Todos falam e ninguém tem solução. Os programas europeus para travar os fluxos migratórios ilegais do Norte de África têm sido impotentes para evitar a chegada de milhares e milhares de pessoas que procuram na Europa refúgio para guerras, terrorismo, caos e fome. Muitos morrem no Mediterrâneo e a União Europeia mostra-se incapaz de ter respostas comuns para uma tragédia que vai continuar a acontecer nas fronteiras terrestres e marítinas da Europa. As cimeiras sucedem-se ao mesmo ritmo das declarações piedosas dos líderes europeus.
A verdade é que a União Europeia não tem política externa e dificilmente a terá. Foi assim na década de noventa, com a crise nos balcãs, foi assim na Primavera Árabe de 2011, que transformou o Norte de África, como a Líbia, e o Médio Oriente, como a Síria, num barril de pólvora com milhões a fugirem do caos e da guerra. Foi assim na Ucrânia, em que foi arrastada para um conflito a mando da Alemanha e dos Estados Unidos.
Em matéria de refugiados há dois grupos distintos. De um lado estão países como a Espanha, Itália, Malta, Grécia e Bulgária que sofrem os impactos directos da imigração ilegal, seja por terra ou por mar. Do outro estão os países do norte, como a Suécia, a Alemanha e outros que são os mais procurados pelos refugiados por oferecerem melhores condições de asilo. Todos ralham uns com os outros e ninguém apresenta solução.
Depois há o Reino Unido, que recusa mais apoios financeiros aos programas comunitários porque os traficantes sabem que homem ao mar é homem com direito a ficar na Europa e provocam naufrágios para evitar a expulsão dos imigrantes ilegais.
A União Europeia, pressionada pelos milhares de mortos no Mediterrâneo e a pressão internacional para encontrar uma solução, anda assim de quadratura de círculo em quadratura de círculo com os países com fronteiras exteriores a braços com problemas à primeira vista insolúveis. A política de porta aberta defendida por alguns encontra fortes resistências em muitos governos pressionados por partidos anti-imigração ue ganham terreno por essa Europa fora. São os casos de França, Reino Unido e Holanda, por exemplo, muito embora a Europa começa de novo a precisar de imigrantes para a economia mas também para resolver o problema da falta de natalidade e do envelhecimento das populações.
E os cristãos? Mas se a União Europeia não é capaz de resolver o problema de uma imigração maioritariamente muçulmana que foge da fome, das guerras e do caos, também é incapaz de se afirmar face ao massacre de cristãos em África e no Médio Oriente. A União Europeia não só esconde as suas raízes cristãs, como não tem posição sobre as perseguições, as mortes e o êxodo de milhares de cristãos (ver infografia sobre as comunidades cristãs no Médio Oriente).
O silêncio é total e absoluto, com excepção do primeiro-ministro britânico, David Cameron, o único nesta Eurocristã a ter coragem para afirmar na mansagem de Páscoa que a Grã-Bretanha acolhe pessoas de todas as religiões ou sem religião mas é uma nação cristã. A irrelevância da União Europeia nos grande palcos internacionais é algo que não tem solução face aos diferentes interesses em jogo no vasto universo dos 28 Estados-membros. Resolver um problema como a imigração ilegal tem sido deixada a cada um dos países que enfrenta directamemente o problema.
Para alguns, como para o ex-presidente da Comissão Europeia, a culpa é dos países que não querem interferências externas em matéria de imigração e que só pedem ajuda quando há crises graves: “Mais uma vez quero lembrar que as responsabilidades em relação, por exemplo, a ajuda a refugiados são responsabilidades nacionais. Não é uma competência da União Europeia. Eu gostava que fosse, só que os países procuram manter as suas prerrogativas nessa matéria. Só quando têm dificuldades, como é agora o caso da Itália, que recebe muitos refugiados que querem chegar à Europa, é que os países se lembram de dizer que isto deve ser dividido por todos”, lembrou ontem Durão Barroso em declarações à TSF. E assim vai a União Europeia, com o Mediterrâneo transformado num cemitério.