Reino Unido. David Cameron rompeu com Thatcher e manteve as ideias europeias de Major

Reino Unido. David Cameron rompeu com Thatcher e manteve as ideias europeias de Major


A economia e o conflito com Bruxelas foram os principais destaques do primeiro mandato de David Cameron em Downing Street


A ascensão de David Cameron à liderança do Partido Conservador em 2005 representou uma ruptura definitiva com a política de Margaret Thatcher. Embora a Dama de Ferro não tenha deixado o lugar ao actual primeiro-ministro britânico, o Partido Conservador “voltou ao centro” por promover mais inclusão social e um conservadorismo com compaixão. O jornalista Francis Elliott afirmou ao i que “quando David Cameron foi eleito” percebeu que “era um político excepcional porque iria tentar ganhar o seu partido”.

O primeiro mandato do chefe de governo é marcado por medidas económicas que permitiram uma inversão do ciclo após a governação do Partido Trabalhista sob a liderança de Gordon Brown. Os números apontam para uma descida do desemprego, crescimento económico e controlo das contas públicas. O segundo tema mais falado nesta legislatura foi a manutenção do Reino Unido na União Europeia. Nos últimos cinco anos prometeu a realização de um referendo, que só terá efeitos em 2017. No entanto, o problema europeu não se esgota na consulta popular. A imigração proveniente dos países do Leste europeu e a transferência das decisões europeias para a Alemanha e a França endureceram o discurso do líder conservador. Francis Elliott entende que “Cameron tem de se apresentar como opositor de Bruxelas porque neste país é impossível não se ter essa posição”. O jornalista do “The Times” assegura que “o seu discurso tem sido coerente do princípio ao fim”. Contudo, a oposição interna cria uma dificuldade de gestão porque “se fizer um acordo com a União Europeia vai dividir os conservadores”.

A actual posição de David Cameron sobre o posicionamento do Reino Unido na Europa divide os especialistas que estudam o fenómeno político em terras de Sua Majestade. As opiniões divergem consoante a cor partidária que representam. Os trabalhistas dirão que David Cameron é eurocéptico, mas os conservadores entendem que se trata de dar uma oportunidade aos britânicos para escolherem o seu caminho. No final do ano passado, o antigo primeiro-ministro John Major referiu que “pela primeira vez existe uma hipótese real de o eleitorado votar a favor da saída do clube europeu”. As razões para as dúvidas de John Major prendem-se com a facilidade com que os imigrantes conseguem entrar na Grã-Bretanha. Em segundo lugar critica as “interferências diárias nas actividades e no estilo de vida britânico ao longo de várias gerações”. A aproximação de David Cameron a John Major também se deve ao facto de ambos acreditarem na qualidade dos serviços públicos, o que não acontecia com Margaret Thatcher.

POLÍTICO A carreira política de David Cameron não se esgota nas suas ideias para o desenvolvimento do país. Francis Elliott descreve o primeiro-ministro como uma pessoa “calma, relaxada, elegante, pragmática, que confia nas pessoas e não acredita em posições inflexíveis, mas faz o necessário para manter o poder”. Apesar das características positivas apontadas pelo jornalista do diário britânico, existem outros aspectos mais negativos. A arrogância e a agressividade são dois traços mantidos ao longo dos tempos, em particular quando se tornou chefe de governo. Francis Ellliott não tem dúvidas que “desde que está no poder tem sido menos charmoso”. Os debates semanais com os deputados do parlamento britânico permitem que o público conheça a sua natureza política.

MEDIA A recusa do primeiro-ministro em participar num frente-a-frente com o líder da oposição cria problemas nas relações com os órgãos de comunicação social. Francis Elliott garante que “David Cameron recusa fazer debates”. Não se trata de ter medo dos adversários políticos, mas do escrutínio resultante da sua participação nos debates televisivos. A questão não é política nem ideológica. O jornalista britânico assegura que “não se submete ao escrutínio da imprensa”. Na sua opinião, o primeiro-ministro “deveria ser mais aberto com os jornalistas”. Os especialistas afirmam que ter trabalhado como assessor de imprensa do antigo ministro do Interior britânico, Michael Howard, pode ser uma justificação da relação tensa do primeiro-ministro com os órgãos de comunicação social.

PERCURSO David Cameron é descendente do rei Guilherme IV, tendo obtido boas notas durante o seu percurso escolar. Após a universidade, o líder dos conservadores começou a trabalhar num centro de pesquisas ligados ao partido. Em 1991 trabalhou de perto com John Major e no ano seguinte foi promovido a conselheiro do chanceler do Tesouro, Norman Lamont. Conquistou a liderança do partido em Dezembro de 2005.