Barça. Como travará Guardiola o monstro que ele próprio criou?

Barça. Como travará Guardiola o monstro que ele próprio criou?


Camp Nou recebe um convidado especial. Pep, líder do Bayern, que montou a mais temível equipa do século xxi. Agora volta para tentar pará-la


A dream team do Barcelona marcou os anos 90 e encantou o mundo. Guardiola fez parte dela como jogador. Na década seguinte seria ele o mentor da Pep Team, que arrasaria o futebol espanhol e europeu com 14 títulos em quatro épocas. “Cada treinador tem as suas ideias. Mas tenho de reconhecer que o Barça de Guardiola é o futebol mais completo que já vi”, admitiu em 2014 Ronald Koeman, um dos nomes grandes do dream team. Se as ideias de Cruyff revolucionaram a Catalunha, a passagem de Guardiola pelo banco culé, de 2008 a 2012, foi um marco no futebol do século xxi. Pep criou um monstro – movido no relvado pela genialidade de Leo Messi –, que dominava qualquer equipa em qualquer estádio do planeta.

Desde que deixou o Barça, Guardiola soube que um dia poderia voltar como adversário. Quando ontem entrou na sala de imprensa, teve de esperar quase dois minutos até os flashes pararem para poder começar a falar. “Estive quatro anos aqui sentado muitas vezes, é inevitável recordar coisas”, admitiria uns minutos depois. Primeiro começou por falar em alemão: “É fantástico voltar aqui. Trata-se de algo especial, passei muitos anos da minha vida nesta casa mas agora sou o treinador do Bayern. Vim aqui para um jogo, é o meu trabalho.” Hoje às 19h45, o treinador do Bayern tentará travar o monstro que ele próprio criou.

Oambiente é sem dúvida especial. De um lado e de outro. Tanto que Leo Messi foi o escolhido pelo Barça para fazer a antevisão do jogo das meias-finais. Foi a primeira vez que o argentino passou pela sala de imprensa esta época. “É normal que seja homenageado [Guardiola] pelo que significou como treinador. Ganhou tudo, deu muito a este clube e é da casa, mas quando o jogo começar os adeptos vão apoiar-nos.” Oavançado confessou que tinha uma “excelente relação” com o treinador catalão, mas que não voltaram a falar desde que Pep deixou o clube.

Muito por culpa de Messi. A 1400 km, podemos imaginar que Guardiola terá passado várias horas fechado no seu pequeno gabinete em Säbener Strasse, a cidade desportiva do Bayern. Gastou horas a pensar num plano para contrariar o Barcelona de Luis Enrique, e principalmente o seu n.o 10. E nem o treinador que melhor o conhece tem soluções mágicas. “Como está, não há defesa que o possa parar. É impossível. Não há treinador que o consiga. Está acostumado a que o defendam de todas as maneiras possíveis e acaba sempre por ter êxito. Otalento não se pode travar. É demasiado bom.”

Messi também reconhece que no outro banco estará alguém que conhece os pontos fracos dos catalães.

“Conhece-nos bem a todos, esteve muito tempo connosco. Vivemos muitas coisas importantes, ganhámos muitos títulos e conhece-me não só a mim mas a todos os jogadores que teve. E mesmo aos que não teve. Guardiola estuda tudo e não deixa nada ao acaso.” OBayern terá muitas outras preocupações além do tridente ofensivo Messi-Suárez-Neymar. Sem Robben, Ribèry ou Alaba, os campeões da Bundesliga apanham um Barça em sprint, com 36 vitórias nos últimos 40 jogos.

Acima de tudo, este será um jogo do gato e do rato, entre duas ideias semelhantes de futebol;nenhuma equipa a concebe sem ter a bola. Barcelona e Bayern são as duas equipas nesta edição da Liga dos Campeões com maior posse de bola (62%) e número de passes:6907 para os espanhóis, 6872 dos bávaros, ambos com uma impressionante taxa de sucesso de 91%. Quem a terá mais hoje no relvado do Camp Nou?Guardiola tenta responder:“Ninguém lhes tira a bola, o Barça é uma equipa criada, concebida para isto. Nós na Alemanha ganhamos sempre [posse de bola] mas amanhã [hoje] será muito mais difícil. Conhecem-me e vamos tentá-lo.”

Tal como Pep conhece bem o Barça, os futebolistas catalães também sabem como pensa o treinador do Bayern. Sem esquecer o actual técnico dos catalães, Luis Enrique. Foi companheiro de equipa de Guardiola no Barça e na selecção e tirou o primeiro curso de treinador a seu lado na academia de La Masia. Tal como Pep, também treinou a equipa B. Com tanto conhecimento mútuo, haverá espaço para surpresas? Será difícil. Mas com tanto talento, os elogios serviram-se dos dois lados da barricada. A seguir, os gritos de guerra.“Não estou aqui para nenhuma homenagem, mas para levar o Bayern à final. É isso que vimos tentar fazer”, avisou Guardiola. Tal como acontecera contra o FCPorto, nos quartos-de--final, os alemães continuam com muitas baixas por lesão. “Com os 13 ou 14 que temos, jogaremos a meia-final. Não me serve de nada dizer ‘oxalá estivessem’. Nunca me ouviste dizer que não ganhámos por faltarem jogadores.”

O Bayern tenta a sua 11.a final, que seria jogada perto de casa (Berlim). OBarcelona já disputou sete – duas delas ganhas sob o comando de Guardiola – e Luis Enrique persegue algo que Pep conseguiu na Catalunha: o triplete.“Encanta-me essa palavra.” OBarça lidera a liga espanhola e ainda pode vencer a Champions e a Taça do Rei. Mas também pode acabar a época a zero. A este nível há sempre uma linha ténue entre o êxito e o fracasso. Quem estiver melhor nos detalhes sairá de Camp Nou com mais possibilidades de ir a Berlim. Mas antes há uma complicada passagem pela Allianz Arena de Munique.