Um pouco mais de Douro boys and girls, por favor


Precisamos de guardar o Douro só para inglês ver, francês navegar e alemão descobrir?


A EN 222 que liga a Régua ao Pinhão acabou de ganhar o título de melhor estrada do mundo. O que falta no Douro, aliás, não são belas estradas em torno de extraordinárias paisagens. Falta, mesmo que com alguns séculos de atraso em relação aos ingleses, os portugueses descobrirem e valorizarem um dos seus maiores patrimónios.

O rio tem barcos cheios de turistas de boca aberta perante o espanto que os envolve. As quintas recebem maravilhosamente e em várias línguas quem as visita. Os hotéis estão cheios, os três comboios diários também. Os negócios correm bem. O Douro, seja no eixo Vila Real – Lamego, seja de Mesão Frio à fronteira espanhola, é unicamente apaixonante e simplesmente insubstituível. Soube conservar-se, trata-se como deve ser. E já é incomparavelmente mais acessível do que nos tempos em que Miguel Torga lá se retirava para contemplar a vida.

Vida que, excepção feita aos emigrantes que regressam em Agosto e às vindimas em Setembro, não parece infelizmente ser muita. Descontando o muito turismo de origem estrangeira, é doloroso contarem-se pelos dedos o número de pessoas que se pode encontrar numa rua de Foz Côa, da Pesqueira ou de Alijó. Os gravuras rupestres só se podem visitar mediante marcação prévia, os museus, que são vários e bons, não estão propriamente congestionados. Claro que a paisagem e o patrimônio agradecem serem poupados ao desgaste das multidões em fúria. Claro que beber um Porto no cais do Pinhão ou passear até às  profundezas de Balsemão não será muito compatível com invasões de exércitos de foto-smartphone na mão. 

Mas precisamos de guardar o Douro só para inglês ver, francês navegar e alemão descobrir? É mesmo necessário guardar a melhor fatia do País para investimento e deleite brasileiro, americano ou chinês? Não me parece nada. Nunca como aqui e agora, terá feito tanto sentido o velho slogan do “vá para fora cá dentro”. E um bocadinho mais de português no Douro também. 

Escreve à quinta-feira

Um pouco mais de Douro boys and girls, por favor


Precisamos de guardar o Douro só para inglês ver, francês navegar e alemão descobrir?


A EN 222 que liga a Régua ao Pinhão acabou de ganhar o título de melhor estrada do mundo. O que falta no Douro, aliás, não são belas estradas em torno de extraordinárias paisagens. Falta, mesmo que com alguns séculos de atraso em relação aos ingleses, os portugueses descobrirem e valorizarem um dos seus maiores patrimónios.

O rio tem barcos cheios de turistas de boca aberta perante o espanto que os envolve. As quintas recebem maravilhosamente e em várias línguas quem as visita. Os hotéis estão cheios, os três comboios diários também. Os negócios correm bem. O Douro, seja no eixo Vila Real – Lamego, seja de Mesão Frio à fronteira espanhola, é unicamente apaixonante e simplesmente insubstituível. Soube conservar-se, trata-se como deve ser. E já é incomparavelmente mais acessível do que nos tempos em que Miguel Torga lá se retirava para contemplar a vida.

Vida que, excepção feita aos emigrantes que regressam em Agosto e às vindimas em Setembro, não parece infelizmente ser muita. Descontando o muito turismo de origem estrangeira, é doloroso contarem-se pelos dedos o número de pessoas que se pode encontrar numa rua de Foz Côa, da Pesqueira ou de Alijó. Os gravuras rupestres só se podem visitar mediante marcação prévia, os museus, que são vários e bons, não estão propriamente congestionados. Claro que a paisagem e o patrimônio agradecem serem poupados ao desgaste das multidões em fúria. Claro que beber um Porto no cais do Pinhão ou passear até às  profundezas de Balsemão não será muito compatível com invasões de exércitos de foto-smartphone na mão. 

Mas precisamos de guardar o Douro só para inglês ver, francês navegar e alemão descobrir? É mesmo necessário guardar a melhor fatia do País para investimento e deleite brasileiro, americano ou chinês? Não me parece nada. Nunca como aqui e agora, terá feito tanto sentido o velho slogan do “vá para fora cá dentro”. E um bocadinho mais de português no Douro também. 

Escreve à quinta-feira