Ben E. King. Contem com ele

Ben E. King. Contem com ele


O R&B, os Drifters, “Stand By Me” e outros hinos. Morreu ontem, aos 76 anos.


O rapaz é do tempo em que os homens cantavam juntos, vestiam-se de igual, e o termo “boysband”, a intrometer-se no léxico, seria tudo menos de levantar o sobrolho. Os The Drifters são gente desta natureza afável [pausa para ir matar saudades de “Under the Boardwalk], resistentes do doo-wop que não obrigam ninguém a ir ao dicionário ver o que significa doo-wop – porque se topa a milhas mal o som começa, como se topa  a milhas que o cavalheiro do outro lado da sala quer dançar [pausa para ir ouvir “Up on the Roof”, e se não ficar logo convencido – caramba, como não? – para repetir “Save the Last dance for me”, só porque sim, porque pode]. 

Um destes rapazes chamava-se Ben E. King, bom, na verdade chamava-se Benjamin Earl Nelson, mas as lides da música sabem encurtar as coisas, como num bom single  [desculpem, agora estamos com “Stand By Me” e não temos um pingo de vergonha por isso]. Foi um dos nomes mais marcantes de uma das formações iniciais do grupo, saída dos anos 60, já que ao longo das décadas a formação conheceu inúmeros vocalistas. 

A dança das cadeiras começou em 1958, quando o manager do grupo, o trompetista de jazz George Treadwell, decidiu despedir todos os elementos originais da banda, substituindo-os pelos Five Crowns, grupo a que King se juntara nesse mesmo ano. Em 1959, para a Atlantic, escrevia e cantava “There Goes My Baby”. Mas ao lado dos The Drifters gravaria apenas 13 canções, incluindo “This Magic Moment”. 

Em 1960, o vocalista e compositor nascido na Carolina do Norte, em 1938, e que fez do Harlem, em Nova Iorque, o seu habitat, quando se mudou com a família, aos nove anos, abandonou o grupo – o manager recusava-se a aumentar o salário dos músicos, Benjamim enterrava de vez o apelido Nelson, e lançava-se numa carreira a solo. Mantido o vínculo com a Atlantic, chegava a vez da balada  “Spanish Harlem” (1961), e depois o hit que o grande público estará a partilhar nas redes desde a tarde de ontem, “Stand By Me”, escrito com Jerry Leiber e Mike Stoller, e que acabaria por merecer o consenso da indústria discográfica americana: é uma das canções do século e não se fala mais nisso, ao ponto de de se ter juntado ao elenco de 500 músicas que compõem o Rock and Roll Hall of Fame. 

Quando a armada britânica ganhou terreno nos States, a soul ficou reduzida a temas como “What is Soul?” (1966), “Tears, Tears, Tears” (1967), e “Supernatural Thing” (1975). Em 1986 reeditava-se “Stand by Me” e o filme, que pedia o nome emprestado ao tema, com Wil Wheaton, River Phoenix , Kiefer Sutherland e outros miudos actores, dava uma segunda vida ao velho sucesso, de regresso à tabela da Billboard. Em 1990, King, Bo Diddley e Doug Lazy, assinavam uma versão de “Book of Love”, dos Monotones. Ben gravaria ainda um álbum infantil, “I Have Songs In My Pocket”, e em 2013 completou uma digressão no Reino Unido.