Blur. Agora todos: Woooo-hooooh!

Blur. Agora todos: Woooo-hooooh!


Recordamos uns quantos momentos de magia pura enquanto esperamos por mais uns quantos. 


Era o shoegaze, e o desnorte capilar próprio da alvorada dos saudosos (inserir ponto de interrogação se disso for caso) anos 90. Do Goldsmiths College, em Londres, para o elogio dos vícios da eterna juventude. Em Outubro de 1990, admitia-se: “She’s so High”, e os Blur juntam-se ao grupo das baggies, ainda a relativa distância do separador Britpop. Usando o descomplicómetro, falamos daquele conjunto de bandas marcadas pelo psicadelismo e pelo acid house (isso mesmo, estilo Stone Roses ou Happy Mondays). Depois o mundo pensou duas  vezes quando os rapazes anunciaram ao que vinham. “There’s no Other Way”. Olá tops.

A premonição escrevia-se em 1993, a anos-luz da generalização das hamburguerias, do bolo do caco e das corridas: “Modern Life Is Rubbish”, o segundo álbum, rectificava o caminho sonoro do grupo, que só teve de esperar mais um ano para puxar dos galões e agitar a galáxia, como se impõe nestas coisas do pop/rock. Deram-nos “Parklife” e o hit “Girls and Boys”, uma daquelas malhas que, duas décadas volvidas, elas e eles ainda ouvem com gosto e um sorriso rasgado – dançam, até – na pista de qualquer casa de diversão nocturna que não se arme em esquisita. Depois de um fim-de-semana de revivalismo, sopas, descanso, e se possível um refúgio fora da cidade.

Nem de propósito, é certo e sabido que ter uma segunda casa é motivo para acender invejas, sobretudo se for no campo. Foi o que aconteceu em 1995, depois de “Great Escape”, fiel depositário da faixa “Country House”. Nesse Agosto, quiçá resumidos à extenuante temporada de veraneio em Ibiza, o outro lado da Britpop, os Oasis empreenderam uma batalha épica, lançando “Roll with It” por essa altura. A nação conteve o fôlego até ao veredicto das tabelas de vendas (muitos nem terão ido de férias) e Albarn e companhia acabaram por levar a melhor. Números finais?  274 mil contra 216 mil cópias. E isto não ficava por aqui. 

Para a história fica a célebre tirada de Noel Gallagher no rescaldo da derrota, quando desejou que Damon e Alex “apanhassem sida e morressem”. Mais tarde pediria desculpa, mas os maus fígados ficariam para a posteridade. O mais curioso da maldição associada a “Country House” é que Alex James acabou mesmo por ir viver para uma “very big house” no campo – e ao que se sabe de boa saúde. Nos anais entrou também o vídeo da música, assinado pelo amigo e artista Damien Hirst. Em 1997, o single “Song 2” testava a resistência vocal e pulmonar de meio mundo, incluindo em grandes eventos desportivos. Ora repitam: “Woooo-hooooh!”

A conquista dos States e a popularidade imparável não chegaram para acalmar Graham Coxon, pelo contrário. O desencanto com a projecção ao nível do mainstream adensou e o guitarrista enamorou-se por queridinhos indie como os Pavement, embarcando num trilho a solo e motivando uma certa onda de culto por parte dos fãs. Lançou três álbuns antes de formalizar a saída dos Blur, em 2002, mas não sem antes deixar a sua impressão digital em mais um single de boa memória. Em 1999 escrevia e cantava em “Coffee and TV”, e uma legião de seguidores nunca mais olhou para um pacote de leite da mesma maneira. O álbum, “13”, era a despedida antes do hiato.

Se a popularidade extrema era uma dor de cabeça para Graham, o resto da formação tinha razões para outras tantas cefaleias. A ligação de Coxon com o álcool intensificou-se e as relações entre os elementos do grupo nem com um descafeinado se tornariam menos inflamadas. O seu último contributo para o colectivo, nessa fase tortuosa, foi a faixa “Battery in Your Leg”, que encerra o álbum “Think Tank”, lançado em 2003. O sétimo trabalho de estúdio puxava da electrónica e do interesse particular de Damon pelo hip hop e pela música africana. A desagregação, até 2008, produziria os seus efeitos. Apresentamos alguns de seguida.

O hiato deu para tudo. O baixista Alex James escreveu sobre comida em jornais como “The Sun”, “The Independent” ou “The Time”, e transitou do título de rock star para o de produtor de queijo, chegando mesmo a mudar-se para uma quinta no Oxfordshire. O baterista David Rowntree tornou-se solicitador, seguiu a via da animação computorizada e continuou fã de cheeseburguers. O artista visual Coxon continuou a desenhar e a editar álbuns (em 2012 já tinha tantos a solo como os Blur no total). Albarn, o adepto do Chelsea frequentemente avistado em Stamford Bridge, formou bandas virtuais, envolveu-se em supergrupos, editou a solo. Em 2009, a bandeira branca da reunião era desfraldada ao vivo em Hyde Park.

A magia segue o seu caminho com “The Magic Whip”, concebido em Hong Kong, depois do cancelamento de uma digressão no Japão em 2013. Foi aclamado pela crítica no Reino Unido – “um regresso triunfal”, segundo o “The Telegraph” (notando porém que Alex James é um dos colunistas do jornal, mas adiante). A produção ficou a cargo de Stephen Street, um dos artífices do apogeu dos Blur nos gloriosos anos 90. No novo trabalho, o quarteto fantástico bebe das influências de world music e ópera importadas por Albarn, e das referências da folk psicadélica convocadas por Coxon. A 17 de Julho, é matar saudades no Festival Super Bock.