Luz, o cartoonista que sobreviveu ao ataque terrorista ao “Charlie Hebdo" por naquela fatídica manhã de 7 de Janeiro se ter atrasado para o trabalho, ele que foi o autor da capa da primeira edição do jornal satírico depois do atentado, decidiu que não vai voltar a desenhar o profeta. “Desenhar Maomé já não me interessa”, disse Rénald Luzier em entrevista à “Les Inrockuptibles”.
“Não vou desenhar mais a personagem de Maomé, já não me interessa. Cansei-me"
“Tout est pardonné”, escreveu Luz nessa capa, em que era o próprio profeta, lágrima no canto do olho, a segurar um cartaz que dizia “Je suis Charlie”, numa edição lançada em cinco línguas e que fez as vendas do semanário dispararem de uns parcos 60 mil para 8 milhões de exemplares.
Quase quatro meses depois do atentado que dizimou a redacção do “Charlie Hebdo” — morreram 12 pessoas incluindo Charb (director da publicação e seu melhor amigo), Cabu (o seu mentor), Tignous, Wolin e ainda o conceituadíssimo Philippe Honoré — Luz prepara-se para publicar “Catharsis”, um livro de banda desenhada que é lançado em França a 21 de Maio e foi isso mesmo, uma catarse.
“Catharsis” é sobre o que aconteceu depois e não chegou a vir a público, é “uma guerra psicológica e íntima contra a loucura” depois da intolerável perda. “Em cada nova prancha" escreve a revista francesa, "Luz reconquista um pouco do terreno perdido face ao medo, para jogar a final do desespero, da violência e da tristeza".
Na entrevista que concedeu à “Les Inrockuptibles”, Luz diz que “os terroristas não venceram”, que “só ganharão se a França inteira continuar a ter medo”. Mas ao mesmo tempo não consegue esconder que o ataque à redacção a 7 de Janeiro, o dia do seu 43.º aniversário, deixou marcas profundas, que serão difíceis de apagar. A uma pergunta relacionada com a capa da primeira edição pós-atentado, Luz respondeu: “Não vou desenhar mais a personagem de Maomé, já não me interessa. Cansei-me, como aconteceu com Sarkozy. Não vou passar a minha vida a desenhá-los.”