A crise do movimento sindical português não é de hoje. Tem na sua origem a politização das duas principais confederações sindicais e dos principais sindicatos ligados à função pública e ao sector empresarial do Estado desde o 25 de Abril. Apesar de o projecto comunista da unicidade sindical ter sido derrotado, nem mesmo assim o movimento sindical conseguiu libertar-se das amarras dos interesses políticos da extrema-esquerda e do PS. Se juntarmos aos interesses políticos a captura do movimento sindical pelos respectivos aparelhos (os “profissionais” do sindicalismo, irmãos gémeos dos “profissionais” da política), percebemos facilmente por que razão os sindicatos portugueses conseguem ser mais conservadores que a Igreja Católica do Papa Franciscoe resistir a qualquer espécie de mudança.
A conclusão de tudo isto é fácil: a taxa de sindicalização baixou de 60% para 19%, segundo um estudo recentemente divulgado. No sector privado, a taxa de sindicalização é residual porque os trabalhadores percebem que os sindicatos, tal como existem hoje, não representam os seus interesses. Apenas na função pública, área em que o cocktail de interesses políticos vs. aparelhos sindicais é perfeito, os sindicatos ainda têm alguma relevância, tentando obstaculizar toda e qualquer mudança na modernização do Estado.
Vem isto a propósito da derrota clamorosa sofrida pelo poderoso sindicato dos pilotos na convocação da greve de dez dias. Além de ter partido praticamente isolado para a greve, o SPAC não conseguiu impedir a realização de 70% dos voos previstos para os primeiros três dias. Isto é, o SPAC conseguiu prejudicar a TAP e os seus clientes (portugueses e estrangeiros), mas não conseguiu paralisar a empresa – antes pelo contrário. E não conseguiu porque aqueles que supostamente representa, os pilotos, recusaram seguir aquele que supostamente é o “seu” sindicato. Esta é a verdadeira crise de representação do movimento sindical. Não deixa de ser irónico que uma greve iniciada no 1.o de Maio seja (mais) uma demonstração da falência do sindicalismo português.
A greve tem uma contradição insanável na sua origem: o SPAC está a tentar impedir a privatização da TAP ao mesmo tempo que tenta reclamar 20% do capital social na venda da empresa. Mais grave que isso, o SPACsegue uma velha tradição do movimento sindical português: destrói em vez de construir; obstaculiza em vez de construir; agrava os problemas em vez de contribuir para uma solução.
A TAP encontra-se numa situação financeira grave e necessita de uma injecção urgente de capital devido ao seu elevado endividamento. Asolução só pode ser uma de duas: ou a empresa é privatizada, ficando os investidores privados responsáveis pela capitalização da empresa, ou o Estado injecta o capital necessário (para a qual necessita de aprovação da União Europeia). Uma greve, seja ela qual for, não faz parte do rol das soluções, como a maioria dos pilotos afirmou publicamente de forma ruidosa. Ao contrário do “seu” sindicato, estes querem contribuir para que a empresa tenha futuro e não siga o mesmo caminho de companhias aéreas históricas europeias, como a Swissair e a Sabena, que pertencem à história da aviação civil. A viabilidade de qualquer empresa faz-se com os seus trabalhadores. A maioria dos pilotos disse este fim-de-semana que quer ajudar a TAPa ser viável. E quem se recorde do que era a TAP em 2000 sabe que a empresa portuguesa é mais que viável – é competitiva, por isso desperta tanto interesse.