Uma fortaleza chamada Europa


Aceitar apenas 5 mil imigrantes por ano é pouco. Muito pouco. 


Ontem voltamos à normalidade. Depois das declarações de choque dos chefes de governo da União Europeia sobre o desastre que vitimou mais de 900 imigrantes ilegais desesperados no Mediterrâneo, voltamos à normalidade das declarações redondas, meio vazias e opostas a qualquer decisão firme.

Omomento pedia uma Europa solidária que resgatasse a superioridade moral perdida no tempo, mas o resultado final preparava-se para ser, no fecho desta edição, uma mão cheia de quase nada.

Em cima da mesa dos líderes europeus que se reuniram ontem à noite de emergência em Bruxelas estava a abertura para receber apenas 5 mil imigrantes por ano – medida claramente insuficiente face à dimensão do êxodo migratório africano. São mais de 400 imigrantes ilegais por mês, mais de 1600 só nos primeiros quatros meses de 2015. Em 2014 apenas, mais de 150 mil pessoas tentaram entrar no continente europeu dessa forma. E no último ano e meio morreram tantas pessoas como aquelas que os líderes europeus querem agora deixar entrar – o que implica que a Europa só deverá aceitar um em cada 30 dos imigrantes desesperados que tentam escapar à pobreza e aos conflitos militares que devastam a Líbia, a Síria ou o Iémen.

É pouco. Muito pouco. E implica reconhecer uma política de portas fechadas. Bastava ouvir os líderes europeus à chegada ao Conselho para percebermos que não há abertura para discutir uma política de imigração comum – como se impõe. É verdade que a União Europeia (UE) está a atravessar uma crise económica que deixou mais de 24 milhões de pessoas no desemprego. E é óbvio que isto provoca problemas políticos na opinião pública de cada estado-membro da UE para impor uma política de imigração demasiado expansiva. Mas daí a aceitar apenas 5 mil mil pessoas por ano, repatriando mais de 150 mil que tentam entrar através do Mediterrâneo, transforma oficialmente a Europa numa fortaleza praticamente impenetrável. É necessária uma política mais pragmática.

A prova de que os dirigentes europeus não estão interessados nessa política é o foco que Angela Merkel e outros dirigentes colocaram à entrada para a reunião do Conselho Europeu no combate à imigração ilegal e aos grupos criminosos que exploram o desespero dessas pessoas para ganhar dinheiro. Admitir acções militares contra esses grupos não é uma solução para o problema. Pode atenuá-lo, mas não resolverá nada.

Já aumentar os fundos disponíveis para a vigilância naval do Mediterrâneo, ajudando a Itália com meios militares de outros países da União Europeia (a Grã-Bretanha já disponibilizou esses meios), parece ser a única medida claramente positiva. É de facto a única maneira de evitar mais tragédias como a do último fim-de--semana. Mas o problema de fundo mantém-se: a Europa continua a não existir. Ainda ontem a marinha italiana resgatou mais 220 emigrantes ilegais, sendo certo que o fluxo diário vai aumentar e agravar-se com o bom tempo dos próximos meses de Verão. Até quando?

Uma fortaleza chamada Europa


Aceitar apenas 5 mil imigrantes por ano é pouco. Muito pouco. 


Ontem voltamos à normalidade. Depois das declarações de choque dos chefes de governo da União Europeia sobre o desastre que vitimou mais de 900 imigrantes ilegais desesperados no Mediterrâneo, voltamos à normalidade das declarações redondas, meio vazias e opostas a qualquer decisão firme.

Omomento pedia uma Europa solidária que resgatasse a superioridade moral perdida no tempo, mas o resultado final preparava-se para ser, no fecho desta edição, uma mão cheia de quase nada.

Em cima da mesa dos líderes europeus que se reuniram ontem à noite de emergência em Bruxelas estava a abertura para receber apenas 5 mil imigrantes por ano – medida claramente insuficiente face à dimensão do êxodo migratório africano. São mais de 400 imigrantes ilegais por mês, mais de 1600 só nos primeiros quatros meses de 2015. Em 2014 apenas, mais de 150 mil pessoas tentaram entrar no continente europeu dessa forma. E no último ano e meio morreram tantas pessoas como aquelas que os líderes europeus querem agora deixar entrar – o que implica que a Europa só deverá aceitar um em cada 30 dos imigrantes desesperados que tentam escapar à pobreza e aos conflitos militares que devastam a Líbia, a Síria ou o Iémen.

É pouco. Muito pouco. E implica reconhecer uma política de portas fechadas. Bastava ouvir os líderes europeus à chegada ao Conselho para percebermos que não há abertura para discutir uma política de imigração comum – como se impõe. É verdade que a União Europeia (UE) está a atravessar uma crise económica que deixou mais de 24 milhões de pessoas no desemprego. E é óbvio que isto provoca problemas políticos na opinião pública de cada estado-membro da UE para impor uma política de imigração demasiado expansiva. Mas daí a aceitar apenas 5 mil mil pessoas por ano, repatriando mais de 150 mil que tentam entrar através do Mediterrâneo, transforma oficialmente a Europa numa fortaleza praticamente impenetrável. É necessária uma política mais pragmática.

A prova de que os dirigentes europeus não estão interessados nessa política é o foco que Angela Merkel e outros dirigentes colocaram à entrada para a reunião do Conselho Europeu no combate à imigração ilegal e aos grupos criminosos que exploram o desespero dessas pessoas para ganhar dinheiro. Admitir acções militares contra esses grupos não é uma solução para o problema. Pode atenuá-lo, mas não resolverá nada.

Já aumentar os fundos disponíveis para a vigilância naval do Mediterrâneo, ajudando a Itália com meios militares de outros países da União Europeia (a Grã-Bretanha já disponibilizou esses meios), parece ser a única medida claramente positiva. É de facto a única maneira de evitar mais tragédias como a do último fim-de--semana. Mas o problema de fundo mantém-se: a Europa continua a não existir. Ainda ontem a marinha italiana resgatou mais 220 emigrantes ilegais, sendo certo que o fluxo diário vai aumentar e agravar-se com o bom tempo dos próximos meses de Verão. Até quando?