Sismo no Nepal. Caos nas ruas com milhares a fugir de Catmandu

Sismo no Nepal. Caos nas ruas com milhares a fugir de Catmandu


Mesmo com os hospitais em ruptura, governo dispensa mais ajuda internacional


Milhares de pessoas fugiram da capital do Nepal para procurar ajuda noutras paragens e escapar às réplicas que ameaçam agravar ainda mais a situação desesperada que o país está a viver desde sábado. Todos procuraram arranjar lugar nos poucos autocarros em funcionamento e as cenas de pânico e desespero levaram o governo a chamar as forças antimotim para travar as multidões em fúria. Sem comida e sem água, a dormirem em acampamentos improvisados em Catmandu, as pessoas procuram sobreviver fora das zonas atingidas pelo terramoto. E se os vivos fogem, os mortos são enterrados nos crematórios com precipitação para evitar epidemias. Dezenas de cadáveres são diariamente queimados desde domingo em Pashupatinath, espaço de cremação em Catmandu, onde as famílias aguardam a sua vez para se despedirem das vítimas do sismo que atingiu o país no sábado. Em Pashupatinath, o ponto mais sagrado para os hindus do país, cada corpo é queimado numa pilha de madeira numa das 15 escadarias de acesso ao rio, de onde são posteriormente retiradas as cinzas dos falecidos. No entanto, por estes dias, cinco corpos são queimados na mesma fogueira. A cada duas horas, tempo que demora a arder cada cadáver, um novo é colocado em cima de uma pilha de madeira, tornando-se quase impossível cumprir os rituais do hinduísmo.

Nos hospitais a ruptura é total. Os médicos não chegam para socorrer tantos feridos, e começam a faltar medicamentos e outro material. Neste desespero, o governo tomou uma decisão no mínimo estranha. Pediu às equipas de socorro estrangeiras que não partam para o país, por já ali estar presente um número suficiente de socorristas, anunciou ontem um responsável das Nações Unidas. O coordenador residente da ONU para o Nepal, Jamie McGoldrick, indicou que o governo pensa que já estão peritos estrangeiros suficientes em Catmandu e arredores, na região devastada pelo sismo de sábado. “Eles estimam ter meios suficientes para responder às necessidades imediatas de busca e socorro”, disse. “Aqueles que já estiverem a caminho podem vir, mas é pedido aos restantes que não partam”, frisou.

O aeroporto de Catmandu, com uma só pista, tem dificuldade de resposta ao elevado número de voos de transporte de ajuda e pessoal oriundos do estrangeiro. Um avião com ajuda humanitária enviado na segunda-feira por França continuava ontem em trânsito em Abu Dhabi, sem autorização para aterrar em Catmandu. De acordo com McGoldrick, a maioria das equipas estrangeiras de socorro continua na capital nepalesa.

“Há uma janela de sete a nove dias, no máximo, para salvar sobreviventes. Estamos no quarto dia”, acrescentou, considerando que as operações entrariam numa outra etapa até sábado.

E se os mais de 5 mil mortos estão a ser cremados a um ritmo impressionante e os sobreviventes fogem da capital, começam agora a chegar aos hospitais feridos de outras regiões atingidas pelos sismos. À medida que melhoram as vias de comunicação com Catmandu, torna–se conhecida a magnitude da catástrofe noutras zonas do país, de onde não para de aumentar o fluxo de vítimas com graves lesões em direcção aos hospitais da capital, escreveu ontem o jornal nepalês “Kantipur”. “O hospital já está em colapso com o número de pacientes, e continuam a chegar pessoas de fora do vale (Catmandu)”, disse ao jornal o médico Swoyam Prash Pandit, director do hospital Bir, o principal centro médico da capital. O departamento de traumatologia do hospital encontra-se cheio, com 200 pacientes, tendo já sido mobilizados 300 médicos, de acordo com Pandit, que pediu a vinda imediata de ajuda, já que estão prestes a ficar “sem medicamentos e material médico”. “Não precisamos de dinheiro. Enviem-nos bom material médico e medicamentos”, explicou o director do Bir, acrescentando que os novos pacientes chegam habitualmente com golpes na cabeça, ossos fracturados ou deslocados. Este apelo dramático vindo dos hospitais torna ainda mais estranha a posição do governo de recusar mais ajuda internacional. Com Lusa