Bill Clinton. Jogará à defesa ou ao ataque?

Bill Clinton. Jogará à defesa ou ao ataque?


William Jefferson Blythe III foi o primeiro baby boomer a chegar à Casa Branca. Em 2016 pode estar de volta, agora na qualidade de “first gentleman” ou, bom, de “Mr. President”.


Um sinal dos tempos, e uma prova de que nunca é cedo de mais para entrar em campanha. Bill sempre manifestou o seu gosto por Big Macs, e nos anos 90 a vergonha ficou fora do enquadramento nas suas fotos em calções à porta de uma das lojas da cadeia de fast-food. Entretanto estamos em 2015 e Hillary, a senhora que se segue na corrida, foi avistada na Chipotle, uma autoridade em matéria de burritos, comida saudável, e preferência do investimento da geração milénio. O cenário perfeito para quem deve a todo o custo refutar a conotação com um certo passado, não tão distante, e marcar o passo na longa maratona que se estende até Novembro de 2016. Ainda que muitos americanos possam suspirar pelos tempos auspiciosos da Billconomics.

1993-2001 foi o intervalo de gestão reservado a Bill Clinton, o 42.o presidente dos EUA, o primeiro democrata desde Franklin D. Roosevelt a garantir um segundo mandato, e o homem que poderá regressar à Casa Branca para ocupar o papel habitualmente desempenhado pela primeira-dama, agora na condição de first gentleman (uma estreia absoluta  na história dos EUA) ou… presidente – a verdade é que se perde o respectivo assento mas não o título.

Bill conhece bem os cantos e as salas da residência oficial, algumas até bem de mais, depois do célebre episódio com Monica Lewisnky, que não chegou para demolir uma aliança afectiva, e política, que soma hoje 38 anos. “Quando ela foi eleita para o Senado por Nova Iorque disse-lhe que me tinha dado 26 anos, portanto tenciono dar-lhe agora 26 anos”, descreveu Clinton, o marido, em entrevista à BBC Newsnight, na Índia, sobre a cedência das luzes da ribalta à companheira.

No possível novo papel, enquadra a “Bussiness Insider”, Bill, de 68 anos, deverá trocar as funções ao serviço da Fundação Clinton, as lucrativas conferências (que lhe renderam mais de 100 milhões de dólares desde 2001), os mais de 3 mil compromissos globais (no valor de 98,2 mil milhões de dólares), e o impacto em mais de 180 países, por uma posição muito mais discreta em Washington, DC. Para começar, dentro da linha de contenção, nem uma palavra sobre a candidatura de Hillary, apesar de Bill nunca enjeitar protagonismos. Na sua primeira aparição pública desde o anúncio, pronunciou-se apenas sobre a investigação do cancro do ovário, uma vez homenageado por uma instituição dedicada à causa.

Há uma vida antes e depois da presidência para William Jefferson Blythe III, que nasceu a 19 de Agosto de 1946, e cresceu numa típica casa americana, pintada de branco, com a bandeira a esvoaçar, em Hope, Arkansas. O seu pai, vendedor ambulante, morreu ao volante três meses antes de Bill nascer. Quando a mãe partiu para Nova Orleães para estudar enfermagem, deixou o filho à guarda dos avós. No regresso, casou-se com Roger Clinton. Aos 15 anos, William adopta o apelido do padrasto, com um historial de alcoolismo e agressões que o jovem não esqueceria. Já em Hot Springs, pondera dedicar-se à música, toca saxofone (já no lugar mais importante do mundo haveria de tocar no The Arsenio Hall Show, e receber o rótulo de “presidente MTV”), mas acaba por se interessar pelo direito, inspirado por um encontro com John F. Kennedy, numa visita à Casa Branca, e pelo discurso de Martin Luther King. Passou por várias universidades até conhecer Hillary Rodham, também estudante de Direito, em 1971, na biblioteca de Yale. Casam-se a 11 de Outubro de 1975 e a sua filha, Chelsea, nasce cinco anos mais tarde.

Carismático, popular junto da comunidade afro-americana – a Nobel Toni Morrison chegou a considerá-lo “o primeiro presidente negro” -, diplomata pela paz, marcado pelo escândalo. Ao longo dos anos foram vários os casos extraconjugais atribuídos a Bill, incluindo Gennifer Flowers, cantora num clube nocturno, e Paula Jones, que o acusou de assédio e precipitou o “impeachment”, e ainda assim conquista a simpatia de 56% dos eleitores, segundo uma sondagem recente NBC/“Wall Street Journal”.

Abandonada a Casa Branca, correu mundo, fez parar o trânsito em diferentes destinos, escreveu 950 páginas de memórias, em 2004, ajudou a resgatar dois repórteres na Coreia do Norte, em 2009, e foi enviado especial ao Haiti depois do terramoto de 2010. “Serei essencialmente um conselheiro nos bastidores”, garante Clinton sobre os próximos tempos e o apoio à mulher, na qualidade de estratego da campanha que se avizinha. Mas poucos em Washington acreditam que “o animal político” se contentará com essa mansidão.