Filipe e Gonçalo estão a desenvolver uma aplicação que permite levantar uma quantia definida pelo utilizador no multibanco por meio de um código temporário. Isto só com um telemóvel. Acham que é tudo “uma questão de hábito”.
E se pudesse levantar dinheiro num multibanco com o seu telemóvel e sem usar o cartão? É este o objectivo que Filipe Quendera e Gonçalo das Neves se propõem. Os dois jovens, ambos de 24 anos e amigos há dez, foram os vencedores da segunda edição da Novabase GameShifters e estão agora a trabalhar na tecnologia que vai trazer esta aplicação até aos nossos smartphones.
A ideia para uma aplicação que permite levantar dinheiro sem recurso a um cartão surgiu “um pouco das necessidades” dos Ninjas Financeiros – assim se intitulam os fundadores. “Nós sentámo–nos e pensámos: o que é que pode realmente fazer a diferença? E quando demos por nós a única coisa que tínhamos em cima da mesa eram os telemóveis”, explica a equipa.
Mas como é que vamos ter acesso a dinheiro se tudo o que temos é um telemóvel? Este foi o ponto de partida: “A nossa questão foi: sem carteira, só com o telemóvel, como é que eu mexo em dinheiro? Usando na mesma o multibanco mas através do telefone e de um código temporário”, conta Filipe Quendera.
O nome Ninjas Financeiros surgiu quando, depois de muitas horas sem dormir, Filipe e Gonçalo fizeram uma “sesta”. Depois da sesta veio a inspiração: “Decidimos avançar com a nossa ideia mas pensámos: antes disso precisamos de um nome. Tínhamos vários em cima da mesa mas nenhum era à nossa imagem. Então lembrámo-nos de Ninjas Financeiros e da aplicação NinjaMoney”, conta Gonçalo das Neves.
Mesmo antes de participar no Novabase GameShifters, a equipa já tinha algumas ideias do que poderia vir a apresentar. Os dois acabaram por escolher esta aplicação por ser a que melhor se aplicava à experiência do dia-a-dia: “É o ‘ah, esqueci-me da carteira, podes-me pagar o almoço’? No nosso dia-a-dia temos sempre o telemóvel”, acrescenta Gonçalo. “Se formos dizer que é uma aplicação contactless não é tão interessante como chamar a equipa dos Ninjas Financeiros que aparecem e desaparecem e o problema fica resolvido”, brincam.
Com a vitória no Novabase GameShifters receberam 15 mil euros: 5 mil em dinheiro, 5 mil em espaço físico de escritório e outros 5 mil em consultoria. “O primeiro prémio é o que realmente dá uma oportunidade grande de vir a implementar a ideia e permite ter o apoio de pessoas com muita experiencia nesta área que podem fazer a diferença”, considera Gonçalo.
COMO FUNCIONA Quanto à aplicação em si, o funcionamento promete ser intuitivo. “Entramos na aplicação e escolhemos o montante que queremos. O montante máximo é personalizável e seleccionado por cada utilizador.
Escolhendo o montante, a aplicação gera um código temporário. Dirijo-me à caixa multibanco, insiro esse código e confirmo com o meu PIN. A única coisa diferente aqui é a utilização de um código de transacção que se insere no multibanco e substitui de facto o cartão”, explicam os Ninjas.
Filipe Quendera explica ainda que, “sem ter de substituir toda a tecnologia existente nos multibancos, terá de se adicionar uma pequena feature que funcione com esta ideia. Em vez de ler o cartão quando o inserimos, o que o multibanco faz é esperar por um código. O PIN e a transacção que acontece é exactamente igual a uma com cartão”.
Outra das funcionalidades da aplicação vai ser a possibilidade de emprestar dinheiro a alguém em segurança, mesmo que essa pessoa não esteja, por exemplo, na mesma cidade.
“Posso emprestar dinheiro a quem quiser mesmo que uma pessoa esteja em Lisboa e a outra no Porto”, afirma Gonçalo. “Não posso enviar o meu cartão multibanco por telemóvel mas posso enviar o código, que rapidamente se insere no multibanco”, acrescenta.
Para isto, a outra pessoa tem de ser de confiança. “A pessoa tem de ter acesso ao meu PIN mas só está autorizada a movimentar o dinheiro que eu coloquei no cartão que criei.”
SEGURANÇA “O grande desafio para o utilizador final é sempre a questão da segurança. Mas julgamos que se a aplicação for desenvolvida como nós pensamos e se estiver creditada como achamos que vai estar – a funcionar com bancos e com a rede multibanco –, não existirão falhas de segurança a este nível”, considera Filipe.
Deste modo, o medo que os utilizadores podem ter vem da própria aplicação: “Mas se nós comprovarmos que a aplicação funciona e o código só é válido durante 30 minutos, mostramos que é segura. Trinta minutos não dá para inventar assim tanto. Para adivinhar os códigos era preciso fazer magia.”
Gonçalo concorda que “as pessoas têm medo do que é novo”, mas está seguro do trabalho que estão a desenvolver: “Fizemos as nossas pesquisas e vimos que o multibanco em Portugal vai fazer 30 anos e hoje em dia é muito mais desenvolvido que noutros países europeus. Se já conseguimos carregar o passe e o telemóvel, acho que é uma questão de hábito até que as pessoas comecem a usar também esta aplicação.”
E a aplicação poderá estar pronta a funcionar mais depressa do que se imagina. “O mais complicado e o que pode demorar mais tempo é a criação da tal feature no multibanco que em vez de ler o cartão lê o código. Essa é a parte mais difícil, porque tem de existir uma interacção com os multibancos.” Mas não é nada que não se resolva num espaço de uns meses de trabalho. “Estamos a falar de, desde o início do trabalho, uma duração de cerca de um ano no máximo, apostamos nós”, garantem.
Podemos estar descansados porque os Ninjas prometem não ficar por aqui. “Não me quero cingir a fazer isto, implementar e sentar-me. Pensar: “Isto é divertido mas agora não quero fazer mais nada”, revela Filipe.
Até porque, referem, “este projecto pode mudar muita coisa mas existem muitas outras que podem mudar também. E queremos fazer parte delas”.