Não se trata de um programa, como ficou dito. Trata-se de uma proposta subscrita por um grupo de economistas que pode ou não vincular o programa do Partido Socialista. Entendamo-nos, portanto.
Os 12 magníficos reuniram-se, pensaram em conjunto, reflectiram sobre o país e o seu futuro e alvitraram soluções.
O Dr. Costa pedia-lhes um outro caminho, diferente do do actual governo, farto como estava de se fingir de morto e de desconversar quando lhe pediam alternativas, cansado como estava de procurar dentro do seu partido quem as sugerisse.
Aliás, era difícil a tarefa e não parecia promissora. Dois documentos anteriores, a “Agenda para a Década” e as “55 Propostas”, passaram perante a indiferença geral e o Dr. Costa precisava urgentemente de alguma coisa que aproximasse o povo do Rato e o Rato do povo.
Terá pensado que à terceira era de vez.
No rescaldo do caldo entornado grego e perante o novo texto, “Eureka”, exclamou o Dr. Costa dentro da banheira, “Achei”, espantou-se o Dr. Costa de lamparina na mão. No Dr. Costa convergiam Arquimedes e Diógenes.
É certo que o pensamento reduzido a escrito, depois de meses e meses, provinha de uma elite académica, de metropolitas, de iluminados perante a escuridão geral.
Os jornais do dia seguinte não foram muito pródigos com o acontecimento em manchetes. O professor Mário Centeno, ao apresentar as propostas, exagerando, porventura, na dose de humildade de quem se dedica ao conhecimento, foi a tradução do “só sei que nada sei”, engasgou-se com a enunciação de números capitais, precisou de um ponto (ou vários).
Diz a esquerda que este conjunto de conclusões é mais do mesmo em tom soft. Toda a direita destaca o ilusionismo das suas previsões.
Descendo ao texto, descobre-se que o Dr. Costa foi forçado a aceitar a revisão de muitas das suas afirmações próximas passadas.
Os seus apóstolos obrigaram-no a recuar em todas as suas grandes ideias.
Dizia o Dr. Costa que, quando governo, iria repor na íntegra os salários dos funcionários públicos.
Afinal a proposta é repor 40% ao ano.
Dizia o Dr. Costa que o salário mínimo devia aumentar para 522 euros já no decorrer deste ano.
Sobre isto, silêncio absoluto.
Dizia o Dr. Costa que o tema pensões era intocável.
Sugere-se agora que baixe a TSU dando mais dinheiro às pessoas no imediato, com a consequência de menores pensões no futuro.
Admite este grupo, agora, que o problema de sustentabilidade da Segurança Social fará com que as pensões sejam congeladas e plafonadas depois.
Dizia o Dr. Costa que as políticas em curso arruinavam o país, comprometeriam a baixa do desemprego, impossibilitariam a descida da dívida.
Pois bem, o cenário económico traçado pelos seus sábios é mais optimista que o do governo e de algumas instituições internacionais.
A economia cresce daqui a dois anos para os 3,1%, o desemprego baixa para quase metade (7,4%) e a dívida pública cairá para 117% já em 2019.
Parece um autêntico milagre das rosas. Mas afinal parece que o governo tinha razão na tendência apontada para a evolução da economia.
Isto é, o Dr. Costa, perante a manifesta impossibilidade de traçar um verdadeiro cenário alternativo essencial, faz do optimismo solução para conquistar o povo sofredor e procura, tal como Hollande, descobrir nichos de mercado de rendimentos sobrantes aos quais possa aplicar mais impostos.
Perante estes dados restará aos portugueses a interrogação capital: “Será o Dr. Costa seguro?”
E se a resposta for: “Tão seguro como o outro”?
Eis a questão.
Qual o verdadeiro programa do Partido Socialista? Um programa Centeno ou um programa sem tino?
A verdadeira diferença deste programa reside no seu percurso. A estrada das propostas desta maioria foi desenhada há muito tempo. Uma estrada sem buracos e sem sobressaltos.
O Dr. Costa prefere ir pelo carreiro com a ideia de chegar lá mais depressa.
Normalmente a pressa é má conselheira. Este caso, assim o prova.
Deputado do PSD
Escreve à sexta-feira