetiu que a Alemanha está, como os outros membros da zona euro, pronta para “fazer tudo para ajudar a Grécia, no quadro do que foi decidido”, ou seja, de ver Atenas consolidar as finanças públicas e reformar a economia em troca de financiamento, mas o governo liderado pelo Syriza foi eleito no final de Janeiro com a promessa de acabar com a austeridade e tem insistido em recusar algumas reformas. “Não especulamos sobre um grexit (saída da Grécia da zona euro) porque não queremos isso”, insistiu o responsável alemão, “mas isso não quer dizer que estejamos dispostos a tudo. Essa é, talvez, uma dedução errada de Atenas”, adiantou.
Varoufakis concorda com Schäuble E se Schäuble está céptico, o ministro das Finanças grego também afastou ontem a possibilidade de haver um acordo até final da semana. Em declarações aos jornalistas, depois de se ter reunido em Bruxelas com o comissário europeu dos Assuntos Económicos e Financeiros, Pierre Moscovici, o responsável pela pasta das Finanças no governo grego, afirmou que o Eurogrupo de 11 de Maio será “mais um passo na direcção de um acordo” com os credores oficiais, mas minimizou a possibilidade de um entendimento alargado na segunda-feira. “Teremos certamente uma discussão frutífera a 11 de Maio que confirmará os grandes progressos que temos conseguido e será mais um passo em direcção a um acordo final”, afirmou apenas Varoufakis.
O amador de Riga A última reunião do Eurogrupo aconteceu em Riga no dia 24 de Abril. Antes do encontro, muito se especulou sobre o famigerado acordo que anda de mesa em mesa, de lista de reformas em lista de reformas desde o dia 11 de Fevereiro. Os ministros das Finanças da zona euro aproveitaram o encontro de Riga não para discutir o acordo, mas sim para desancarem Varoufakis. O ambiente foi muito tenso e o grego foi chamado de tudo e mais alguma coisa. Amador e jogador foi do mais simpático que ouviu. Certo é que, pouco tempo depois, a seguir à cimeira europeia sobre os migrantes do Mediterrâneo, Alexis Tsipras, talvez avisado por Merkel, afastou o “amador” Varoufakis das negociações para não deitar tudo a perder. Virou o disco, mas a música continua a mesma.
Com Lusa