Sismo no Nepal. Caos, avalanchas e um número de mortos que pode chegar a 10 mil

Sismo no Nepal. Caos, avalanchas e um número de mortos que pode chegar a 10 mil


Sismo atingiu oito milhões de pessoas e ajuda continua a ser insuficiente 


“O governo está a fazer tudo o que pode no socorro e salvamento, num autêntico cenário de guerra. É um desafio, e tempos muito difíceis para o Nepal.” Estas palavras foram ditas ontem por Sushil Koirala, primeiro--ministro do Nepal, que admitiu um balanço de 10 mil mortos no final de uma operação que é praticamente uma missão impossível. Nada ajuda. As réplicas são muitas e as avalanchas sucedem-se, como aconteceu ontem à tarde. Resultado: mais 250 desaparecidos. Na capital, Catmandu, o cenário é de total devastação.

Não são apenas os locais históricos destruídos, são milhares de pessoas nas ruas desde sábado com uma assistência precária e com medo de regressarem às suas casas, de serem mortas devido às fortes réplicas que continuam a sentir-se em todo o país. As histórias dramáticas sucedem-se, com sobreviventes ainda debaixo de escombros e as equipas de socorro incapazes de as salvar por falta de equipamentos para abrir caminho por entre os destroços. 

O pequeno aeroporto de Catmandu é insuficiente para receber todos os aviões carregados de material, mantimentos e equipas especializadas neste tipo de operações. Há centenas de pessoas isoladas e sem assistência um pouco por todo o país. 

Facebook em acção As estimativas apontam que o terramoto atingiu 25% do país e afectou oito milhões de pessoas – uma tragédia que está a mobiliar a comunidade internacional, que foi aos poucos tomando consciência da dimensão do desastre. O Facebook lançou um apelo aos internautas para fazerem um donativo destinado às vítimas do sismo e propôs oferecer dois milhões de dólares para completar as contribuições que forem feitas. Activou também um sistema de alerta, chamado de “verificação de segurança”, permitindo que aqueles que estão na área onde ocorreu a catástrofe previnam os seus familiares e amigos de como se encontram. 

Desde a introdução deste sistema, no último sábado, no Nepal, assim como em algumas áreas do Bangladesh, Índia e Butão, milhões de pessoas já relataram que estavam seguras, enquanto dezenas de milhões disseram que pessoas que conhecem e que se encontravam no local estão bem. 

Operação maciça da ONU A ONU prepara-se entretanto para lançar uma operação maciça de ajuda humanitária no Nepal. Ontem aterrou no país um avião das Nações Unidos carregado de medicamentos, tendas e cobertores. Através das suas agências, Organização Mundial da Saúde (OMS) e Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), a ONU vai prestar cuidados médicos a 40 mil pessoas nos próximos três meses e disponibilizar 120 toneladas de ajuda humanitária em dois voos.

Mobilização internacional Outros países que também participam na assistência humanitária são o Sri Lanka, que deverá enviar 60 toneladas de suprimentos (medicamentos, água, cobertores, barracas e equipamentos de comunicação), e a Indonésia, que anunciou o envio de pessoal médico, medicamentos, alimentos, cobertores e tendas. A Malásia, com material médico, uma equipa de 30 socorristas e 20 médicos, e a Rússia, com uma centena de especialistas em situações de emergência e equipamentos, incluindo helicópteros e drones (aviões não tripulados), são também exemplos da solidariedade internacional para com o Nepal.

Outras ajudas estão a chegar do Canadá, que prometeu canalizar cinco milhões de dólares canadiano (3,7 milhões de euros) para organizações humanitárias, e da União Europeia, que assumiu o compromisso de doar três milhões de euros para ajudar o Nepal. As organizações humanitárias estão também a prestar ajuda ao Nepal, com os Médicos Sem Fronteiras a programar o envio de um hospital insuflável para perto de Catmandu, a francesa Secours Populaire a despender uma ajuda no valor de 50 mil euros e a Ordem de Malta a prometer o envio de meia tonelada de medicamentos e material médico.

À procura de estrangeiros Outros governos, como o espanhol, estão desesperados à procura de cidadãos dos seus países. O governo de Madrid fez várias operações de salvamento e anda agora à procura de 107 que ainda estão desaparecidos. Dos 21 portugueses que estavam sábado no Nepal, sete já saíram do país pelos seus meios. Centenas de turistas estavam ontem encurralados num parque próximo de Catmandu, impossibilitados de chegar pelos seus meios a uma zona segura.

Um casal espanhol que tentou sair do local, onde encontram dezenas de cadáveres, foi atingido por uma derrocada e o homem morreu. A única esperança é serem socorridos por helicópteros, que também são escassos num país pobre que vai ficar com certeza ainda mais pobre depois desta tragédia. Economistas apontam para uma quebra de 20% do PIB nacional e os escombros devem ficar à vista desarmada por muitos e bons anos. Com Lusa