A tensão durava há meses e culminou ontem na demissão do secretário de Estado adjunto da Administração Interna. Fernando Alexandre bateu com a porta alegando “motivos pessoais”, mas na origem da saída, apurou o i junto de fontes do Ministério da Administração Interna (MAI), estiveram “divergências” com a ministra Anabela Rodrigues.
A relação entre o secretário de Estado adjunto, nomeado pelo ex-ministro Miguel Macedo, e a actual ministra nunca foi de proximidade. Anabela Rodrigues, contam as mesmas fontes, terá proibido os secretários de Estado de lhe telefonarem. “Para falarem com a ministra têm de pedir ao chefe de gabinete que telefone ao chefe de gabinete dela para agendar uma reunião”, contam. Este novo estilo de liderança “chocou” boa parte dos funcionários. “É a antítese da forma de trabalhar do anterior ministro, que jantava informalmente com os secretários de Estado”, conta uma das fontes do MAI.
A tensão entre Fernando Alexandre, interlocutor privilegiado do ministério com as polícias, e Anabela Rodrigues aumentou a seguir à apresentação do novo estatuto da PSP. O secretário de Estado adjunto, homem de confiança de Miguel Macedo – que se demitiu no final do ano passado na sequência do escândalo dos vistos gold –, trabalhou com o ex-ministro na elaboração dos estatutos da PSP e da GNR. Quando abandonou a pasta, Macedo deixou as propostas terminadas, faltando apenas negociá-las com os sindicatos da PSP e as associações da GNR.
Porém, contam as mesmas fontes do MAI, Anabela Rodrigues decidiu fazer alterações de fundo aos documentos – que já tinham tido o aval das cúpulas da GNR e da PSP. Foi a gota de água para Fernando Alexandre, que discordou das intenções da ministra e defendeu sempre que as propostas de Miguel Macedo não deveriam sofrer alterações. Por não ser ouvido, o secretário de Estado adjunto bateu com a porta e vai regressar ao Norte para dar aulas na Universidade do Minho.
Polícias preocupadas As polícias, em especial a PSP, não vêem com bons olhos a demissão de Fernando Alexandre. O presidente do Sindicato Nacional dos Oficiais de Polícia, Henrique Figueiredo, diz-se preocupado e defende que a saída do secretário de Estado adjunto vai “fragilizar ainda mais” a tutela. “Estava no cargo desde o tempo de Miguel Macedo, conhecia os assuntos e sempre mostrou vontade e capacidade para resolver os problemas. Saindo, a capacidade do ministério vai ficar debilitada.”
Peixoto Rodrigues, do Sindicato Unificado da Polícia (SUP), partilha a apreensão dos oficiais: “Estamos preocupados porque a equipa de Miguel Macedo tinha uma sensibilidade para as questões da polícia que esta ministra claramente não tem.” Já o presidente do sindicato mais representativo da PSP, Paulo Rodrigues. defende que a demissão de Fernando Alexandre vai complicar a negociação do estatuto. “Era uma parte importante do processo de construção da proposta”, considera o presidente da ASPP. O gabinete de Anabela Rodrigues recusou-se, ontem, a comentar a saída do secretário de Estado adjunto.