“Se morrer no mar, ao menos  não serei torturada”

“Se morrer no mar, ao menos não serei torturada”


Sofia, uma entre os milhares de refugiados que embaraçam a UE 


A Eritreia, um pequeno país entrincheirado entre o Sudão, a Etiópia e o Djibouti, no Corno de África, é talvez uma das nações que menos destaque merece nos media. Mas é daí que partem muitas das pessoas que embarcam em pequenos botes rumo à União Europeia e que, por falta de meios ou de vontade, são deixadas morrer no Mediterrâneo, no Egeu e noutras portas marítimas da Europa.

Sofia, uma entre as poucas pessoas que conseguem chegar com vida a solo europeu, saiu da Eritreia por um motivo simples:“Até de falar com a tua família tens medo”, explicou ao “Guardian”. “A pessoa ao meu lado pode ser um espião que está a monitorizar tudo o que fazemos. Há pessoas a desaparecer todos os dias.”

A seguir aos sírios, são os eritreus que compõem o maior grupo de cidadãos que fogem para a UE, no caso de Sofia através do Egipto. Segundo números recentes do ACNUR, o Alto Comissariado da ONU para os Refugiados, que é liderado por António Guterres, 37 mil eritreus pediram asilo em 38 países do continente europeu durante os últimos dez meses de 2014, contra cerca de 13 mil pedidos no período homólogo de 2013 – números que fizeram disparar o total de refugiados da Eritreia para mais de 321 mil pessoas.

O clima de repressão imposto pelo regime de Isaias Afewerki, escrutinado num relatório da ONU em Março, foi o combustível da fuga de Sofia e das outras centenas de milhares de eritreus que, na sua maioria, morrem em alto-mar. Para Sofia, esse é um preço baixo a pagar. “Morrer no mar não é um problema, pelo menos sei que não serei torturada.” Quase todos os que embarcam rumo à UE estão, como ela, dispostos a morrer por uma vida melhor. Resta saber se a UE vai ter em conta o que a sua comissária para a Política Externa, Federica Mogherini, declarou esta semana, sobre ser “nosso dever moral ajudá-las.”