O poder é o melhor afrodisíaco


O poder é o mais poderoso afrodisíaco que existe, permite até viver uma vida (se for caso disso) com quem se detesta.


Passos Coelho e Paulo Portas esconderam o segredo, mas o anúncio da coligação alargada legislativas/presidenciais entre o PSD e o CDS não apanhou ninguém de surpresa. Há destes paradoxos: esconder bem uma novidade que já é conhecida por todos mas que a todos deixa na dúvida. Apesar desta estranha equação, nem por isso a conta deixa de ser complexa. Vejamos. 

Em primeiro lugar, os protagonistas escolheram o 25 de Abril para o anúncio, o que não é inocente. No campo simbólico da esquerda, com o primeiro-ministro com um cravo à lapela, quiseram assumir a ideia de que a liberdade está ao lado de um governo que salvou o país da bancarrota e da dependência dos credores; a liberdade foi resgatada depois de o PS ter mergulhado o país no caos. Por quererem dizê-lo escolheram a Revolução de Abril como pano de fundo. 

Em segundo lugar, concluo que Santana Lopes não será o candidato presidencial apoiado pela coligação – após o pedido de fiscalização de Mota Soares à Santa Casa, que o provedor afirmou ser obra de Portas, só com imaginação podemos pôr a hipótese. Marcelo será o candidato. De qualquer modo, há um dilema interessante: Santana avançará mesmo assim? Se avançar terá de abdicar da provedoria, não tem lógica que o faça, não trocará o certo pelo incerto e sem garantias de financiamento. Mas se alguém o pode fazer em Portugal, se alguém tem a dose de imprevisibilidade suficiente, esse alguém é ele.

A terceira conclusão é que terminou a possibilidade de Costa fazer uma coligação com Portas. Existia veladamente a hipótese; uma parte do PS, em caso de acordo de governo ou parlamentar, preferiria sentar-se à mesa com o CDS a fazê-lo com Marinho e Pinto. Isto partindo do princípio de que os socialistas não terão maioria absoluta, de que Rui Tavares e o seu Livre não terá uma votação suficiente e, obviamente, no caso de Marinho confirmar a força populista de que parece credor.

Duas constatações óbvias: PSD e CDS não podiam deixar de se coligar. Qualquer divisão implicaria campanhas separadas, discursos contraditórios e roupa suja que seria aproveitada pelo PS. A outra constatação é que o primeiro-ministro baseia o seu poder num pragmatismo pouco visto em Portugal. Temia-se há um ano que PSD e CDS não se aguentassem um mês que fosse. Portas batera com a porta inventando “irrevogável” como palavra de uso corrente em tascas e no Gambrinus. Vimos nesse tempo os ex-ministros Vítor Gaspar e Álvaro Santos Pereira lamentarem ter conhecido o Rasputine português, esse mesmo, o pelos dois denominado “perverso Portas”. O poder é mesmo o mais poderoso afrodisíaco que existe, permite até viver uma vida (se for caso disso) com quem se detesta. Também acontece nos casamentos. Mas na política, apesar de Sun Tzu nos ter ensinado que os inimigos devem estar próximos, nunca se levou tão longe a máxima.

Os dados estão lançados. E agora a bola está do lado de António Costa. Para ganhar as eleições e poder ser primeiro-ministro terá de provar que não é José Sócrates, captar votos de protesto e apresentar nomes de peso que provoquem uma corrente de esperança numa nova política que não seja a que uma parte do país reconhece ter contribuído para a derrocada. Não é fácil, mas é necessário. Porque não começar a falar de maioria absoluta e apresentar quatro ou cinco nomes acima de qualquer suspeita, nomes que aceitem ser ministros se o país oferecer a confiança ao PS? Costa precisa de jogar trunfos e de voltar ao jogo, e já não há muitas cartas no baralho. Julgo que ele o sabe. 

O poder é o melhor afrodisíaco


O poder é o mais poderoso afrodisíaco que existe, permite até viver uma vida (se for caso disso) com quem se detesta.


Passos Coelho e Paulo Portas esconderam o segredo, mas o anúncio da coligação alargada legislativas/presidenciais entre o PSD e o CDS não apanhou ninguém de surpresa. Há destes paradoxos: esconder bem uma novidade que já é conhecida por todos mas que a todos deixa na dúvida. Apesar desta estranha equação, nem por isso a conta deixa de ser complexa. Vejamos. 

Em primeiro lugar, os protagonistas escolheram o 25 de Abril para o anúncio, o que não é inocente. No campo simbólico da esquerda, com o primeiro-ministro com um cravo à lapela, quiseram assumir a ideia de que a liberdade está ao lado de um governo que salvou o país da bancarrota e da dependência dos credores; a liberdade foi resgatada depois de o PS ter mergulhado o país no caos. Por quererem dizê-lo escolheram a Revolução de Abril como pano de fundo. 

Em segundo lugar, concluo que Santana Lopes não será o candidato presidencial apoiado pela coligação – após o pedido de fiscalização de Mota Soares à Santa Casa, que o provedor afirmou ser obra de Portas, só com imaginação podemos pôr a hipótese. Marcelo será o candidato. De qualquer modo, há um dilema interessante: Santana avançará mesmo assim? Se avançar terá de abdicar da provedoria, não tem lógica que o faça, não trocará o certo pelo incerto e sem garantias de financiamento. Mas se alguém o pode fazer em Portugal, se alguém tem a dose de imprevisibilidade suficiente, esse alguém é ele.

A terceira conclusão é que terminou a possibilidade de Costa fazer uma coligação com Portas. Existia veladamente a hipótese; uma parte do PS, em caso de acordo de governo ou parlamentar, preferiria sentar-se à mesa com o CDS a fazê-lo com Marinho e Pinto. Isto partindo do princípio de que os socialistas não terão maioria absoluta, de que Rui Tavares e o seu Livre não terá uma votação suficiente e, obviamente, no caso de Marinho confirmar a força populista de que parece credor.

Duas constatações óbvias: PSD e CDS não podiam deixar de se coligar. Qualquer divisão implicaria campanhas separadas, discursos contraditórios e roupa suja que seria aproveitada pelo PS. A outra constatação é que o primeiro-ministro baseia o seu poder num pragmatismo pouco visto em Portugal. Temia-se há um ano que PSD e CDS não se aguentassem um mês que fosse. Portas batera com a porta inventando “irrevogável” como palavra de uso corrente em tascas e no Gambrinus. Vimos nesse tempo os ex-ministros Vítor Gaspar e Álvaro Santos Pereira lamentarem ter conhecido o Rasputine português, esse mesmo, o pelos dois denominado “perverso Portas”. O poder é mesmo o mais poderoso afrodisíaco que existe, permite até viver uma vida (se for caso disso) com quem se detesta. Também acontece nos casamentos. Mas na política, apesar de Sun Tzu nos ter ensinado que os inimigos devem estar próximos, nunca se levou tão longe a máxima.

Os dados estão lançados. E agora a bola está do lado de António Costa. Para ganhar as eleições e poder ser primeiro-ministro terá de provar que não é José Sócrates, captar votos de protesto e apresentar nomes de peso que provoquem uma corrente de esperança numa nova política que não seja a que uma parte do país reconhece ter contribuído para a derrocada. Não é fácil, mas é necessário. Porque não começar a falar de maioria absoluta e apresentar quatro ou cinco nomes acima de qualquer suspeita, nomes que aceitem ser ministros se o país oferecer a confiança ao PS? Costa precisa de jogar trunfos e de voltar ao jogo, e já não há muitas cartas no baralho. Julgo que ele o sabe.