Mais de 5500 mortos depois e cinco dias depois do terramoto que destruiu uma boa parte do Nepal, com a capital e o seu património histórico devastados, o primeiro-ministro nepalês, Sushil Koirala, decidiu visitar as zonas mais afectadas pelo sismo em Catmandu. A reacção dos sobreviventes, que ainda não conseguiram fugir da cidade e se mantêm em condições mais que precárias, não deixou dúvidas a ninguém sobre o que pensam do comportamento das autoridades nesta emergência. Koirala foi alvo de várias manifestações de indignação e raiva dos que pedem água, comida e apoio até poderem ter um abrigo seguro para viverem. Os residentes de Basantapur, por exemplo, uma das áreas mais afectadas pelo sismo de magnitude 7,8 que atingiu o Nepal no sábado, manifestaram a sua ira contra Koirala enquanto este avaliava os danos junto do chefe do exército, Gaurav S. J. B. Rana, escreveu ontem o jornal “Kantipur”.
Um grupo de sobreviventes rodeou o primeiro-ministro, pedindo-lhe apoio material e compensações de modo a poder refazer a sua vida. Koirala reconheceu na segunda-feira que as operações de busca e resgate não tinham sido eficientes, devido ao corte nas comunicações e à falta de preparação das equipas de emergência. Mesmo assim, na quarta-feira o governo do Nepal pediu às Nações Unidas que trave o envio de mais equipas de especialistas e de material médico, que começa a escassear nos hospitais sobrelotados da capital. Isto é, o governo pediu a suspensão da ajuda internacional numa altura em que muitos países da região e da própria União Europeia faziam todos os esforços para dar às populações a ajuda que escasseia no Nepal. Para se ter uma ideia da dimensão da tragédia, o Consórcio de Redução de Riscos no Nepal, uma entidade em que participam organismos das Nações Unidas, calcula que o sismo gerou cerca de 2,8 milhões de deslocados, num país com uma população de 28 milhões.
A mesma fonte indicou que em 39 dos 75 distritos do país, o sismo destruiu cerca de 70 mil casas e danificou outras 530 mil.
Luz verde no Evereste Entretanto, o monte Evereste vai poder voltar a ser escalado na próxima semana apesar de a avalancha causada pelo sismo ter causado 18 mortes no pico mais alto do mundo, anunciou ontem o governo nepalês. “As escadas vão ser reparadas nos próximos dois ou três dias e as escaladas vão continuar, não há motivos para que se abandonem as expedições”, disse à AFP o chefe do Departamento de Turismo, Tulsi Gautam. Para o governo nepalês esta importante fonte de receitas é um assunto prioritário, enquanto milhões continuam nas ruas de Catmandu e noutras regiões mais afastadas a lutar contra a morte.
Três franceses mortos Um segundo avião de ajuda francês, com 20 toneladas de carga e uma centena de profissionais de emergência a bordo, aterrou ontem em Catmandu para prestar assistência às vítimas do sismo depois de ter estado em trânsito dois dias nos Emirados Árabes Unidos. Segundo a AFP, o aparelho militar A340 estava imobilizado desde terça-feira no Abu Dabi por falta de autorização para aterrar em Catmandu. O primeiro avião francês que transportava ajuda chegou na quarta-feira à capital nepalesa com 55 profissionais de saúde e outros e 25 toneladas de material. O avião regressou ontem a Paris com 206 sobreviventes a bordo, a maioria franceses. Ontem também as autoridades de Paris reconheceram a existência de pelo menos três mortos entre os turistas franceses que se encontravam no Nepal no sábado.
Tibetanos atingidos As autoridades chinesas começaram a transportar ontem 6 mil habitantes da pequena cidade tibetana de Zham, na fronteira com o Nepal, devido ao risco de avalanches por causa ao sismo de sábado, segundo a agência oficial, Xinhua. Quase 52 500 pessoas tiveram de ser deslocadas devido à catástrofe que destruiu mais de 2500 casas e provocou estragos em cerca de 26 mil, assim como em 85 templos tibetanos. As autoridades do Tibete calculam que 300 mil pessoas foram afectadas na região que faz fronteira com o Nepal.
Com Lusa