O Padrão dos Descobrimentos, no século xxi tem o condão de atrair derrotados. Não quero comparar as candidaturas de Fernando Nobre e de Henrique Neto. Creio, aliás, que as únicas semelhanças que têm é a escolha do local e o resultado final.
Fernando Nobre é estória. Não é história. Em matéria de eleições, suicidou-se quando, após a derrota estrondosa nas presidenciais, arranjou um lugarzinho no Parlamento, devidamente encaixado nas listas do PSD. Henrique Neto é diferente. É, no entender do próprio e de alguns amigos que sempre surgem nestas ocasiões em que nasce um D. Quixote, um exemplo de virtude. E, no brando país que somos, confesso que, não poucas vezes, estou quase a assinar por baixo.
Henrique Neto pagou 30 mil euros que devia ao fisco. E fez muito bem. A empresa de que era sócio devia mais de 433 mil euros. Henrique Neto foi constituído arguido na operação furacão, mas não foi acusado porque pagou o que devia. Ó Sócrates, pá!!!
Confessou, Henrique Neto, segundo os jornais, que tinha "consciência" de que estavam a ser criadas ou usadas empresas para aumentar os custos de uma outra de onde saiam alguns dinheiros que estavam a ser distribuídos a alguns sócios, mas não estavam a ser declarados. A operação furacão só lesou o Estado em 36 milhões. Ó Sócrates, pá!!!
Os rendimentos não declarados eram ocultados em entidades sedeadas em paraísos fiscais e no Reino Unido. Em final de 2007 Henrique Neto não sabia de nada quando a sua casa e as suas empresas foram alvo de buscas. Em início de 2008 já se lembrava da intenção da sociedade Iber Oleff – de que era sócio – de aderir a um esquema que visasse a diminuição de resultados ou lucros. Não conhecia, contudo, os pormenores. Logo de seguida pagou. Para desgosto do Juiz Carlos Alexandre, livrou-se da acusação de fraude fiscal qualificada". Ó Sócrates, pá!!!
Claro que Henrique Neto tem algum valor. Mas, não temos todos? Não sou pudico, não sou "santinho", como diz o povo a que pertenço, e sei que Henrique Neto leu Gore Vidal e acredita que "Cinquenta por cento das pessoas não votam, e cinquenta por cento não lêem jornais." Mas creio que, ao contrário de Gore Vidal, Henrique Neto espera que não sejam os mesmos.
É que, se são os mesmos, se os que não lêem jornais são os que não votam, então, os que votam e lêem jornais, perguntar-se-ão: Sócrates, o inimigo de estimação de Henrique Neto, aquele que o fez odiar o PS e pedir uma limpeza geral ao partido – ele excluído, claro – não está acusado de fraude fiscal qualificada? E se Sócrates pagar – sei bem que são uns trocos a mais, mas nada que o Santos Silva do Grupo Lena não empreste – também pode candidatar-se à Presidência da República e dizer que quer uma limpeza no PS?
Sei que Henrique Neto tem, neste momento, uma probabilidade forte de chegar aos dois por cento dos votos. E os apoiantes são ruidosos, do género dos de Marinho e Pinto e Paulo Morais, ressalvando aqui que Henrique Neto criou riqueza, da legítima, e empregos durante muitos anos. Não o confundo com outros que, condenados ou não, fugiram ao fisco, foram acusados de fraudes diversas mas são bem vistos na sociedade. Sei que muitos amigos meus gostam de Henrique Neto.
Mas, a título de contributo para a discussão de campanha, fica a pergunta: e se Gore Vidal tem razão, os que lêem jornais e, portanto, votam, continuarão a achar Henrique Neto com direito a julgar terceiros? Só porque pagou? (À especial atenção da defesa do engenheiro Pinto de Sousa).
Empresário. Escreve à terça-feira