António Campos foi um dos mais importantes dirigentes do Partido Socialista nos tempos de Mário Soares. Abandonou a política há mais de uma década, mas voltou esta semana à ribalta devido ao Caso Sócrates. Tem trocado correspondência com o ex-primeiro-ministro e foi pela sua mão que chegou ao público a última carta que José Sócrates escreveu na prisão de Évora e quis tornar pública.
Campos tem sido um dos socialistas mais empenhados na defesa do ex-PM e usa quase diariamente a sua página de Facebook para condenar a decisão da justiça. “É minha convicção total que de facto ele está inocente”, diz ao i. E como é que tem tanta certeza? “Todas as démarches que fiz antes de tomar esta posição levaram-me a essa conclusão”, responde o histórico do PS, que está no grupo restrito de socialistas que assumiram como causa “pessoal” a defesa da inocência do ex-líder do partido.
Campos conta que a primeira pessoa com quem falou foi com o filho. “Eu perguntei ao meu filho: ‘Ó Paulo, algum dia ele te falou do Grupo Lena?’ E ele disse-me: ‘Nunca, eu nunca estive com o grupo Lena.’” O filho é Paulo Campos, que foi secretário de Estado das Obras Públicas nos tempos de José Sócrates.
O fundador do PS assegura que não ficou por aqui e que ainda foi consultar os contratos com o Grupo Lena. Chegou à conclusão que todos os contratos que “a empresa ganhou foi porque apresentou o preço mais baixo”.
António Campos foi fundador do partido, em 1973. Dominou o aparelho do PS nos tempos de Soares e pertenceu a vários governos como secretário de Estado da Agricultura e secretário de Estado Adjunto da Presidência do Conselho de Ministros. A seguir, Campos foi para o Parlamento Europeu e notabilizou-se pela denúncia dos riscos para a saúde pública da chamada doença das vacas loucas. “Em 2004 dei por terminada a minha participação activa na vida política, que tinha começado em 1958. Recolhi às origens”, diz Campos, natural de Oliveira do Hospital, no distrito de Coimbra.
O afastamento da vida política não o impede de ser um dos socialistas que mais dão a cara por Sócrates. Em conversa com o i, António Campos conta que se sente “revoltado” e que “a falta de acusação a um ex-primeiro-ministro preso há cinco meses já passou todos os limites de um Estado de direito”.
O histórico do PS vai mais longe que todos os socialistas e admite mesmo que a prisão de Sócrates pode ter contornos políticos. “A prisão foi adiada para coincidir com o congresso do PS. Estamos conversados sobre o objectivo da prisão”, escreveu no Facebook. Ao i, o socialista diz que “há aqui agendas demasiado coincidentes”.
A última visita que fez a Sócrates foi há uma semana. Não foi a primeira vez que foi ao Estabelecimento Prisional de Évora. “Fui lá, tenho trocado correspondência. Saio de lá esfrangalhado. Um gajo não consegue ajudar porque não há acusação”, diz. E Sócrates continua a resistir? “É um tipo com uma resistência bestial. Não se vai abaixo.” O fundador do PS promete continuar ao lado do ex-primeiro-ministro, num caso que, avisa, terá “implicações políticas fortíssimas ao nível do PS e na credibilidade do sistema e da própria democracia”.