Nepal. A ajuda fala português mas precisa de apoios

Nepal. A ajuda fala português mas precisa de apoios


Lourenço e Pedro angariaram milhares de euros mas precisam de mais para matar a fome e a sede aos nepaleses.


São portugueses, de férias em terras distantes. O destino colocou-os no Nepal quando a terra começou a tremer. Dentro do hotel refugiaram-se como puderam, e fizeram o mesmo quando, na rua, as réplicas não paravam.

Lourenço Macedo Santos e Pedro Queirós tinham voo para Nova Deli esta sexta-feira, dia 1 de Maio, mas decidiram ficar. “Queremos ficar e queremos ajudar. O chamamento do destino é mais forte. Mais forte do que qualquer possibilidade de ir para outro sítio dormir, visitar templos ou ir para a praia” As palavras são de ambos, escritas na página de Facebook de Pedro Queirós.

Ao i pediram desculpa, quando remeteram para o Facebook. “Lá tem tudo o que precisa. Fotografias e toda a história. Por favor, divulgue para conseguirmos angariar mais fundos. Muito obrigado. Depois compensamos. Agora não há mesmo tempo”.

É claro que naqueles circunstâncias não pode haver, e o i não insistiu. Os dois portugueses que viram as férias viradas do avesso já conseguiram angariar milhares de euros para dar algum conforto e alimento às famílias devastadas do Nepal. Começaram por fazer uma ajuda informal, tentando comprar os poucos abastecimentos que os supermercados ainda tinham, e distribuindo-os como podiam.

Foram entretanto convidados “para estar presentes numa reunião de mais alto nível sobre os processos de ajuda nos próximos dias. Onde ir? Como? Com quem? Procedimentos? Comportamentos a evitar? Que tecnologia vai ser usada?”. Vão, mas rejeitam a ideia de envolvimento. “Vamos lá só ver o que se passa. Não queremos entrar em processos burocráticos. Queremos é ir para as ruas”.

Depois de cinco noites a dormir ao relento, os dois jovens contam que lhes foi oferecida estada no hotel do consulado espanhol, onde têm conseguido algum apoio. Nas mensagens que trocaram com o i, tal como no que se lê do que escrevem, o tom é sempre o mesmo: de urgência. De cansaço. De comprometimento.

“Aqui sentimos que estamos a fazer a diferença. Não podemos ficar indiferentes às pessoas que precisam de ajuda para sobreviver e que nos perguntam por exemplo "Vocês voltam amanhã?"”

Desde o primeiro dia, Lourenço e Pedro disponibilizaram um NIB para onde estão a pedir que façam chegar apoios. “Não sabemos sequer se é legal”, admitem.

Mas “as pessoas estão nos parques esfomeadas e cheias de sede”. E notam que “há muitas organizações humanitárias no terreno mas ainda não conseguem chegar a todo o lado. A tragédia é imensa e o número de mortos não para de aumentar”. Por isso, pedem, vejam as fotos [que têm divulgado nas redes sociais] com os vossos próprios olhos. Na nossa primeira investida matinal, havia duas filas de pessoas para receber comida e água. Cada uma tinha pelo menos 500 metros”.

A falta de garantias ou o simples não saber quem são estes dois portugueses que trocaram as férias pela ajuda humanitária é compensada pelas fotografias e pelas listas infindáveis da ajuda prestada. Nesta quinta-feira revelaram que usaram cerca de mil euros para distribuir:

“ 400 garrafas de água de 1 litro,
-70 latas de 1kg de leite em pó para bebés com menos de 6 meses.
-75 kgs de tomate,
-500 kgs de arroz,
-800 pacotes de noodles prontos a comer, 200 grs cada.
-144 queijnhos A Vaca que Ri, para crianças,
-1200 pacotes de mini bolachas, cada um com cerca de 3 a 5 biscoitos”

“As pessoas e a imprensa internacional que anda na rua pergunta-nos quem somos e a que organização pertencemos. Nós dizemos que somos apenas dois amigos que queremos ajudar. Que somos Portugal. Que somos Nepal”.

Para ver todas as fotografías e os relatos destes portugueses no Nepal pode (e deve) ir à página do Facebook do Pedro Queirós (https://www.facebook.com/pedro.queiros.9461), onde encontrará também o NIB (003300000098021915378) que ambos estão a utilizar para nos desafiar a que façamos parte da diferença.

Lembra-se do desafio lançado por Emma Watson no ano passado? “Se não eu, quem. Se não agora, quando?”. Estes portugueses parecem tê-lo ouvido.