Sobre a tragédia no Mediterrâneo


Apetecia-me rir desta Europa e das suas fantasias, não fosse demasiado grave.


O horror adensava-se a cada detalhe que surgia. Imigrantes trancados, graduados por nacionalidade e pelo preço que pagaram. Como uma encenação macabra do tempo da escravatura, os contrabandistas de pessoas arrumam o “rebanho” de arma em punho. Um jovem somali relata que um dos seus amigos foi empurrado para o mar pelos traficantes. Ao verem o porta-contentores que se aproximava, correram todos para o mesmo lado e o barco virou-se. Salvaram-se quantos? As crianças pagam “bilhete” inteiro? Explicam que o preço varia, conforme o barco e a possibilidade de atingir o destino, entre os 7 mil e os 12 mil euros. 

Um deputado italiano discursa sobre a necessidade dos imigrantes para a agricultura, um alemão refere a indústria, jogam com as pessoas e com o mundo numa lógica de custos e benefícios. Tudo é claro para eles, embora o mundo teime em mostrar que o cinzento existe. Oscilando entre extremos de compaixão e ira, estupefacção e repulsa, com uma mão na cabeça e outra no rato, leio alguns estudos sobre a abertura das fronteiras da UE a imigrantes com poucas qualificações em que se referem “novas evidências” e “provas de benefícios” para os recém-chegados e para os anfitriões. Entretanto, uma refugiada da Etiópia, num canal de notícias, grita, numa linguagem rebuscada e violenta, a única possível no meio de tanto sofrimento, pelos seus direitos à habitação e à decência.

Perante tanta miséria e desespero, deles e nosso, o parlamento português anuncia, oportunamente, uma cimeira sobre as “migrações”. Os senhores da UE reúnem-se pela enésima vez para discutir mais um (outro) “plano” (ou será pacto?) de imigração. Apetecia-me rir desta Europa e das suas fantasias, não fosse demasiado grave.

Blogger. Escreve à terça-feira 

Sobre a tragédia no Mediterrâneo


Apetecia-me rir desta Europa e das suas fantasias, não fosse demasiado grave.


O horror adensava-se a cada detalhe que surgia. Imigrantes trancados, graduados por nacionalidade e pelo preço que pagaram. Como uma encenação macabra do tempo da escravatura, os contrabandistas de pessoas arrumam o “rebanho” de arma em punho. Um jovem somali relata que um dos seus amigos foi empurrado para o mar pelos traficantes. Ao verem o porta-contentores que se aproximava, correram todos para o mesmo lado e o barco virou-se. Salvaram-se quantos? As crianças pagam “bilhete” inteiro? Explicam que o preço varia, conforme o barco e a possibilidade de atingir o destino, entre os 7 mil e os 12 mil euros. 

Um deputado italiano discursa sobre a necessidade dos imigrantes para a agricultura, um alemão refere a indústria, jogam com as pessoas e com o mundo numa lógica de custos e benefícios. Tudo é claro para eles, embora o mundo teime em mostrar que o cinzento existe. Oscilando entre extremos de compaixão e ira, estupefacção e repulsa, com uma mão na cabeça e outra no rato, leio alguns estudos sobre a abertura das fronteiras da UE a imigrantes com poucas qualificações em que se referem “novas evidências” e “provas de benefícios” para os recém-chegados e para os anfitriões. Entretanto, uma refugiada da Etiópia, num canal de notícias, grita, numa linguagem rebuscada e violenta, a única possível no meio de tanto sofrimento, pelos seus direitos à habitação e à decência.

Perante tanta miséria e desespero, deles e nosso, o parlamento português anuncia, oportunamente, uma cimeira sobre as “migrações”. Os senhores da UE reúnem-se pela enésima vez para discutir mais um (outro) “plano” (ou será pacto?) de imigração. Apetecia-me rir desta Europa e das suas fantasias, não fosse demasiado grave.

Blogger. Escreve à terça-feira