O truque do PSD e a vergonha do PS


Não interessa se o PSD pode ou não submeter à UTAO propostas políticas de um partido político (não pode nem deve), o que interessa é poder dizer que o PS não o quis fazer.


O PSD, confrontado com as ideias do grupo de reflexão formado por António Costa, seguiu a estratégia a que
não fugirá até ao derradeiro minuto do último dia de campanha eleitoral: acantonar Costa a uma ideia de despesismo, de descontrolo, de ligação ao fantasma de Sócrates. É uma estratégia simples, tão simples quanto isto: sempre que os socialistas deitarem a cabeça de fora surgirá alguém a pedir aos portugueses que não acreditem no conto do vigário, que não esqueçam o estado em que o país estava e todas as declinações mais ou menos criativas.

Neste sentido, Marco António Costa escreveu uma carta com perguntas e lançou a mirabolante ideia de ver submetida ao órgão que fiscaliza o parlamento e a um conselho liderado por Teodora Cardoso, as propostas económicas que servirão de base ao programa eleitoral do PS. Como é que os socialistas responderam a isso? Julgo que mal. Através de João Galamba, um bom mas ainda pouco credível porta-voz, deram lastro, visibilidade e até credibilidade ao truque da coligação. 

Os quadros políticos estão rotinados na troca de argumentos de salão que ajudam pouco à credibilização da política. Esgrimem argumentos como os comentadores de futebol defendem ou atacam penalties evidentes aos nossos olhos. E se no futebol a cegueira é compreensível, na política é aterradora. Porque quanto mais os políticos se entretêm com jogos florais e palacianos, mais se multiplica a tendência para cada vez menos votarem e, entre os que o fazem, escolherem projectos populistas e anti-sistema. 

O PSD levou à prática o que um padre católico (defendido pela ausência de um dogma em relação a Fátima) me disse: “Não sabemos se Nossa Senhora apareceu aos pastorinhos, mas sabemos que milhões de pessoas acreditam nisso, não há mais conversa possível a partir daí.” Trata-se de um fenómeno idêntico. Não interessa se o PSD pode ou não submeter à UTAO propostas políticas de um partido político (não pode nem deve), o que interessa é poder dizer que o PS não o quis fazer por saber que as propostas são irrealizáveis como eram as de Sócrates, as que o país pagou com língua de palmo.

Quanto a António Costa e aos seus mais próximos, parecem envergonhados e pesados do carrego que trazem às costas. São como aqueles maridos que depois de trair a mulher nunca sabem bem o que fazer para recuperar a confiança da pessoa traída e poder voltar a casa. O PS tem de resolver este problema psicológico, nem que seja na cadeira do psicanalista, e obrigar o PSD a discutir política a sério. O que não vai acontecer se continuarem reféns do senhor Sócrates e de uma vergonha defensiva que têm de chutar para fora. 

Vários comentadores aproveitaram para falar da hipótese de no futuro as propostas eleitorais serem sufragadas por uma comissão independente que analisaria os programas e os escrutinaria antes dos votos. Meu Deus, santa ingenuidade, ou o contrário disso, dependerá do caso. E quem seriam as pessoas? E que segurança teríamos de que fossem realmente independentes? Talvez então se pudesse continuar a inovar escolhendo uma comissão de sábios que definissem quem manda e quem obedece. Um novo regime que não exigiria eleições ou democracia, apenas a opinião abalizada dos que se auto-intitulam melhores. 


O truque do PSD e a vergonha do PS


Não interessa se o PSD pode ou não submeter à UTAO propostas políticas de um partido político (não pode nem deve), o que interessa é poder dizer que o PS não o quis fazer.


O PSD, confrontado com as ideias do grupo de reflexão formado por António Costa, seguiu a estratégia a que
não fugirá até ao derradeiro minuto do último dia de campanha eleitoral: acantonar Costa a uma ideia de despesismo, de descontrolo, de ligação ao fantasma de Sócrates. É uma estratégia simples, tão simples quanto isto: sempre que os socialistas deitarem a cabeça de fora surgirá alguém a pedir aos portugueses que não acreditem no conto do vigário, que não esqueçam o estado em que o país estava e todas as declinações mais ou menos criativas.

Neste sentido, Marco António Costa escreveu uma carta com perguntas e lançou a mirabolante ideia de ver submetida ao órgão que fiscaliza o parlamento e a um conselho liderado por Teodora Cardoso, as propostas económicas que servirão de base ao programa eleitoral do PS. Como é que os socialistas responderam a isso? Julgo que mal. Através de João Galamba, um bom mas ainda pouco credível porta-voz, deram lastro, visibilidade e até credibilidade ao truque da coligação. 

Os quadros políticos estão rotinados na troca de argumentos de salão que ajudam pouco à credibilização da política. Esgrimem argumentos como os comentadores de futebol defendem ou atacam penalties evidentes aos nossos olhos. E se no futebol a cegueira é compreensível, na política é aterradora. Porque quanto mais os políticos se entretêm com jogos florais e palacianos, mais se multiplica a tendência para cada vez menos votarem e, entre os que o fazem, escolherem projectos populistas e anti-sistema. 

O PSD levou à prática o que um padre católico (defendido pela ausência de um dogma em relação a Fátima) me disse: “Não sabemos se Nossa Senhora apareceu aos pastorinhos, mas sabemos que milhões de pessoas acreditam nisso, não há mais conversa possível a partir daí.” Trata-se de um fenómeno idêntico. Não interessa se o PSD pode ou não submeter à UTAO propostas políticas de um partido político (não pode nem deve), o que interessa é poder dizer que o PS não o quis fazer por saber que as propostas são irrealizáveis como eram as de Sócrates, as que o país pagou com língua de palmo.

Quanto a António Costa e aos seus mais próximos, parecem envergonhados e pesados do carrego que trazem às costas. São como aqueles maridos que depois de trair a mulher nunca sabem bem o que fazer para recuperar a confiança da pessoa traída e poder voltar a casa. O PS tem de resolver este problema psicológico, nem que seja na cadeira do psicanalista, e obrigar o PSD a discutir política a sério. O que não vai acontecer se continuarem reféns do senhor Sócrates e de uma vergonha defensiva que têm de chutar para fora. 

Vários comentadores aproveitaram para falar da hipótese de no futuro as propostas eleitorais serem sufragadas por uma comissão independente que analisaria os programas e os escrutinaria antes dos votos. Meu Deus, santa ingenuidade, ou o contrário disso, dependerá do caso. E quem seriam as pessoas? E que segurança teríamos de que fossem realmente independentes? Talvez então se pudesse continuar a inovar escolhendo uma comissão de sábios que definissem quem manda e quem obedece. Um novo regime que não exigiria eleições ou democracia, apenas a opinião abalizada dos que se auto-intitulam melhores.