No centro das suspeitas que ontem levaram mais de 100 investigadores ao terreno para uma ronda de 34 buscas no Caso Vistos Gold está um nome: Jaime Gomes, ex-sócio de Miguel Macedo e uma das 11 pessoas que em Novembro foram constituídas arguidas na Operação Labirinto. As escutas telefónicas que constam do processo mostram como fez inúmeros contactos na tentativa de que fossem concedidos rapidamente vistos de entrada a cidadãos líbios que necessitavam de tratamento médico em Portugal. De acordo com informações recolhidas pelo i, os investigadores suspeitam que Jaime Gomes terá actuado não em prol dos feridos líbios, mas de interesses privados: os seus e os da empresa Intelligent Life Solutions (ILS). Nesta história aparece o nome de Lalanda e Castro, o líder da Octapharma visado na Operação Marquês, o do então ministro da Administração Interna, Miguel Macedo, e até nomes menos conhecidos, como o de um cidadão egípcio residente em Odivelas, um Nélson e um José.
Os esforços de Jaime Gomes teriam em vista desbloquear um entrave diplomático. Como a embaixada de Portugal na Líbia tinha encerrado depois da guerra, o protocolo que previa que os doentes líbios recebessem assistência médica em Portugal estava comprometido. Para que estes doentes líbios, que deveriam vir em grupos de 20, num total de 80 a 100, chegassem efectivamente a receber tratamento em Portugal, Jaime Gomes ter-se-á então desdobrado em contactos com Miguel Macedo e Manuel Jarmela Palos, então director do SEF e também arguido no processo. Nos dias 18 e 20 de Agosto de 2014, Jaime Gomes terá jantado com Macedo. Nesse mês, em duas conversas telefónicas citadas num acórdão do Caso Vistos Gold a que o i teve acesso, Jaime Gomes terá falado da “questão do IVA” e mencionado que o então ministro “teve conhecimento disso e também esteve envolvido”.
Foi precisamente “a questão do IVA” que levou ontem os investigadores da PJ, da Autoridade Tributária e do Ministério Público a fazerem buscas na Secretaria de Estado e dos Assuntos Fiscais, inclusivamente no gabinete de Paulo Núncio. Em causa está o tratamento fiscal que terá sido dado à ILS no âmbito de uma transacção com o Ministério da Saúde líbio. A investigação pretende averiguar se a empresa de facto foi beneficiada e por intermédio de quem. Em causa estão suspeitas de corrupção, tráfico de influências, peculato e branqueamento de capitais. Para desmontar a trama, a investigação correu o país em dezenas de buscas que passaram também pelo edifício da Direcção-Geral das Finanças e pela Direcção-Geral dos Assuntos Consulares e Comunidades Portuguesas.
Na sequência dos contactos de Jaime Gomes, os entraves diplomáticos terão começado a ser desbloqueados, passando a ser a embaixada de Portugal na Tunísia a emitir os vistos dos cidadãos líbios. Jaime Gomes ia dando conta dos progressos dos seus esforços a pelo menos quatro pessoas: Nélson Ferreira, sócio-gerente da empresa Intelligent Life Sollutions (ILS) – Produtos e Soluções na Área da Saúde, com sede em Lisboa; Paulo Lalanda e Castro, também gerente da ILS e líder da multinacional Octapharma; um indivíduo identificado como José Ferreira; e Ahmed Abdel Rahman, egípcio e sócio-gerente da empresa Wiseselection.
Qual a ligação entre uns e outros? Os sócios da ILS são Nélson Pereira e uma sociedade chamada Xcellentis. Esta última tem como sócio Luís de Figueiredo, também este sócio de Jaime Gomes na JAG – Consultoria e Gestão.