Nóvoa é o grand finale de Mário Soares


No fim da apresentação da candidatura de Sampaio da Nóvoa, os funcionários do Teatro da Trindade tiveram de esvaziar a sala. O tempo escasseava e um outro público aguardava já pela sua vez de entrar para assistir ao clássico “À Espera de Godot”, de Beckett. Vale o que vale, mas não deixa de ser um…


No fim da apresentação da candidatura de Sampaio da Nóvoa, os funcionários do Teatro da Trindade tiveram de esvaziar a sala. O tempo escasseava e um outro público aguardava já pela sua vez de entrar para assistir ao clássico “À Espera de Godot”, de Beckett. Vale o que vale, mas não deixa de ser um elemento simbólico, o ex-reitor da Universidade de Lisboa, que citou Sérgio Godinho e Zeca Afonso esqueceu-se da referência às circunstâncias do destino que o colocaram no mesmo palco onde, poucas horas depois, seria representada a peça que melhor descreve a espera por um futuro diferente. Um detalhe para providencialistas.  

Agora os factos. Sampaio da Nóvoa será apoiado pelo PS e se o candidato da direita for Rui Rio, hipótese que ganha consistência, corre o risco de ganhar as eleições, tentarei explicar. Destaco antes uma outra evidência: trata-se da derradeira batalha política de Mário Soares. A figura maior da Terceira República assumiu nos últimos dois anos um combate sem quartel (e algumas vezes pouca razoabilidade) ao governo de Passos Coelho. Ajudou a criar condições para a queda de António José Seguro, ungiu António Costa e escolheu o seu candidato presidencial depois de ter desistido de Carvalho da Silva. Mudar o poder e ver Sampaio da Nóvoa eleito e em Belém seria o seu “grand finale”.

A equação a resolver por Nóvoa e pelo PS, a primeira de todas, passa por saber se Marcelo Rebelo de Sousa avança ou mais uma vez hesita até acabar por desistir – como aconteceu noutras alturas em que se pensava ter tudo do seu lado. Se avançar, ganhará. Tem uma notoriedade/popularidade superior a qualquer político, fala uma linguagem que as pessoas entendem, entra pela casa dos portugueses, que não o trocam por outra vedeta mediática do género. Mas Marcelo hesita e tem telhados que não lhe apetece arriscar com a tragédia que se abateu sobre o BES e Ricardo Salgado, seu íntimo. 

Passos não o quer. Prefere Rui Rio por vários motivos, o primeiro dos quais poder matar dois pardais no mesmo tiro: anula Marcelo, por quem nunca morreu de amores, e afasta Rio da sua sucessão. Não é mau para uma jogada só. O problema é que com vários jogadores, naipes e especulações, tudo dependerá das cartas que cada um quiser ou tiver de jogar. Nóvoa e Costa preferirão sempre Rio. No caso do líder do PS, com a vantagem de, na pior das hipóteses, ter de trabalhar (se vencer as legislativas) com alguém com quem simpatiza política e pessoalmente.

Se excluirmos Marcelo, o professor catedrático que o PS apoiará tem hipóteses de ganhar. Resolvendo o problema de ninguém o conhecer, está claro. Se as eleições fossem amanhã, perderia com quem lhe aparecesse pela frente. Mas não são amanhã. Sampaio da Nóvoa, que escolheu o i para a sua primeira entrevista a um jornal depois de se assumir candidato, contará na estrada com a máquina de um partido e terá perto de si Mário Soares, Jorge Sampaio e, ao que se sabe, Ramalho Eanes – os presidentes que terminaram cada um dos seus dois mandatos em alta. Do outro lado estará Cavaco Silva. Mesmo que se mantenha neutro, apoiará Rio. Presente envenenado e indigesto.

Não sei ainda o que pensa Nóvoa. Os seus dotes poéticos são passadistas e à sua volta (pelo menos no Trindade) não existe gente nova e com futuro, um problema. Mas não estaria seguro da vitória de Rui Rio como estão os entusiastas desta espécie de Sidónio Pais. Na verdade, estaria preocupado.

Nóvoa é o grand finale de Mário Soares


No fim da apresentação da candidatura de Sampaio da Nóvoa, os funcionários do Teatro da Trindade tiveram de esvaziar a sala. O tempo escasseava e um outro público aguardava já pela sua vez de entrar para assistir ao clássico “À Espera de Godot”, de Beckett. Vale o que vale, mas não deixa de ser um…


No fim da apresentação da candidatura de Sampaio da Nóvoa, os funcionários do Teatro da Trindade tiveram de esvaziar a sala. O tempo escasseava e um outro público aguardava já pela sua vez de entrar para assistir ao clássico “À Espera de Godot”, de Beckett. Vale o que vale, mas não deixa de ser um elemento simbólico, o ex-reitor da Universidade de Lisboa, que citou Sérgio Godinho e Zeca Afonso esqueceu-se da referência às circunstâncias do destino que o colocaram no mesmo palco onde, poucas horas depois, seria representada a peça que melhor descreve a espera por um futuro diferente. Um detalhe para providencialistas.  

Agora os factos. Sampaio da Nóvoa será apoiado pelo PS e se o candidato da direita for Rui Rio, hipótese que ganha consistência, corre o risco de ganhar as eleições, tentarei explicar. Destaco antes uma outra evidência: trata-se da derradeira batalha política de Mário Soares. A figura maior da Terceira República assumiu nos últimos dois anos um combate sem quartel (e algumas vezes pouca razoabilidade) ao governo de Passos Coelho. Ajudou a criar condições para a queda de António José Seguro, ungiu António Costa e escolheu o seu candidato presidencial depois de ter desistido de Carvalho da Silva. Mudar o poder e ver Sampaio da Nóvoa eleito e em Belém seria o seu “grand finale”.

A equação a resolver por Nóvoa e pelo PS, a primeira de todas, passa por saber se Marcelo Rebelo de Sousa avança ou mais uma vez hesita até acabar por desistir – como aconteceu noutras alturas em que se pensava ter tudo do seu lado. Se avançar, ganhará. Tem uma notoriedade/popularidade superior a qualquer político, fala uma linguagem que as pessoas entendem, entra pela casa dos portugueses, que não o trocam por outra vedeta mediática do género. Mas Marcelo hesita e tem telhados que não lhe apetece arriscar com a tragédia que se abateu sobre o BES e Ricardo Salgado, seu íntimo. 

Passos não o quer. Prefere Rui Rio por vários motivos, o primeiro dos quais poder matar dois pardais no mesmo tiro: anula Marcelo, por quem nunca morreu de amores, e afasta Rio da sua sucessão. Não é mau para uma jogada só. O problema é que com vários jogadores, naipes e especulações, tudo dependerá das cartas que cada um quiser ou tiver de jogar. Nóvoa e Costa preferirão sempre Rio. No caso do líder do PS, com a vantagem de, na pior das hipóteses, ter de trabalhar (se vencer as legislativas) com alguém com quem simpatiza política e pessoalmente.

Se excluirmos Marcelo, o professor catedrático que o PS apoiará tem hipóteses de ganhar. Resolvendo o problema de ninguém o conhecer, está claro. Se as eleições fossem amanhã, perderia com quem lhe aparecesse pela frente. Mas não são amanhã. Sampaio da Nóvoa, que escolheu o i para a sua primeira entrevista a um jornal depois de se assumir candidato, contará na estrada com a máquina de um partido e terá perto de si Mário Soares, Jorge Sampaio e, ao que se sabe, Ramalho Eanes – os presidentes que terminaram cada um dos seus dois mandatos em alta. Do outro lado estará Cavaco Silva. Mesmo que se mantenha neutro, apoiará Rio. Presente envenenado e indigesto.

Não sei ainda o que pensa Nóvoa. Os seus dotes poéticos são passadistas e à sua volta (pelo menos no Trindade) não existe gente nova e com futuro, um problema. Mas não estaria seguro da vitória de Rui Rio como estão os entusiastas desta espécie de Sidónio Pais. Na verdade, estaria preocupado.