Depois das primeiras notícias que davam conta de que Sócrates estava a ser investigado pelo Ministério Público, Carlos Santos Silva terá resolvido tomar medidas de emergência para se desfazer de eventuais provas que o ligassem ao ex-primeiro-ministro. Logo nessa semana, terá pedido a Rui Mão de Ferro, seu sócio, administrador ou gerente em diversas empresas, para aparecer de urgência, no fim-de-semana, no seu escritório. Nada haveria de anormal no encontro, não fosse a equipa de investigação da Operação Marquês ter suspeitado do telefonema e ter incluído Mão de Ferro na lista dos alvos das buscas judiciais de Novembro, autorizadas pelo juiz Carlos Alexandre.
Na casa do empresário foram encontrados vários documentos considerados essenciais para a investigação, mas sem qualquer razão plausível para estarem em sua posse: documentos relacionados com os apartamentos que Santos Silva comprou à mãe de Sócrates e documentos relacionados com as relações contratuais entre Santos Silva e o então motorista de José Sócrates, João Perna. “Documentos esses que não tinham qualquer razão para se encontrarem com o referido Rui Mão de Ferro”, alegou o Ministério Público nas respostas enviadas à Relação de Lisboa no âmbito do pedido de revisão das medidas de coacção de Carlos Santos Silva.
O i tentou contactar Rui Mão de Ferro, mas não obteve respostas. Mão de Ferro não foi até à data constituído arguido num processo que recentemente constituiu mais dois arguidos: Inês do Rosário, mulher do empresário Carlos Santos Silva, e Joaquim Barroca Rodrigues, um dos administradores do grupo Lena.
Mas afinal quem é o homem alegadamente escolhido por Santos Silva para dispersar documentos que poderiam incriminar Sócrates e que os procuradores Ana Catalão e Rosário Teixeira dizem ser “um interveniente instrumental da pessoa de Carlos Silva”?
O nome do consultor já tinha surgido em notícias por duas razões: por um lado, porque terá sido uma das pessoas que terão ajudado a comprar 12 mil exemplares do livro de Sócrates, “A Confiança no Mundo”, com dinheiro saído das contas de Santos Silva e que o Ministério Público suspeita ser na verdade de José Sócrates; por outro, porque, segundo avançou o “Diário Económico”, a investigação tinha indícios de que seria a ponte das relações empresariais entre Santos Silva e Rui Pedro Soares, pelo menos no negócio da compra de direitos televisivos da liga espanhola de futebol.
Rui Mão de Ferro não é apenas administrador da Proengel, uma das empresas de Santos Silva, à qual está também ligado o advogado Gonçalo Trindade Ferreira, também arguido no processo. Mas um nome quase omnipresente nos negócios do empresário suspeito de ser o testa-de-ferro de José Sócrates. Mão de Ferro é também administrador e representante da Walton Grupo Inversor, outra empresa de Santos Silva que terá financiado a compra dos direitos da Liga espanhola pela Worldcom, empresa de Rui Pedro Soares. É gerente da Codecity Sports Management, também controlada por Rui Pedro Soares. E ainda gerente da empresa de Santos Silva, Taggia XIV, e sócio minoritário (com cerca de 5%) na sociedade IT1NERISANIS, controlada por Carlos Santos Silva.
As respostas às cartas rogatórias enviadas para a Suíça já terão entretanto permitido à investigação reconstituir o circuito do dinheiro que foi parar às contas de Santos Silva e que alegadamente terá servido para pagar “luvas” a Sócrates. De acordo com o auto de detenção de Joaquim Barroca, divulgado pelo “Expresso” e pela “Sábado”, estarão em causa 17 milhões de euros: 3 terão vindo do grupo Lena, 2 de um cidadão holandês e 12 de Hélder Bataglia, um dos administradores da Escom.