O mundo ocidental caracteriza-se por aquilo a que vulgarmente se chama democracia parlamentar. Por mim estou com Winston Churchill: “A democracia é a pior forma de governo imaginável, à excepção de todas as outras que foram experimentadas.” Mas a democracia, para lá de todos os seus vícios e defeitos, apresenta uma fragilidade notória: porque se baseia na liberdade e na tolerância, está muito exposta às ameaças exteriores e interiores.
Sistemas políticos contrários ao seu normal funcionamento, é dos livros, procuram debilitar as democracias criando anticorpos internos. Todas as ditaduras do século xx tentaram enfraquecer a moral da democracia ocidental, para mais facilmente a combaterem. A guerra psicológica foi uma das armas, mas muitas outras foram testadas com imenso êxito: foram injectadas drogas leves e pesadas na juventude, desenvolveram-se campanhas de descredibilização dos valores ocidentais, e sobretudo, entre muitas outras estratégias de guerrilha larvar, procurou-se desarmar o Ocidente, intelectualmente por um lado, militarmente por outro. A ideia foi sempre, aproveitando a permeabilidade do sistema, destruí-lo por dentro. Desvalorizando o que de essencial possui a democracia, e sublinhando ad nauseam o que outros sistemas ostentam. Muitos ditadores são elevados à categoria de heróis, e alguns governos que se baseiam na tortura, na corrupção, na maior desigualdade social, são poupados a qualquer tipo de críticas, com base nas chamadas “diferenças culturais e civilizacionais”. Não surpreende depois que apareçam partidos e movimentos xenófobos e fascizantes no interior do Ocidente.
A democracia tem vícios e fomenta alguns de forma dramática. Mas os democratas, aqueles que acreditam verdadeiramente que “a democracia é a pior forma de governo imaginável, à excepção de todas as outras que foram experimentadas”, têm de compreender que não é proclamando que todos os políticos são corruptos, que todo o sistema está contaminado, que nada se salva no actual estado de coisas, que conseguem regenerar a democracia e preservar o essencial. Claro que os maus governantes, sobretudo os corruptos, mas também os incompetentes, têm de ser punidos de uma forma ou de outra. Mas há que acreditar que se pode melhorar o que está mal e o que ainda não está bem. Senão leia “Submissão”, de Michel Houellebecq. Eu, que nunca simpatizei muito com o homem, a quem sempre reconheci, todavia, uma escrita límpida e fascinante, não me canso de citar esta inquietante “submissão”.
Escreve à sexta-feira